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Band RS mantém no ar comentarista que chamou palestinos de “animais” e pregou genocídio

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Band RS mantém no ar comentarista que chamou palestinos de “animais” e pregou genocídio "Eu tenho muito mais direito a essa terra", disse Srour na Hora Israelita. Foto: Naaman Omar, Palestinian News & Information Agency via Wikimedia Commons.

Deborah Srour voltou ao ar na edição desta semana da Hora Israelita, veiculado pela rádio Bandeirantes, e aumentou o tom de ódio contra palestinos

A Rádio Band de Porto Alegre manteve no ar a comentarista Deborah Srour, que chamou os palestinos de “animais” e defendeu seu extermínio por Israel. Deborah aproveitou a oportunidade para reafirmar, em programa da emissora mais uma vez nesta semana, que não existem civis inocentes em Gaza. Associados ao discurso de ódio, a Band, o programa Hora Israelita e a Federação Israelita do Rio Grande do Sul lavaram as mãos.

Há 10 dias, a Matinal revelou que Srour utilizou sua participação na Hora Israelita para defender que o Exército de Israel não respeitasse qualquer tipo de proporcionalidade e fosse “mortífero” contra a população de Gaza. “Não há civis inocentes do lado de Gaza”, afirmou no programa emitido pela Band no dia 15. “Se eles se comportam como animais, então Israel tem de lidar com eles como animais”.

No programa do último domingo (22), Srour voltou a pregar o genocídio. “Não sou uma judia daquelas que se dobra, que vai para o gueto calada ou como uma carneirinha para a câmara de gás. Acredito no direito de autodeterminação do meu povo, o povo judeu em sua terra ancestral e presente. Eu tenho muito mais direito a essa terra, onde os avós dos meus avós estão enterrados, e os avós deles, do que árabes que saíram da Arábia e do Egito, e se mudaram para cá no último século”, disse a correspondente, falando desde Jerusalém.

A desumanização de toda uma população e a pregação do seu extermínio não comoveram as organizações vinculadas ao comentário de Deborah Srour. A Federação Israelita do Rio Grande do Sul, que figura entre os apoiadores da Hora Israelita, limitou-se a afirmar que não responde pelo conteúdo do programa e que ele é independente. A entidade não manifestou nenhuma espécie de repúdio às opiniões emitidas no programa que patrocina e também não informou ter tomado qualquer medida em relação a elas.

A Rádio Band também tratou de se desresponsabilizar. Em nota, afirmou que as opiniões de Deborah Srour “não condizem com o pensamento editorial da empresa”, mas ressalvou que a Hora Israelita é um programa terceirizado (ou seja, a Band aluga o horário) e que “programas terceirizados são responsáveis pelo próprio conteúdo”. A legislação brasileira diz o contrário. Segundo o Código Brasileiro de Telecomunicações, as emissoras de rádio e TV são responsáveis pelo conteúdo de terceiros. A Band também afirmou ter tomado medidas internamente, mas não informou quais. A julgar pela emissão do último domingo, não estão entre essas medidas excluir o programa ou a comentarista de sua grade.

Os responsáveis pela Hora Israelita também tiraram o corpo fora. Limitaram-se a divulgar uma nota em que não se posicionam sobre o discurso de ódio de sua comentarista e em que dizem que Deborah Srour “expressa sua opinião de forma independente”. Ao postar em seu site o programa do dia 16, no entanto, os responsáveis pela Hora Israelita apagaram o comentário dela. Se isso significa que consideraram que o discurso de Deborah era racista e genocida, e portanto tinha de ser censurado, não acharam que fosse necessário tomar medidas adicionais. No programa do último domingo, 22, a comentarista estava de volta à Hora Israelita.

Ao longo de mais de uma semana, a Matinal tentou ouvir Deborah Srour sobre suas afirmações. Ela não respondeu e afirmou, por outros meios, que suas falas haviam sido tiradas de um “contexto mais amplo”. Para esclarecer tal contexto, a Matinal encaminhou novas questões à comentarista. Perguntamos em que contexto afirmar que não existem civis inocentes em Gaza não é promover discurso de ódio e não significa incitação à violência. Perguntamos também em que contexto as afirmações de Deborah não foram uma pregação racista do extermínio de uma população. Deborah Srour não se manifestou.

Com a cumplicidade da Band, da Federação Israelita e da Hora Israelita, a comentarista voltou ao ar neste domingo, 22 de outubro, e dobrou a aposta de ódio contra os palestinos. “Como qualquer pessoa normal, expressei minha opinião: de que Israel deveria exterminá-los”, afirmou Deborah Srour.”Sim, eu disse que, na minha opinião, não há inocentes em Gaza”. 

Há 2 milhões de habitantes em Gaza. Metade deles tem até 14 anos de idade. Mais de 5 mil já morreram nos bombardeios realizados por Israel. Dessas vítimas, 2,4 mil são crianças.

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