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Sem alerta de evacuação, moradores de diversos bairros são surpreendidos com novos alagamentos

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Sem alerta de evacuação, moradores de diversos bairros são surpreendidos com novos alagamentos Alagamentos no Menino Deus voltaram na manhã de 23 de maio| Foto: Anna Guaragna

Depois que a água já avançava em áreas onde havia recuado, a Defesa Civil de Porto Alegre se manifestou. Assim como ocorreu no dia 6 de maio, o alerta chegou atrasado – e dessa vez, sem orientação expressa de evacuação. O órgão orientou os moradores dos bairros Menino Deus e Cidade Baixa a “monitorar” o novo alagamento e avaliar a possibilidade de saírem de casa, em especial os que residem em áreas mais baixas ou em térreos. O pedido ocorreu no início da tarde, após horas de rápida elevação da água nos bairros – inclusive de outras regiões da capital, da zona sul à zona norte. 

Mesmo após alertas de precipitação, o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, atribuiu a situação ao volume das últimas horas: “A chuva tem se intensificado nas últimas horas, além do que os modelos previam”, afirmou. Contudo, a capital tem chuva desde a madrugada e, até o início da tarde, foram 70mm de precipitação, abaixo do que citava o alerta de domingo feito pela Metsul, que mencionava a possibilidade de chuva perto ou acima de 100mm em parte do estado. “Os volumes podem ser altos no sul do estado, que enfrenta enchente da Lagoa dos Patos, e na região de Porto Alegre, que amarga há semanas a cheia do Guaíba”, dizia o aviso.

Rua Joaquim Nabuco, na Cidade Baixa | Imagem: Bruno Medeiros

Também o Instituto Nacional de Meteorologia havia emitido, ontem, alerta laranja, que sinaliza “perigo” – ampliando a sinalização para vermelho, de “grande perigo”, na manhã desta quinta. O Inmet projetava até 100mm de chuva. A possibilidade de transtornos, contudo, vem de antes. Em informativo meteorológico no dia 14 de maio, o Inmet já informava sobre o prognóstico e a possibilidade de grandes volumes de chuva. “Desta forma, o Inmet destaca a importância de acompanhar as atualizações da previsão do tempo e avisos meteorológicos especiais”, diz o texto. 

Operação parcial em casa de bomba no Menino Deus

Ao longo da manhã desta quinta, o Dmae operava com capacidade reduzida na casa de bombas 12, no parque Marinha do Brasil, que atende o bairro Menino Deus. Em vídeo encaminhado à imprensa, Loss afirmou que as equipes do Dmae seguem trabalhando para ampliar o bombeamento das casas de bombas 12, 13 e 16, que atendem o Menino Deus e a Cidade Baixa. Em outra frente, técnicos atuam na limpeza das redes. “Para tirar o material, o lodo e a areia, que acumulou de outros alagamentos”, detalhou o diretor do órgão.

A mesma justificativa declarada por Loss hoje foi usada na terça-feira pelo prefeito Sebastião Melo (MDB) – que até o começo da tarde não tinha se manifestado sobre a chuva das últimas horas. Naquele dia, o prefeito atribuiu ao excesso de chuvas o agravamento da enchente em Porto Alegre, minimizando o papel das casas de bombas. A manifestação ocorreu no dia seguinte à divulgação de documentos de 2023 que apontavam problemas em casas de bombas e embasaram denúncia ao Ministério Público por parte do deputado Matheus Gomes (PSOL).

Sobrecarga na rede

Rua Pirajá, em Ipanema, zona sul | Imagem: Moreno Osório

Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, Fernando Dornelles, aponta que a rede de escoamento deve estar sobrecarregada, o que ocasionaria os alagamentos na região do Menino Deus e Cidade Baixa, registrados desde a manhã. Uma moradora do Menino Deus relatou o alagamento à Matinal no começo da tarde. “A água subiu muito mais rápido, já está quase na metade da segunda quadra da rua Botafogo, onde fica minha casa”, disse Anna Guaragna. “Tem uma diferença do outro alagamento, esse tem ‘correnteza’ e vem de todas as direções.” Na Cidade Baixa, moradores de algumas ruas já deixavam suas casas antes do meio-dia.

O relato, contextualiza Dornelles, respalda o entendimento de sobrecarga na rede. Na véspera, o Menino Deus já apresentava alagamento à tarde, por conta de uma paralisação emergencial na casa de bombas 16, conforme explicou o Dmae. A partir da situação observada na avenida Praia de Belas, ao norte do arroio Dilúvio, Dornelles sugere que se trata de um movimento de recirculação da água, sendo originada do Dilúvio e jogada de volta no Guaíba pela casa de bombas número 16, que fica na Rótula das Cuias. Esta água, porém, está voltando ao Dilúvio. 

No bairro, há uma confluência de fatores nas últimas horas. Analisando as cenas vistas na quarta e o mapa cadastral de canalização do bairro, Dornelles apontou que a água que retornou da rede pluvial na Praia de Belas pode ser decorrência de uma tubulação conectada diretamente no arroio. Com o nível alto do Dilúvio, a água pode estar entrando por ela e, como a casa de bombas 16 interrompeu momentaneamente sua operação, os extravasamentos começaram a ocorrer, o que explica os registros de água saindo de bueiros já na quarta.

Lixo acumulado

Outro complicador do alagamento desta quinta é o acúmulo de lixo. Após dois dias de tempo estável, moradores deixaram entulhos nas calçadas para serem recolhidos pelo DMLU. Muitos desses resíduos agora estão boiando nas ruas dos bairros. Nesta terça estava prevista uma força-tarefa de recolhimento de resíduos no Centro, Menino Deus e Cidade Baixa. 


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