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Quem te representa?

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Quem te representa? Para Lélia Gonzalez, ideia de que mulher vota em mulher é "papo furado" (Foto: Cézar Loureiro/Creative Commons)

Quer um exemplo bem prático de como a representatividade funciona? No debate da Band do domingo passado, o primeiro entre os presidenciáveis, não havia uma única pessoa negra entre os candidatos nem entre os entrevistadores. Não é uma coincidência o fato de que não se falou em políticas antirracistas.

A solução para grande parte dos problemas do Brasil passa por considerar questões de raça. Crimes violentos matam mais negros do que brancos. O desemprego é maior entre os negros. A fome é maior em lares chefiados por mulheres negras – grupo que está na base da pirâmide social. Ou seja, não é possível pensar o futuro do Brasil sem considerar também os direitos das mulheres, que são maioria também entre os informais, para dar mais um exemplo.

Se você viu o debate da Band, percebeu que as pautas feministas foram levantadas principalmente pelas candidatas e entrevistadoras mulheres. Não custa repetir: representatividade importa. Mas essa não é uma conversa simples.

Há 40 anos, Lélia Gonzalez dizia que era “papo furado” a ideia de que “mulher vota em mulher” e “negro vota em negro”. Para a intelectual, na época candidata a deputada federal pelo PT-RJ, era mais coerente a lógica do “trabalhador vota em trabalhador”. “Afinal, existem mulheres e negros que pertencem e/ou fazem o jogo da classe dominante, buscando perpetuar os privilégios dela e, ao mesmo tempo, participar desses privilégios”, justificou-se em uma entrevista publicada em 1982.

Referência para a militância feminista e para o movimento negro no Brasil, Lélia defendia que pautas feministas e antirracistas podiam muito bem ser promovidas por homens e pessoas brancas. Mas alertava: “temos que estar muito atentas, pois há muito candidato (e candidata não feminista também) por aí que, por mera demagogia eleitoreira, se diz defensor dos direitos das ‘minorias'”.

Eleições no Matinal

Acompanhar debates e sabatinas com candidatos e candidatas é uma forma de conhecer as pautas de quem está em busca do seu voto nestas eleições. Mas tão importante quanto – ou talvez até mais – é olhar para as suas trajetórias.

Na série com perfis de candidatos ao governo do Rio Grande do Sul que começamos a publicar nesta semana no Matinal, buscamos destacar não só as promessas feitas nos planos de governo das candidaturas, mas nos esforçamos em resgatar declarações e ações concretas realizadas por eles em suas atuações públicas. Hoje publicamos o quinto perfil, e segunda-feira continuamos com mais um por dia, por ordem alfabética. Há ainda outros materiais que estamos preparando para essa cobertura eleitoral e que serão lançados em breve.

Para que a gente possa ampliar o leque de pautas, é fundamental contar com a sua ajuda. Por isso eu peço, mais uma vez: se você ainda não apoia o Matinal, escolha um plano e nos ajude a aprimorar nosso trabalho.

Um convite

Queremos conhecer melhor nossos leitores e leitoras. Para isso, estamos buscando pessoas que possam participar de entrevistas individuais de 30 a 45 minutos, online, para falar sobre hábitos de consumo de notícias. Se tiver interesse, te cadastra aqui. Compartilhar esse convite também ajuda muito. Obrigada e, agora sim, um bom fim de semana 🙂


Marcela Donini é editora-chefe do Matinal Jornalismo.
Contato: [email protected]

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