Nando Gross

Gauchão segue modelo do futebol amador

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Gauchão segue modelo do futebol amador VAR - Divulgação - FGF

O Conselho Técnico do Campeonato Gaúcho tomou uma decisão infeliz que deixa claro o tamanho desta competição. A utilização do VAR (Árbitro de Vídeo) só será permitida a partir das quartas de final e a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) será responsável por custear a implementação dessa tecnologia. Essa medida, aprovada por unanimidade pelos representantes dos clubes, coloca o Gauchão em uma posição curiosa, alinhando-o a competições amadoras ou de divisões inferiores, onde o VAR ainda é uma novidade.

O presidente da FGF, Luciano Hocsman, justificou a decisão argumentando que a utilização do VAR em todos os jogos é inviável financeiramente para os clubes. No entanto, essa escolha levanta dúvidas sobre a competitividade e a qualidade do campeonato, especialmente em um momento em que outras competições estaduais importantes, como o Campeonato Mineiro, Carioca e Paulista, adotam o VAR desde as primeiras rodadas.

A ausência da tecnologia até as quartas de final representa um retrocesso em relação à tendência mundial de utilização da tecnologia para garantir a justiça e a imparcialidade nas partidas. Em um esporte onde decisões milimétricas podem influenciar o resultado, a presença do VAR é vista como essencial para evitar erros cruciais e controversos, além disso, já é elemento totalmente integrado à realidade do futebol.

O Gauchão segue na contramão do desenvolvimento tecnológico que tem permeado o futebol moderno. Em um cenário em que as competições buscam proporcionar um jogo mais justo e transparente, a decisão de restringir o uso do VAR prejudica a imagem e a credibilidade do campeonato gaúcho. O Gauchão é uma espécie de “patinho feio” no contexto das principais competições do Brasil.

Além da questão tecnológica, o Gauchão também segue o modelo nacional em relação à cobertura midiática, afastando profissionais do rádio da competição. Restrições quanto ao acesso ao gramado e a movimentação dos profissionais durante as transmissões mostram a tendência nacional de afastar este veículo, o maior responsável pela popularização do esporte, dos estádios de futebol.

As restrições aos repórteres de rádio, que devem trabalhar atrás das placas de publicidade até o limite da pequena área e têm limitações no pré-jogo, indicam uma postura que parece o prazer em restringir o acesso da imprensa. Isso contradiz a tendência global de promover a transparência e o envolvimento da mídia na cobertura esportiva.

Quanto ao modelo de acesso de rádios ao estádio, não está garantido para todos, segue sendo “a critério da entidade de classe definir quais os veículos serão autorizados”, uma medida que pode ser interpretada como política e pessoal, desconsiderando a pluralidade e importância do rádio esportivo na cobertura do futebol.

Lembro que, menos de um ano após sair da Rádio Guaíba, em fevereiro de 2021, criei um projeto (que se mantém até hoje) de cobertura esportiva na Rádio ABC 103,3 FM, empresa do Grupo Sinos. Transmitíamos todos os jogos normalmente, até que no dia do Gre-Nal, a Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (ACEG), comandada à época por Alex Bagé, Pedro Ernesto Denardin e Rogério Amaral (atual presidente), decidiu que não poderíamos entrar no estádio, eu (sócio desde 1985) e o narrador Daniel Oliveira (hoje na Band). E assim, por uma decisão política e de critérios pessoais, a Rádio ABC (quinta emissora de FM a transmitir a dupla Gre-Nal) foi proibida de entrar no Beira-Rio para a transmissão do clássico.

Em suma, o Gauchão 2024 se inicia com decisões questionáveis, que afetam tanto a integridade técnica do torneio, quanto a relação com a imprensa do rádio esportivo. Resta observar como essas escolhas impactarão a competitividade do Campeonato Gaúcho ao longo da temporada. Lembrando que, no final do ano passado, o presidente da FGF afirmou que a intenção em 2024 seria a utilização do VAR em todas as partidas, mas como se vê, isso não aconteceu. Hoje em dia deveria estar proibido qualquer competição de primeira divisão sem o uso desta tecnologia.

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