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Dengue se espalha em Porto Alegre e Vigilância já se preocupa com sistema de saúde

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Dengue se espalha em Porto Alegre e Vigilância já se preocupa com sistema de saúde Aedes aegypti pode colocar ovos até quatro vezes em um mês | Foto: Fiocruz

Estar atento não é mais suficiente. A situação é de alerta na saúde de Porto Alegre em razão dos números da dengue na cidade. Nas cinco primeiras semanas do ano, a capital tem número de casos e suspeitas equivalentes a 10 vezes a mais na comparação com o mesmo período do ano passado. Com prognóstico ruim, a Vigilância Sanitária admite preocupação também com o sistema de saúde. 

Embora tenha ocorrido uma diminuição nos casos de dengue em nível estadual entre 2022 e 2023, a situação em Porto Alegre apresentou um cenário contrário, com um aumento de 10% de um ano para outro. De acordo com a diretora de Vigilância Sanitária da capital, Evelise Tarouco da Rocha, a expectativa é de um aumento contínuo dos casos, uma tendência já prevista pelo órgão e que se confirma com os primeiros dados de 2024.

Conforme boletim da Secretaria Municipal da Saúde, que considera os registros até a quinta semana epidemiológica – que terminou em 3 de fevereiro –, Porto Alegre já somava 51 casos confirmados da doença e 911 suspeitos. Um ano atrás, esses dados eram de cinco diagnósticos e 95 notificações neste período. 

“A gente nunca teve neste período do ano este quantitativo de casos e o nosso índice de infestação está bem alto. Tudo indica que o cenário vai ser bem pior que o do ano passado e o de 2022”, analisou Evelise, que manifestou também preocupação com os cenários regional e nacional. “Os dados já indicam que o cenário vai ser bastante crítico.”

Risco de sobrecarga no sistema de saúde

Com tamanha preocupação, ela já antevê um cenário crítico no sistema de saúde de Porto Alegre, em razão da demanda por atendimentos. “Estamos organizando estrutura que a gente possa acionar em caso de colapso”, adiantou. Para a diretora, isso não significa que cenas como as vistas em hospitais durante a pandemia de covid-19 se repitam, mas o quadro exige adequação do sistema. “A gente acredita que não vai ser neste nível (da pandemia), mas vamos precisar de uma estrutura de saúde que possa atender as pessoas e ter pontos de hidratação”, explicou. 

Hidratação, aliás, é fundamental no tratamento à dengue – e possivelmente o desafio aos órgãos de saúde, que deverão dispor de hidratação não apenas oral mas também da aplicação intravenosa em mais pontos da cidade. Segundo Evelise, o principal perigo da dengue é a desidratação, que nem sempre é perceptível em todos os pacientes diagnosticados. “Precisamos ter estrutura, fazer diagnóstico. E ter pontos de hidratação na cidade, para que a gente possa dar esse suporte”, enfatizou.   

Mas antes do tratamento, claro, a Vigilância ressalta a importância da prevenção, a partir do combate a focos do mosquito, cujas larvas se desenvolvem em água parada. As ovas do Aedes aegypti podem ficar até um ano inativas até se desenvolverem, por isso também a importância da limpeza constante de locais. Como as fêmeas costumam desovar até quatro vezes por mês, ações semanais de dez minutos podem eliminar possíveis focos. 

Regiões mais críticas

Neste momento, o ponto mais crítico de casos fica entre o 4º Distrito e a zona norte, na divisa entre os bairros Floresta e Auxiliadora. No entanto, ao menos em uma primeira análise, a Vigilância entende que não será necessariamente ali que o foco de dengue em 2024 se concentrará. Sabe-se, contudo, que o mosquito se espalhou para outras áreas da cidade, antes menos afetadas. “Não dá pra dizer que o foco vai ser aqui ou ali. Nos últimos anos, o foco sempre foi na zona leste. Ainda imaginamos que lá vai ser o pior cenário, mas já neste início de ano, estão aparecendo casos espalhados em regiões que antes não tinha”, afirmou a diretora da Vigilância. 

“Nos últimos dois anos tivemos casos em quase todos os bairros. Mas para considerar um surto… mais de 80% dos casos foram na região leste. Esse ano ainda não sabemos onde vai se concentrar ou se vai ser espalhado mesmo”, comentou Evelise. “Temos infestações em todos os bairros da cidade e estamos tendo circulação de vírus em várias regiões, mas o que vai determinar onde será o maior volume são bairros com maior densidade populacional.”

Mapa de locais com maior concentração de casos, segundo a SMS

De acordo com o boletim, 42 dos 46 bairros monitorados estão no índice crítico, com alta infestação do Aedes aegypti. Outros três estão em alerta e um no nível moderado. Nenhum está no nível considerado satisfatório. A lista completa está disponível neste link

Além de dispor de 910 armadilhas para o mosquito espalhadas por Porto Alegre, a Vigilância Sanitária também começará a aplicar nas próximas semanas o bloqueio sanitário, com despejo de inseticida em determinadas ruas. A medida só não está em vigor agora por falta de contrato, pois, ao contrário de outros anos, a dengue começou a preocupar mais cedo em 2024.

Vereador e deputada pedem distribuição de repelentes à SMS

Em razão dos números da dengue em 2024, a deputada estadual Luciana Genro e o vereador Roberto Robaina, ambos do PSOL, encaminharam um pedido de providências à Secretaria Municipal de Saúde para que seja ampliada a distribuição de repelentes. Na argumentação, os parlamentares citaram que o plano de contingência de Porto Alegre prevê a distribuição de repelentes contra o Aedes aegypti para casos suspeitos e/ ou confirmados e como equipamento de proteção individual (EPI) de trabalhadores da saúde.


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