Matinal | Matinal News

Diário da Espera: Na Restinga, Parte I

Change Size Text
Diário da Espera: Na Restinga, Parte I Por Neila Prestes Araujo No início de março, com o avanço do vírus COVID-19, a comunidade do bairro Restinga passou a discutir a possível realidade de uma contaminação. As primeiras informações vindas por telejornal e pela internet chegam e encontram uma certa passividade. Nada parece alterar a falta de poder de escolha dos trabalhadores e trabalhadoras da comunidade. ——— 12 de março (quinta) Vou para minha última rodada mais longa pelo bairro. Estou junto de Dana Whabira (do Zimbábue) e Mitti Mendonça (sua assessora na Bienal). Estão também Rodimar e Nathalie Garcia (representantes dos Direitos Humanos da Prefeitura de Porto Alegre). Damos uma volta de carro passando por marcos simbólicos de resistência e conquistas onde encontramos lideranças locais com quem passamos um certo momento. Alguns nos acompanharam na refeição que aconteceu em minha casa e reuniu em torno de 10 pessoas. É um momento de abraços e de atenção, mas já com a presença do álcool gel. Inclusive circulavam receitas caseiras de como o produto deve ser preparado pela comunidade. 13 de março (sexta) As pessoas passam a observar, em grupos e redes sociais, as preocupações com a possível chegada do vírus ao bairro. O Instituto Federal do Rio Grande do Sul (Campus Restinga) comunica a suspensão das aulas, nas escolas as pessoas estão apreensivas e vemos as primeiras orientações oficiais chegando. Contudo, as ruas da comunidade não demonstram maiores preocupações. A vida segue com maior atenção, mas ainda tudo se passa de um jeito normal. Escolas e creches passam a pressionar o Estado e agem para esclarecer os pais sobre o risco de não haver o isolamento. O momento agrava a situação. Crimes preocupam o bairro que agora divide a atenção entre a chegada da facção dos “Bala na Cara” e o alerta de um inimigo invisível, o COVID-19. 14 de março (sábado) Meu aniversário de 50 anos. Por escolha minha as comemorações foram reservadas ao núcleo familiar mais próximo. A angústia tencionava meus pensamentos sobre uma tempestade iminente. Uma ventania soprava informações desencontradas e receitas equivocas que influenciavam a comunidade. As pessoas se perceberam em meio à desinformação. Os cuidados, tratados como histeria pelo Presidente Bolsonaro, encontravam a realidade da falta. Falta de saneamento básico, fome, carência em assistência e saúde. Tudo isso atingindo vítimas que perderam também o Bolsa Família e estão sem a carteira assinada e sem a segurança do Estado. 15 de março (domingo) O fim de semana foi tomado de uma onda de desespero e no bairro houve corridas aos mercados e farmácias por parte da comunidade. Há falta de álcool gel e/ou preços absurdos. O assunto foi o vírus. Mesmo com o debate sobre ações da Polícia Militar no grupo de whats da Segurança Pública, os participantes se fixam na desinformação. Por outro lado, regras de contenção passam a circular mais. O que se nota é que os grupos em redes sociais vão recebendo uma avalanche de dicas e normas de convívio. Elas passam a dar maior urgência ao debate. 16 de março […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

Por Neila Prestes Araujo No início de março, com o avanço do vírus COVID-19, a comunidade do bairro Restinga passou a discutir a possível realidade de uma contaminação. As primeiras informações vindas por telejornal e pela internet chegam e encontram uma certa passividade. Nada parece alterar a falta de poder de escolha dos trabalhadores e trabalhadoras da comunidade. ——— 12 de março (quinta) Vou para minha última rodada mais longa pelo bairro. Estou junto de Dana Whabira (do Zimbábue) e Mitti Mendonça (sua assessora na Bienal). Estão também Rodimar e Nathalie Garcia (representantes dos Direitos Humanos da Prefeitura de Porto Alegre). Damos uma volta de carro passando por marcos simbólicos de resistência e conquistas onde encontramos lideranças locais com quem passamos um certo momento. Alguns nos acompanharam na refeição que aconteceu em minha casa e reuniu em torno de 10 pessoas. É um momento de abraços e de atenção, mas já com a presença do álcool gel. Inclusive circulavam receitas caseiras de como o produto deve ser preparado pela comunidade. 13 de março (sexta) As pessoas passam a observar, em grupos e redes sociais, as preocupações com a possível chegada do vírus ao bairro. O Instituto Federal do Rio Grande do Sul (Campus Restinga) comunica a suspensão das aulas, nas escolas as pessoas estão apreensivas e vemos as primeiras orientações oficiais chegando. Contudo, as ruas da comunidade não demonstram maiores preocupações. A vida segue com maior atenção, mas ainda tudo se passa de um jeito normal. Escolas e creches passam a pressionar o Estado e agem para esclarecer os pais sobre o risco de não haver o isolamento. O momento agrava a situação. Crimes preocupam o bairro que agora divide a atenção entre a chegada da facção dos “Bala na Cara” e o alerta de um inimigo invisível, o COVID-19. 14 de março (sábado) Meu aniversário de 50 anos. Por escolha minha as comemorações foram reservadas ao núcleo familiar mais próximo. A angústia tencionava meus pensamentos sobre uma tempestade iminente. Uma ventania soprava informações desencontradas e receitas equivocas que influenciavam a comunidade. As pessoas se perceberam em meio à desinformação. Os cuidados, tratados como histeria pelo Presidente Bolsonaro, encontravam a realidade da falta. Falta de saneamento básico, fome, carência em assistência e saúde. Tudo isso atingindo vítimas que perderam também o Bolsa Família e estão sem a carteira assinada e sem a segurança do Estado. 15 de março (domingo) O fim de semana foi tomado de uma onda de desespero e no bairro houve corridas aos mercados e farmácias por parte da comunidade. Há falta de álcool gel e/ou preços absurdos. O assunto foi o vírus. Mesmo com o debate sobre ações da Polícia Militar no grupo de whats da Segurança Pública, os participantes se fixam na desinformação. Por outro lado, regras de contenção passam a circular mais. O que se nota é que os grupos em redes sociais vão recebendo uma avalanche de dicas e normas de convívio. Elas passam a dar maior urgência ao debate. 16 de março […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.