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É hora de ser antirracista

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É hora de ser antirracista Por Marcela Donini* Não há nenhum jornalista preto na redação da Matinal. Não foi hoje, ontem nem nesta semana que nos demos conta disso, mas a força da atual mobilização do movimento negro me estimulou a escrever a respeito. Assim, quem sabe, podemos enriquecer a reflexão que se faz por aqui desde o início do projeto, ao qual me uni em fevereiro.  Não é difícil explicar o perfil da nossa redação. Chegamos até aqui carregados por uma série de privilégios – que se resumem ao fato de que não é a cor da pele a raiz das dificuldades na vida dos brancos. Reconhecer a branquitude como privilégio faz parte do processo de se tornar antirracista, como defende a escritora Djamila Ribeiro no seu Pequeno Manual Antirracista. Apoiada no pensamento do professor Silvio Almeida, a filósofa nos ensina que o racismo não se trata de um posicionamento individual, mas de um problema estrutural.  Esse racismo estrutural explica a discrepância entre negros e brancos entre os entrevistados** e autores de conteúdos publicados na Parêntese, nossa revista semanal. Em maio, o diretor administrativo do Grupo Matinal, Ângelo Chemello Pereira, concluiu um levantamento de gênero e raça nas primeiras 24 edições da publicação. Contabilizamos 17 entrevistados brancos, 6 negros e 1 indígena – oito mulheres. De 23 reportagens publicadas, apenas 4 foram assinadas por repórteres negros, Renato Dornelles e Amanda Hamermüller, autores de duas matérias cada um. Dos 24 ensaios fotográficos, todos foram feitos por brancos. Na outra ponta da balança, temos os cronistas José Falero e Nathallia Protazio, ambos negros. Falero escreve desde a primeira edição da Parêntese, e Protazio escreveu 8 vezes nessas 24 edições analisadas. Mas não foi o suficiente para a conta geral nos orgulhar. O levantamento apontou que 87% dos autores e entrevistados da Parêntese são brancos. Como escreve Almeida no livro Racismo Estrutural, “o silêncio nos torna ética e politicamente responsáveis pela manutenção do racismo”. É esse silêncio que quebramos hoje. Afinal, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Queremos assumir esse compromisso com nosso público. Nas nossas discussões sobre pauta, temos reforçado a importância de ouvir fontes negras. Existem bancos como o Catálogo Intelectuais Negras Visíveis e o Guia de Fontes Negras para ajudar jornalistas a encontrar especialistas pretos e pardos – que, aliás, não devem ser ouvidos apenas sobre temas como racismo ou negritude. Mas, além de diversificar as vozes em nossas matérias, gostaríamos de uma equipe mais plural. Não queremos que o Paulo Trindade, nosso executivo de contas, seja o único negro a participar das reuniões da Matinal. A partir de hoje, encorajamos jornalistas freelancers negros e indígenas a enviarem sugestões de pauta. Escritores e outros profissionais não brancos: escrevam para nós ([email protected]). Queremos contar com mais fotógrafos negros, como o freelancer Omar Freitas, autor das belas imagens que ilustraram a reportagem sobre os clubes sociais negros na edição passada da Parêntese.  Ser antirracista é um dever de todos. Pela natureza do trabalho do jornalismo, esse deveria ser um compromisso constante, afinal, é nossa missão enriquecer […]

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Por Marcela Donini* Não há nenhum jornalista preto na redação da Matinal. Não foi hoje, ontem nem nesta semana que nos demos conta disso, mas a força da atual mobilização do movimento negro me estimulou a escrever a respeito. Assim, quem sabe, podemos enriquecer a reflexão que se faz por aqui desde o início do projeto, ao qual me uni em fevereiro.  Não é difícil explicar o perfil da nossa redação. Chegamos até aqui carregados por uma série de privilégios – que se resumem ao fato de que não é a cor da pele a raiz das dificuldades na vida dos brancos. Reconhecer a branquitude como privilégio faz parte do processo de se tornar antirracista, como defende a escritora Djamila Ribeiro no seu Pequeno Manual Antirracista. Apoiada no pensamento do professor Silvio Almeida, a filósofa nos ensina que o racismo não se trata de um posicionamento individual, mas de um problema estrutural.  Esse racismo estrutural explica a discrepância entre negros e brancos entre os entrevistados** e autores de conteúdos publicados na Parêntese, nossa revista semanal. Em maio, o diretor administrativo do Grupo Matinal, Ângelo Chemello Pereira, concluiu um levantamento de gênero e raça nas primeiras 24 edições da publicação. Contabilizamos 17 entrevistados brancos, 6 negros e 1 indígena – oito mulheres. De 23 reportagens publicadas, apenas 4 foram assinadas por repórteres negros, Renato Dornelles e Amanda Hamermüller, autores de duas matérias cada um. Dos 24 ensaios fotográficos, todos foram feitos por brancos. Na outra ponta da balança, temos os cronistas José Falero e Nathallia Protazio, ambos negros. Falero escreve desde a primeira edição da Parêntese, e Protazio escreveu 8 vezes nessas 24 edições analisadas. Mas não foi o suficiente para a conta geral nos orgulhar. O levantamento apontou que 87% dos autores e entrevistados da Parêntese são brancos. Como escreve Almeida no livro Racismo Estrutural, “o silêncio nos torna ética e politicamente responsáveis pela manutenção do racismo”. É esse silêncio que quebramos hoje. Afinal, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Queremos assumir esse compromisso com nosso público. Nas nossas discussões sobre pauta, temos reforçado a importância de ouvir fontes negras. Existem bancos como o Catálogo Intelectuais Negras Visíveis e o Guia de Fontes Negras para ajudar jornalistas a encontrar especialistas pretos e pardos – que, aliás, não devem ser ouvidos apenas sobre temas como racismo ou negritude. Mas, além de diversificar as vozes em nossas matérias, gostaríamos de uma equipe mais plural. Não queremos que o Paulo Trindade, nosso executivo de contas, seja o único negro a participar das reuniões da Matinal. A partir de hoje, encorajamos jornalistas freelancers negros e indígenas a enviarem sugestões de pauta. Escritores e outros profissionais não brancos: escrevam para nós ([email protected]). Queremos contar com mais fotógrafos negros, como o freelancer Omar Freitas, autor das belas imagens que ilustraram a reportagem sobre os clubes sociais negros na edição passada da Parêntese.  Ser antirracista é um dever de todos. Pela natureza do trabalho do jornalismo, esse deveria ser um compromisso constante, afinal, é nossa missão enriquecer […]

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