Nando Gross

Porto Alegre Sucateada: “temos um Rolls-Royce e deixamos fundir o motor porque não colocamos óleo”. (Francisco Milanez / Professor, pesquisador, escritor, biólogo, arquiteto e urbanista.)

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Porto Alegre Sucateada: “temos um Rolls-Royce e deixamos fundir o motor porque não colocamos óleo”. (Francisco Milanez / Professor, pesquisador, escritor, biólogo, arquiteto e urbanista.) Sebastião Melo - Foto: Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Porto Alegre foi sucateada pelo poder público. A imagem vendida nos últimos anos como a “capital da inovação” hoje surge como um verdadeiro deboche para a população. O prefeito Sebastião Melo foi cometendo um absurdo atrás do outro e sempre teve o aplauso da Câmara de Vereadores e da grande imprensa da capital. O projeto de entrega dos serviços públicos essenciais para a iniciativa privada vem sendo colocado em prática há bastante tempo no estado e em Porto Alegre.

Não bastasse o péssimo exemplo da Equatorial, privatizada pelo governo estadual, Melo vendeu a Carris para a empresa Viamão, depois de um processo de desmonte desde a administração de Nelson Marchezan Júnior. Sem investimento em peças, manutenção e cursos de profissionalização, a Carris foi entregue por uma ninharia para a Viamão e o que se vê hoje é uma piora na qualidade dos serviços prestados.

Quem esqueceu a ideia de construir um estacionamento subterrâneo na Redenção ou do processo de mutilação das árvores que desmanchou a paisagem do Parque Harmonia? Sebastião Melo acelerou licenças ambientais precárias para grandes empreendimentos, como o Loteamento Arado Velho, Loteamento Ipanema e Alphaville II, preocupação que foi manifestada por um grupo de entidades ambientalistas ao prefeito e ao Secretário Municipal do Meio Ambiente. Também há “imensa preocupação pelo enfraquecimento da pauta e da gestão ambiental de Porto Alegre”, encaminhada pelo biólogo Paulo Brack, coordenador do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá).

Neste mês de maio, chegamos ao limite da ineficiência da gestão pública de Porto Alegre, e ficou escancarado o nível de despreparo do governo municipal e o sucateamento das instituições que deveriam atuar tanto na prevenção quanto na reação a situações como a que estamos passando. E o atual prefeito sempre fez questão de dizer que sabia desses problemas, mas nunca os enfrentou. Na campanha de 2020, fez proselitismo sobre cheias e alagamentos, criticou a falta de geradores nas casas de bombas do DMAE, mas, passados quatro anos, nada foi feito, e a situação chegou a um nível de total ineficiência.

Um sistema de contenção a enchentes, considerado uma grande obra da cidade, foi jogado no lixo pela simples falta de manutenção. Como disse o arquiteto e urbanista Francisco Milanez, “temos um Rolls-Royce e deixamos fundir o motor porque não colocamos óleo”.

Chega a ser imoral e desrespeitoso com os porto-alegrenses o pedido de alguns políticos e comunicadores para que o assunto não seja politizado. A população já rejeitou essa ideia de alienação e está se manifestando de todas as formas contra a ineficiência daqueles que estão responsáveis por cuidar da cidade e das pessoas. Não há como jogar toda a responsabilidade na natureza; isso é indecente. O poder público falhou da pior forma possível, mostrando total descaso com a cidade.

Manutenção é básico, investimento em casas de bombas que funcionem em dias de alagamento deveria ser uma prioridade, não apenas durante a campanha eleitoral, mas sim durante a gestão. Tão ineficiente quanto a prevenção, está sendo a atuação dos gestores durante os eventos; não existe uma orientação para os moradores da cidade, e o que estamos assistindo neste momento é o poder público batendo cabeça, sem saber como resolver minimamente a situação e apenas dizendo que o tempo precisa colaborar.

É absurda a manutenção do atual diretor-presidente do DMAE, Maurício Loss, no seu atual cargo. Deveria ter saído no início do mês quando o trabalho se mostrou desastroso e suas orientações públicas totalmente confusas. No futebol, seria como tomar cinco a zero num clássico Gre-Nal; o técnico seria demitido ainda no vestiário depois do jogo.

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