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Procuram-se boas notícias

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Procuram-se boas notícias Por Marcela Donini* Não é de hoje que se cobram boas notícias dos jornalistas. Parte fundamental do nosso trabalho é fiscalizar o poder, separar o joio do trigo – e publicar o joio. Ainda assim, sempre buscamos equilibrar o noticiário. Acontece que vivemos uma tragédia global, e, por aqui, estamos no pior momento da pandemia. Nesta quinta-feira, a ocupação dos leitos de UTI da Capital passou de 90%, e em alguns hospitais já não havia mais vagas disponíveis para tratar a Covid-19. Mas haverá Gre-Nal na semana que vem. E há quem peça para reabrir escolas, academias e lojas. O pavor de quem se viu sem renda é compreensível. Mas como disse o médico Drauzio Varella na semana passada, o que quebra a economia é o vírus, não é o isolamento. Aliás, há evidências de sobra de que é falso o dilema entre saúde e economia. Tem estudo da Fiocruz, tem estudo do MIT (EUA). E tem notícia (mais uma na lista das más, sinto informar) de quem tem mais prejuízo ao reabrir no meio da pandemia do que se mantivesse as portas fechadas – em maio foi assim, e agora em julho também. “Se a gente não garantir o isolamento, a epidemia vai vir mais forte e vai provocar ainda mais recessão, e uma recessão ainda mais longa. Portanto, gastar dinheiro para proteção social agora deve ser entendido como investimento do ponto de vista econômico”, afirmou o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Medeiros, em entrevista à jornalista Renata Lo Prete em março. Março. Estamos em julho e seguimos emperrados nessa discussão. A pressão que deveria ser feita agora é pela garantia de acesso a políticas públicas que sustentem as famílias atingidas pela crise. E não pela retomada das atividades. Não é hora de estimular a circulação de pessoas nas ruas. Quando será hora? Não sabemos ainda. Há mais perguntas do que respostas sobre a pandemia, como bem observou nosso colunista Felipe Franke nesta semana. Mas o que sabemos até agora está ancorado na ciência. E é da ciência que deve vir a mais desejada de todas as notícias: a vacina contra a Covid-19, cujas atuais previsões devem ser lidas com cautela, e não euforia. Por ora, nos agarremos às boas notícias que já têm respaldo científico: distanciamento social funciona, máscara funciona, lavar as mãos funciona. Cloroquina não funciona. * Editora-chefe do Grupo [email protected]

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Por Marcela Donini* Não é de hoje que se cobram boas notícias dos jornalistas. Parte fundamental do nosso trabalho é fiscalizar o poder, separar o joio do trigo – e publicar o joio. Ainda assim, sempre buscamos equilibrar o noticiário. Acontece que vivemos uma tragédia global, e, por aqui, estamos no pior momento da pandemia. Nesta quinta-feira, a ocupação dos leitos de UTI da Capital passou de 90%, e em alguns hospitais já não havia mais vagas disponíveis para tratar a Covid-19. Mas haverá Gre-Nal na semana que vem. E há quem peça para reabrir escolas, academias e lojas. O pavor de quem se viu sem renda é compreensível. Mas como disse o médico Drauzio Varella na semana passada, o que quebra a economia é o vírus, não é o isolamento. Aliás, há evidências de sobra de que é falso o dilema entre saúde e economia. Tem estudo da Fiocruz, tem estudo do MIT (EUA). E tem notícia (mais uma na lista das más, sinto informar) de quem tem mais prejuízo ao reabrir no meio da pandemia do que se mantivesse as portas fechadas – em maio foi assim, e agora em julho também. “Se a gente não garantir o isolamento, a epidemia vai vir mais forte e vai provocar ainda mais recessão, e uma recessão ainda mais longa. Portanto, gastar dinheiro para proteção social agora deve ser entendido como investimento do ponto de vista econômico”, afirmou o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Medeiros, em entrevista à jornalista Renata Lo Prete em março. Março. Estamos em julho e seguimos emperrados nessa discussão. A pressão que deveria ser feita agora é pela garantia de acesso a políticas públicas que sustentem as famílias atingidas pela crise. E não pela retomada das atividades. Não é hora de estimular a circulação de pessoas nas ruas. Quando será hora? Não sabemos ainda. Há mais perguntas do que respostas sobre a pandemia, como bem observou nosso colunista Felipe Franke nesta semana. Mas o que sabemos até agora está ancorado na ciência. E é da ciência que deve vir a mais desejada de todas as notícias: a vacina contra a Covid-19, cujas atuais previsões devem ser lidas com cautela, e não euforia. Por ora, nos agarremos às boas notícias que já têm respaldo científico: distanciamento social funciona, máscara funciona, lavar as mãos funciona. Cloroquina não funciona. * Editora-chefe do Grupo [email protected]

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