Empresário pediu apoio a protesto golpista em Porto Alegre, admite associação

Veículos da Associação Força Tarefa da Serra Gaúcha, com sede em Gramado, deram suporte aos manifestantes bolsonaristas nos últimos dois finais de semana; Vereadora Comandante Nádia foi denunciada ao MPF

Dois veículos da Associação Força Tarefa Serra Gaúcha, uma Doblô e um caminhão, estão servindo de apoio aos manifestantes que pedem “intervenção federal” e bloqueiam ruas do Centro de Porto Alegre, nos últimos dois finais de semana. O presidente da associação, Jorge Luis Trindade Moreira, disse à reportagem do Matinal que presta apoio no local a pedido de um empresário que recusou identificar. 

O bloqueio é feito por um grupo de apoiadores do atual presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas eleições, segue acampado na Avenida Padre Tomé, que está fechada para o trânsito de veículos no trecho entre as ruas Siqueira Campos e Andradas, mesmo após o Ministério Público Federal (MPF) cobrar ações da Prefeitura para desobstruir as ruas e identificar as lideranças da manifestação, que não reconhece o resultado das eleições. 

Ao pedido de respostas, a gestão Melo respondeu que não havia impedimento no trânsito e que não conseguiu identificar as lideranças do acampamento. Os atos com bloqueios de vias e estradas são considerados ilegais pelo Superior Tribunal Federal (STF). O artigo 286 do C´ódigo Penal prevê pena de prisão a quem incita, publicamente, a prática de crime.

A Brigada Militar chegou a pedir a saída dos manifestantes. Os policiais não usaram da força, e o protesto se mantém.  

De acordo com o presidente da Força Tarefa Serra Gaúcha, a entidade presta apoio voluntário. “Atendemos um rapaz do PT que foi atropelado. Não estamos fazendo manifestação nenhuma, até porque somos neutros. Apenas ajudamos quem está no local, independentemente de viés político. Não estamos pedindo intervenção militar, não somos liderança nenhuma”, disse Moreira.

 A Força Tarefa tem sede em Gramado e diz prestar atendimento “desde que haja necessidade para a segurança pública do Estado”. A associação informou um PIX para depósito das contribuições na sua página no Facebook.

Vereadores denunciam participação de ONGS em atos golpistas

Vereadores do bloco de oposição em Porto Alegre sugerem que ONGs de fachada têm servido para mediar o apoio de empresários nos atos golpistas. “Os indícios são muitos, e levam a inquéritos cíveis, de indenização por danos causados, penais e de direitos trabalhistas”, alertou o vereador petista Leonel Radde, eleito deputado estadual.

Na última quarta-feira, Radde e outros nove vereadores de oposição denunciaram ao Ministério Público Federal a participação da vereadora Comandante Nádia (PP) nas manifestações antidemocráticas. Eles encaminharam um documento que mostra uma assessora da parlamentar pedindo autorização à Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) para instalar banheiros químicos no entorno do Comando Militar do Sul (CMS). O pedido da assessora foi feito no dia 3 de novembro e afirma que o acampamento ocorre por “livre e espontânea vontade do povo”.

A denúncia aponta Comandante Nádia como liderança das manifestações antidemocráticas e pede que se investigue as atuações da EPTC, da Procuradoria-Geral do Município (PGM) e do prefeito Sebastião Melo (MDB), que podem ter prevaricado ao omitirem conhecimento sobre a organização dos atos. Na última segunda-feira, o MPF cobrou ações da Prefeitura contra os bloqueios golpistas.

“Deve acontecer urgentemente a responsabilização da Prefeitura, de secretários e prefeito, da vereadora e da assessora. Há um vasto rol de crimes sendo cometidos com a complacência da Prefeitura e com a participação de parlamentares. Terão de responder judicialmente. (As autoridades municipais) Deveriam ter ao menos apontado as entidades que entraram oficialmente requisitando serviços para os atos”, disse Radde, um dos vereadores que assina a denúncia e que têm abastecido investigação do MPF sobre lideranças e financiadores das manifestações antidemocráticas nas estradas e em frente a quartéis. Contatado, o MPF respondeu apenas que “as denúncias estão sendo investigadas e apuradas”.

A solicitação da assessora Dora Bertolucci foi encaminhada pela EPTC para o Escritório de Eventos da Prefeitura. Em nota enviada ao Matinal pela secretaria de Mobilidade, a Prefeitura diz que “a lei em vigor não prevê emissão deste tipo de licença em caso de manifestação/ato público, diferentemente do que ocorre para eventos. Por se tratar de manifestação, não foi emitida autorização por parte da SMMU/EPTC/SMDET”. 

O bloco de oposição entende que a Comandante Nádia pode ter ferido o Código de Ética Parlamentar, ficando suscetível de cassação. A denúncia foi assinada pelos vereadores Aldacir Oliboni (PT), Daiana Santos (PCdoB), Giovani e Coletivo (PCdoB), Jonas Reis (PT), Karen Santos (PSOL), Laura Sito (PT), Leonel Radde (PT), Matheus Gomes (PSOL), Pedro Ruas (PSOL) e Roberto Robaina (PSOL). 

Consultado, o MPF respondeu apenas que “as denúncias estão sendo investigadas e apuradas”. O Matinal entrou em contato com a vereadora Comandante Nádia, que não havia respondido até o fechamento desta reportagem.