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Diário da espera, por Lara Hausen Mizoguchi

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Diário da espera, por Lara Hausen Mizoguchi Acorda, café da manhã, estrada, trabalha, almoça, trabalha, estrada, prepara jantar, janta, assiste um filme, dorme, acorda, café da manhã, estrada, trabalha, almoça, trabalha, estrada, encontra os amigos, volta pra casa, dorme, acorda, café da manhã, estrada, trabalha, almoça, trabalha, estrada, assiste ao anúncio do primeiro ministro explicando que todos os lugares não essenciais devem ser fechados à meia-noite, dorme, acorda, toma café da manhã, faz compras, almoça, escuta a fala do presidente informando o início do confinamento, estamos em guerra, fica em casa, f i c a e m c a s a , f  i  c  a  e  m  c  a  s  a. O primeiro dia de quarentena foi de muita leitura: El País, Le Monde, Folha, O Globo, New York Times, Zero Hora, Correio do Povo, The Guardian. Arrisquei até mesmo o Corriere Della Sera, mesmo sem saber italiano. Foi, também, de muito contato com a família e com amigos: horas e horas passadas no WhatsApp. Devo ter ficado metade do meu dia conectada. Entendo, então, que a primeira lição do confinamento é a necessidade de me desligar um pouco. Aos poucos, encontro meu ritmo de quarentena. Yoga virtual com amigos espalhados nos quatro cantos da França, assim como aulas de salsa (uma das melhores descobertas desses tempos), dadas por uma amiga que está em Marseille. Me dou conta que não sei onde fica a maioria dos países. Descubro um site em que posso aprender isso através de um joguinho. Agora, sei onde fica o Turcomenistão – aquele em que o presidente ditador determinou que é proibido falar sobre o coronavírus – e a Bielorrússia – onde praticamente nenhuma medida foi tomada para combater a pandemia -, por exemplo. Me coloco como meta voltar a correr (fazia uns dois anos que tinha parado), e fazer 5km em 30 minutos. Guillaume, meu companheiro, e eu também começamos um desafio de 30 dias de exercícios físicos. No primeiro, já queríamos desistir. Mas continuamos. Vemos filmes, muitos filmes, documentários e ficções, antigos e novos, dramas e comédias. Estou participando da equipe que faz a seleção de filmes para um festival de documentários brasileiros que vai acontecer em Paris, então também ocupo meus dias vendo as obras dos meus conterrâneos. Tem dias em que o sofá parece ter a forma do meu corpo. Me sinto mal, mas ao mesmo tempo me dou conta que não há problema algum. Posso aproveitar esses dias para descansar também. Começo a ler um livro, “Panthère des Neiges”, de Sylvain Tesson. Estabeleço conexões entre o momento de vigia relatado no livro – Sylvain conta a viagem que fez para a Ásia com outras três pessoas em busca da pantera das neves, um animal que o mundo pensa que está em extinção -, e nosso confinamento. Compartilhamos esse momento de longa espera, apenas observando e entendendo o que se passa ao redor. Como havíamos nos mudado há pouco tempo, ainda não tínhamos conseguido organizar o apartamento. Depois do primeiro fim de semana de confinamento, nossa casa passa […]

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