Reportagem

Alunos da Unisinos protestam contra aumento da mensalidade acima da inflação

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Alunos da Unisinos protestam contra aumento da mensalidade acima da inflação Segundo o DCE, os campi da Unisinos, de São Leopoldo e Porto Alegre, têm hoje a metade dos alunos de uma década atrás | Foto: Rodrigo W. Blum/Divulgação

Estudantes alertam que haverá evasão e reclamam da falta de diálogo com a Reitoria. Direção informa que realizou um encontro prévio e um novo está previsto para depois do recesso

O Conselho Universitário da Unisinos aprovou, no final de novembro, um aumento substancial no custo de seus cursos de graduação. A partir de 2024, as mensalidades sofrerão acréscimo de 8,25%, um valor definido como proibitivo por estudantes. Na terça-feira, cerca de 100 alunos da universidade entregaram uma carta à reitoria, na qual pedem a revisão do reajuste. O aumento representa quase o dobro da inflação registrada no período contemplado pelo reajuste, que foi de 4,8%.

Para o Diretório Central dos Estudantes da Unisinos, o aumento vai na contramão do que se espera de uma universidade “comunitária e jesuíta” e deve contribuir para a queda ainda maior  do número de alunos. Segundo o DCE, os campi da Unisinos, de São Leopoldo e Porto Alegre, têm hoje a metade dos alunos de uma década atrás.

Diante da “situação concreta de evasão universitária”, conforme informa o diretório, alunos pedem que não se aplique o reajuste, ou que o aumento seja escalonado ao longo do ano de 2024, com garantia de descontos “substanciais” a quem quitar os boletos pontualmente – sob o risco de se “intensificar o prejuízo alegado pela reitoria como justificativa para o aumento”.

“Ano após ano aumenta a evasão e aumentam as mensalidades. Isso não é por acaso. É uma relação de causa e consequência. E para piorar, a qualidade de ensino tem sido reduzida com excesso de aulas online, com demissões de professores históricos e com fechamento dos cursos de pós-graduação que eram reconhecidamente de excelência acadêmica”, argumenta o diretório da Unisinos, em nota enviada à Matinal. A taxa de inadimplência, segundo o DCE, é alta na instituição.

Alunos do curso de medicina foram o grupo mais presente no protesto de terça-feira. É o curso mais caro da Unisinos, e o corpo discente organizou um abaixo-assinado que destaca a necessidade de revisão “justa e transparente” nas políticas de reajuste, para não comprometer a permanência dos estudantes. 

A infraestrutura da faculdade, de acordo com organizadores da petição, não condiz com o valor da mensalidade, que atualmente é de R$ 8.973,33 até o oitavo semestre e de R$ 14.062,70 a partir do nono. “Por vezes falta sabonete e água nos banheiros e apenas uma das torneiras em alguns banheiros funcionam. O ar-condicionado central não é ligado”, diz o texto, que “levanta dúvidas” sobre o destino do investimento financeiro feito por alunos e familiares.

A notícia sobre o aumento das mensalidades preocupa o corpo discente pelo encolhimento da estrutura da instituição. No ano passado, a Unisinos anunciou a extinção de 12 de seus 26 programas de pós-graduação, alegadamente pela queda no número de matrículas.

Para o doutorando Tiago Segabinazzi, embora não seja ele mesmo impactado pelo reajuste, restrito aos cursos de graduação, trata-se de outra decisão anunciada de forma vertical aos alunos. “Não há diálogo, negociação ou alternativas, apenas uma decisão que não sabemos exatamente em que se baseia e que nos pedem para acreditar. Os sentidos de ‘comunidade acadêmica’, de ‘instituição comunitária’ se perdem com isso. É uma situação difícil para todos que acreditam no ensino superior: como as universidades, que mais do que nunca precisam de alunos para se manter, podem ser desejadas pelo público se agem dessa forma?”, questiona Tiago, que é mestre pela mesma instituição e cursa o doutorado em Ciências da Comunicação, um dos programas que, a despeito de ter a nota máxima na avaliação do Ministério da Educação, está em processo de encerramento.

A Unisinos, por sua vez, argumenta que seu orçamento é “uma peça que segue rigorosos critérios de análise técnica”. A estrutura de custos e despesas, além dos “indicadores do cenário macroeconômico”, fundamentam o reajuste indicado para 2024, de acordo com nota enviada pela instituição à Matinal. “Cabe mencionar que, no ano de 2021, a Universidade não realizou reajustes, considerando o cenário econômico complexo para as famílias decorrente do período de pandemia. Além disso, o reajuste definido para o ano de 2024 se situa na faixa de valor das mensalidades adotado pelas demais universidades do Rio Grande do Sul”.

A universidade diz que mantém um espaço aberto de diálogo com os estudantes, e que realizou uma reunião prévia sobre o reajuste, com representação via DCE, na qual o diretório ouvido pela instituição. Um novo encontro, de acordo com a Unisinos, está programado para acontecer no retorno do recesso de fim de ano.


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