Nando Gross

Robinho solto é um desrespeito com todas as mulheres

Change Size Text
Robinho solto é um desrespeito com todas as mulheres Robinho durante jogo do Milan, na Itália, em 25 de setembro de 2010. Foto: AFP PHOTO / VINCENZO PINTO

Não há nada mais desrespeitoso para todas as mulheres do que ver o ex-jogador Robinho livre, andando pela praia e jogando futevôlei. Ele é condenado a 9 anos de prisão na Itália por estupro coletivo de vulnerável. Os novos áudios vazados pela justiça italiana são nojentos e constrangem a justiça brasileira a tomar alguma atitude. A Justiça da Itália pediu ao governo brasileiro que o ex-jogador pague no Brasil a sentença. O Superior Tribunal de Justiça informou que, em exame preliminar, o pedido dos italianos atende aos requisitos para que seja reconhecida a sentença do país europeu, então me parece que este é o caminho.

– “É, eu comi, pô! Porque ela quis. Aonde eu forcei a mina? Eu comi a mina, ela fez chupeta pra mim e depois saí fora. Os cara continuaram lá”.

Esta frase é a admissão de Robinho sobre a noite do crime em Milão. O áudio foi gravado por escutas autorizadas pela Justiça da Itália, faz parte do processo que condenou Robinho e seu amigo Ricardo Falco a nove anos de prisão por estupro coletivo de uma mulher em 2013.

Relembre o caso

Uma mulher albanesa acusou Robinho, Ricardo Falco, Fabio Cassis Galan, Clayton Florêncio dos Santos, Alexsandro da Silva e Rudney Gomes da Silva de a terem estuprado na madrugada de 22 de janeiro de 2013 na boate Sio Cafe, onde ela comemorava seu aniversário de 23 anos. Na época, Robinho jogava pelo Milan e foi condenado em última instância a nove anos de prisão por estupro. A sentença, que confirmou a versão da vítima, passou pelas três instâncias nos tribunais da Itália, a última delas em 19 de janeiro de 2022.

A imprensa gaúcha já tratou estupro coletivo de criança com normalidade

Em 1987, Cuca, Eduardo Hamester, Fernando Castoldi e Henrique Etges, jogadores do Grêmio na época, foram condenados em caso envolvendo uma menina de 13 anos em Berna, na Suíça, em 1987. Os jogaores foram condenados à revelia a 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência.  Como o Brasil não extradita seus cidadãos, eles não chegaram a cumprir a pena. Todos voltaram para casa e a imprensa gaúcha comemorou. 

Não tínhamos democracia no país, o machismo e o racismo eram normalizados, mas o estupro coletivo de uma criança não tem época e nem regime de governo para condenar, e isto aconteceu em 1987, não está tão distante assim. Profissionais consagrados manifestaram opiniões tratando como uma “escapadinha” dos atletas e coisas ainda piores. A sociedade de hoje não convive mais com isso e o recente episodio envolvendo o técnico Cuca, no Corinthians, deixou isso muito claro.

Preservando os nomes, mostro aqui alguns dos comentários publicados em 1987 (uma rápida pesquisa no google e é fácil encontrar):

Os jogadores do Grêmio não assimilaram a mudança do fuso horário. Levaram um choque de costumes… agora é só torcer – no que acredito – que a justiça suíça faça justiça. Isto é, que ela encare o fato como realmente foi uma travessura irresponsável e de total imprevidência dos seus autores quanto a sua ilicitude e consequências”.

Zero Hora, 08/08/87.

“Pense e responda: a) Uma garota que está sendo estuprada não grita? b) se grita ninguém ouve, mesmo estando num hotel? c) havendo violência, a vítima não reage a ponto de ferir-se?”

Correio do Povo, 08/87.

“Alguns pecaram mais que outros, se é que houve pecado… O fato ocorrido no hotel de Berna é normal em quase todas as excursões, fora ou dentro do país… se os jogadores tivessem furtado praticado desordem séria ou outra atitude demasiadamente desabonatória, eu aconselharia sua eliminação do clube. Mas um deslize de ordem sexual em que, visivelmente, colaborou para sua consumação uma conduta, no mínimo, quase conivente da chamada vítima, não deve servir de amparo a uma decisão drástica”.

Zero Hora, 29/09/87

Violência? Claro que não. Ficou mais do que claro, pelo menos para mim, que não houve violência no ap.204 do hotel metrópole. Pode-se questionar, isto sim, o bom gosto dos envolvidos… Mas corres e sabores não se discute, resta dar as boas-vindas aos nossos doces devassos”.

Correio do Povo, 29/08/87

As fotos publicadas de Sandra foram mais um estímulo á imaginação: “…quem achar que a Sandrinha é bagulho que atire a primeira pedra’.

ZH, 18/08/87

“…a moça Sandra, que seduziu ou foi seduzida pelos jogadores do Grêmio…E que moça bonita a Sandra. Uma mocetona. Nem parece que tem só 13 anos. Uma mulher com aquela beleza sempre causa complicação. Até mesmo para quem casa com ela”

ZH,31/08/87.

“…uma foto vale mais que mil palavras, basta comparar a que mostra a esfuziante Sandrinha, na festa dos Young Boys, com a que revela a cara abatida dos jogadores saindo da prisão, para confirmar que, lei a parte, sofrimento moral só os quatro jogadores tiveram”.

ZH, 18/08/87.

E o recado para a esposa de Cuca? “Esta é a hora de Rejane. Se, consideradas as circunstâncias, ela revelar sensibilidade e compreensão, é porque se trata de uma Grande Mulher. Já imaginaram o Cuca conseguir o que conseguiu, telefonar, e levar outra paulada na cabeça? Não, isto não vai acontecer.’

ZH, 28/08/87.

Lembrando, a vítima era uma criança de 13 anos…

RELACIONADAS
;

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.