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Não é cedo demais, governador?

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Não é cedo demais, governador? Por Marcela Donini*Eu sou um dos 5.914 bebês nascidos em Pelotas em 1982. Posso ouvir você pensando: “e daí?” E daí, caro leitor, que pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UfPel) acompanharam essa turma por 30 anos. Em 2012, voltei à minha cidade natal exclusivamente para realizar exames e responder uma série de perguntas para esse que é o primeiro grande estudo epidemiológico feito no Brasil — e que se tornou referência mundial, aliás. Talvez por isso, quando eu li que a UfPel lideraria um levantamento inédito no país para estimar a prevalência de coronavírus na população, a começar pelo RS, minhas expectativas foram lá em cima. Desde então, estou atenta às manifestações do reitor Pedro Hallal. E, portanto, preocupada. Para quem perdeu a noção do tempo por causa da quarentena, relembro: não chegamos a completar um mês de fechamento do comércio no RS. O decreto de Leite começou a valer para todo o Estado em 1º de abril. De lá pra cá, o governador já liberou atividades comerciais no interior do Estado — acabou cedendo à pressão e deu a mesma permissão aos prefeitos da Serra um dia depois de dizer que a região seguiria sob as mesmas restrições da Capital e região metropolitana. Nesta semana, Leite anuncia que partiremos para um modelo de distanciamento controlado. Afirma que uma série de critérios serão considerados e que já há informações sobre o comportamento do vírus para tanto. Eu confio mais em Hallal, que diz que não conhecemos o suficiente (leia a entrevista que ele concedeu ao Jornal do Comércio e que destacamos na edição de hoje da Matinal News). Outros especialistas também alertam para a necessidade de se manter o isolamento horizontal. Em entrevista à Agência Pública, a microbiologista Natália Pasternak chama a atenção para o fato de não ser possível localizar bem, portanto nem isolar, os vulneráveis. Há muitos infectados em todas as idades. No RS, as faixas etárias com mais casos confirmados são de 30 a 39 anos e de 40 a 49. O cenário dominado pelo coronavírus muda rapidamente. Três semanas atrás, Bagé registrava um surto da doença. Depois foi a vez de Caxias demandar atenção como a cidade do interior com maior número de casos. Hoje Passo Fundo assume a posição e atrai os holofotes com um pico de notificações e óbitos. Exatamente um mês atrás Porto Alegre registrava a primeira morte por Covid-19 no Estado. Hoje são 29 mortos. Ainda que a velocidade com que o vírus avança por aqui seja menor do que em outras regiões do Brasil, a situação vai piorar. Temos todo o inverno pela frente, época de alta nas internações por doenças respiratórias, tendência que já dá as caras na Capital. Menos de um mês atrás manchetes dos portais tratavam do embate entre economia e saúde e muitos artigos chegavam à conclusão — atestada por estudos científicos — de que se trata de um falso dilema. Parece que voltamos à estaca zero, lá quando não havia mortes no RS e ainda […]

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Por Marcela Donini*Eu sou um dos 5.914 bebês nascidos em Pelotas em 1982. Posso ouvir você pensando: “e daí?” E daí, caro leitor, que pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UfPel) acompanharam essa turma por 30 anos. Em 2012, voltei à minha cidade natal exclusivamente para realizar exames e responder uma série de perguntas para esse que é o primeiro grande estudo epidemiológico feito no Brasil — e que se tornou referência mundial, aliás. Talvez por isso, quando eu li que a UfPel lideraria um levantamento inédito no país para estimar a prevalência de coronavírus na população, a começar pelo RS, minhas expectativas foram lá em cima. Desde então, estou atenta às manifestações do reitor Pedro Hallal. E, portanto, preocupada. Para quem perdeu a noção do tempo por causa da quarentena, relembro: não chegamos a completar um mês de fechamento do comércio no RS. O decreto de Leite começou a valer para todo o Estado em 1º de abril. De lá pra cá, o governador já liberou atividades comerciais no interior do Estado — acabou cedendo à pressão e deu a mesma permissão aos prefeitos da Serra um dia depois de dizer que a região seguiria sob as mesmas restrições da Capital e região metropolitana. Nesta semana, Leite anuncia que partiremos para um modelo de distanciamento controlado. Afirma que uma série de critérios serão considerados e que já há informações sobre o comportamento do vírus para tanto. Eu confio mais em Hallal, que diz que não conhecemos o suficiente (leia a entrevista que ele concedeu ao Jornal do Comércio e que destacamos na edição de hoje da Matinal News). Outros especialistas também alertam para a necessidade de se manter o isolamento horizontal. Em entrevista à Agência Pública, a microbiologista Natália Pasternak chama a atenção para o fato de não ser possível localizar bem, portanto nem isolar, os vulneráveis. Há muitos infectados em todas as idades. No RS, as faixas etárias com mais casos confirmados são de 30 a 39 anos e de 40 a 49. O cenário dominado pelo coronavírus muda rapidamente. Três semanas atrás, Bagé registrava um surto da doença. Depois foi a vez de Caxias demandar atenção como a cidade do interior com maior número de casos. Hoje Passo Fundo assume a posição e atrai os holofotes com um pico de notificações e óbitos. Exatamente um mês atrás Porto Alegre registrava a primeira morte por Covid-19 no Estado. Hoje são 29 mortos. Ainda que a velocidade com que o vírus avança por aqui seja menor do que em outras regiões do Brasil, a situação vai piorar. Temos todo o inverno pela frente, época de alta nas internações por doenças respiratórias, tendência que já dá as caras na Capital. Menos de um mês atrás manchetes dos portais tratavam do embate entre economia e saúde e muitos artigos chegavam à conclusão — atestada por estudos científicos — de que se trata de um falso dilema. Parece que voltamos à estaca zero, lá quando não havia mortes no RS e ainda […]

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