Conexão Elon Musk–Porto Alegre
No dia 7 de abril, o vice-prefeito Ricardo Gomes e os deputados do partido Novo Marcel Van Hattem (federal) e Felipe Camozzato (estadual) publicaram uma foto com o jornalista Michael Shellenberger, que estava em Porto Alegre para participar do Fórum da Liberdade.
Shellenberger é o cara do Twitter Files Brazil. O jornalista de GZH Rodrigo Lopes contou os bastidores de sua vinda para cá. Publicadas quando ele já estava na capital gaúcha, as informações contidas em arquivos liberados pela plataforma, segundo o jornalista, provariam que a liberdade de expressão estaria em risco no Brasil por manobra do Supremo Tribunal Federal. “Alexandre de Moraes e outros funcionários do governo ameaçaram processar criminalmente o advogado do Twitter no Brasil se ele não entregasse informações privadas e pessoais”, afirmou o jornalista.
Mas não era bem isso. Não era nada disso, na verdade.
A principal denúncia feita por Shellenberger foi desmentida na terça-feira pela advogada Estela Aranha, no X (antigo Twitter). Ela explica que “a troca de emails dos funcionários do Twitter que ele (Shellenberger) publica refere-se a uma ação do GAECO do Ministério Público de SP, que pede acesso a dados cadastrais, no seu poder legal de requisição, visando prender uma liderança do PCC em uma ação contra o tráfico de drogas”. Veja a explicação completa aqui.
O próprio Shellenberger se corrigiu e pediu desculpas. “Não tenho provas de que Moraes tenha ameaçado processar criminalmente o advogado brasileiro do Twitter”, escreveu no X.
Mas o estrago já estava feito.
Elon Musk já tinha ameaçado descumprir ordens judiciais, provocando Moraes, armando um circo perfeito para a imprensa, o ministro e o governo darem ao bilionário a atenção que ele queria (sobre os interesses de Musk no Brasil e como ele saiu ganhando com a treta, recomendo a coluna de Ronaldo Lemos na Folha). Tudo sob os aplausos entusiasmados da direita, que conseguiu levar Shellenberger para uma audiência pública no Senado ontem.
A correção da desinformação espalhada por Shellenberger ficou restrita a um comentário no meio de um fio no seu perfil no X – contava com 111,5 mil visualizações no fechamento deste texto. Só um post do Van Hattem, segundo deputado federal mais votado no RS, tinha mais do que o dobro – a publicação divulga o abaixo-assinado criado por ele, Camozzato e Gomes contra a “censura”, depois que, segundo o trio, “Michael Shellenberger revelou para todos que sabemos muito pouco sobre o que está acontecendo no Brasil”.
Como disse Estela Aranha: “existe um famoso método usado na propaganda política, de causar um enorme buzz, disseminando acusações sem base fática, e portanto sem provas, e depois se desculpar pelo equívoco”.
No aguardo das retratações das autoridades que estão encantadas com a bravura de Shellenberger em denunciar a instalação da censura no Brasil. Lembrando que políticos estão entre os grandes responsáveis pela disseminação de fake news no país.
Vou esperar sentada.