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Prefeitura não tem previsão para reabertura de novos trechos da ciclovia da Ipiranga

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Prefeitura não tem previsão para reabertura de novos trechos da ciclovia da Ipiranga Ciclovia da Ipiranga está com sete de seus nove quilômetros interditados | Foto: Tiago Medina

A reabertura parcial da ciclovia da Ipiranga, entre a Edvaldo Pereira Paiva e a João Pessoa, completou três meses na última semana. O trecho de pouco mais de dois quilômetros, porém, ainda deve permanecer como o único reaberto da via, que tem cerca de nove quilômetros. Passados quase 100 dias, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU) não trabalha com prazos para novas reaberturas no local. 

A ciclovia da Ipiranga foi parcialmente interditada em julho do ano passado, em razão da queda de um talude, na altura do Planetário – dano que permanece como está até hoje. A situação se agravou dois meses depois, outra vez por conta de efeitos de eventos extremos do clima – no caso, excesso de chuvas. Com novos desmoronamentos ao longo de sua extensão, a prefeitura fechou preventivamente toda a ciclovia em 7 de setembro. 

O trecho entre a orla e a João Pessoa reabriu em 5 de janeiro, contudo sob condições – caso seja emitido algum alerta climático da Defesa Civil, ciclistas são novamente impedidos de trafegar no ponto, tendo que dividir calçadas com as pessoas ou as pistas da avenida com os carros, a exemplo do que ocorreu no último domingo. De acordo com a Defesa Civil, foram oito alertas emitidos desde janeiro. 

Talude próximo ao Planetário desmoronou em julho de 2023 | Foto: Tiago Medina


Para a gerente de mobilidade urbana do WRI Brasil Paula Manoela Santos, o longo tempo sem a maior parte ciclovia, além de afetar quem utiliza o trecho por lazer, acarreta um desestímulo à mobilidade por bicicleta. “É natural esperar que, quando uma infraestrutura é retirada, muita gente que havia sido estimulada a pedalar vai precisar encontrar outra forma, muitas vezes, mais custosa ou mais poluente, de se locomover para suas atividades”, observou.

Com o WRI Brasil, Paula prestou apoio técnico em projetos de implementação de ciclovias em Buenos Aires, no âmbito do projeto Sistemas Seguros, que, ao longo dos seus primeiros quatro anos, até 2020, reduziu as vítimas no trânsito da capital argentina em 33%. A partir do programa, o foco tornou-se o pedestre, com  incentivo à mobilidade ativa. Até novembro do ano passado, Buenos Aires contava com 304 quilômetros de faixas para bike e era uma das cidades latino-americanas com a maior participação da bicicleta na mobilidade.

“Promover a adoção de hábitos mais saudáveis ou sustentáveis é, muitas vezes, um processo difícil, e é uma vitória quando uma cidade consegue estimular pessoas a usar a bicicleta, inclusive para substituir o uso do carro. Então, todo o tempo que a população fica sem essa infraestrutura é um tempo perdido não só para os ciclistas de hoje, mas para a formação dos ciclistas do amanhã”, acrescentou a especialista.

Maior via exclusiva para ciclistas de Porto Alegre e ligando a orla à zona leste, a ciclovia da Ipiranga funcionou a pleno apenas por três anos, considerando o tempo em que esteve aberta em toda a sua extensão até as primeiras interdições. A obra iniciou  em 2011 e atravessou as gestões José Fortunati e Nelson Marchezan. 

Prefeitura aportará R$ 20 milhões na malha cicloviária

Desde o começo das interdições, a prefeitura de Porto Alegre protocolou e viu aprovado na Câmara um projeto que autoriza empréstimo de R$ 20 milhões junto ao Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) para expansão da malha cicloviária. Inicialmente, os recursos seriam alocados em novas ciclovias e instalação de bicicletários, mas o município admitiu utilizar parte dele na reconstrução de trechos na Ipiranga.

O restante da verba será para investimentos na malha cicloviária. Passados quase cinco meses desde a aprovação na Câmara, a SMMU não informa quais os novos trechos de vias para bicicletas devem ser primeiro construídos: “Todos os projetos apresentados estão passando por uma revisão para definir quais vão receber a infraestrutura cicloviária”.

A gerente de mobilidade urbana do WRI, Paula Santos, ressaltou a importância de vias importantes também contarem com a possibilidade de tráfego por bicicleta: “Sempre que uma ciclovia é construída em um eixo importante de transporte, isso é uma vitória para a mobilidade sustentável, porque o que as pessoas querem é acessar a cidade, e a possibilidade de se deslocar por um caminho rápido e conveniente é um estímulo a esse hábito muito saudável para as pessoas e para a cidade”.

Porto Alegre tem média de 5 quilômetros de ciclovias por ano

Mapa com as ciclovias de Porto Alegre, segundo a EPTC

De acordo com a pasta, Porto Alegre conta atualmente com 86,26 quilômetros de malha cicloviária – neste link, há um mapa com a localização das vias. Nesta conta entram ciclovias (vias exclusivas para bikes), ciclofaixas (parte da pista de rolamento destinada à circulação exclusiva) e espaços compartilhados, quando há apenas sinalização para uso de bicicletas. 

Neste ano, o Plano Diretor Cicloviário de Porto Alegre, que prevê 495 quilômetros de vias para a mobilidade ativa, completará 15 anos. Considerando o período desde a aprovação do Plano até agora, a média de implementação anual de ciclovias na capital não chega a 6 quilômetros. 

A promessa do prefeito Sebastião Melo (MDB) foi encerrar o seu mandato, no fim deste ano, alcançando a marca de 100 quilômetros de ciclovias. Para chegar lá, ele terá de bater um recorde – em três anos, foram 21,8 quilômetros, menos de oito novos quilômetros por ano. 

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