Reportagem

Regiões mais vulneráveis da capital registram deslizamentos em morros e enchentes nas áreas planas

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Regiões mais vulneráveis da capital registram deslizamentos em morros e enchentes nas áreas planas A população das áreas de risco na cidade quase duplicou ao longo de dez anos recentes. Foto: Nathália Schneider/Gab. dep. Laura Sito

Nos bairros periféricos de Porto Alegre, com suas características sociais e geográficas específicas, a chuva de mais de 320mm (medição até a noite dessa quinta-feira) provocou transtornos de diversas ordens, independente da proximidade com o Guaíba. Nas áreas mais pobres e mais sujeitas às consequências dos eventos climáticos extremos, há registros de alagamentos e deslizamentos de terra, conforme os relatos que a reportagem da Matinal ouviu ao longo desta quinta-feira.

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“Não temos como sair de casa”

Na Vila Mapa, na Lomba do Pinheiro, zona leste da cidade, embora distante do Guaíba e dos mais importantes cursos d’água de Porto Alegre, moradores enfrentam dificuldades para sair de casa. Um valão de esgoto a céu aberto transbordou e a comunidade se vê “ilhada”. Moradora da região há 28 anos, a líder comunitária Francine Martins relata que o problema é recorrente, mas foi mais grave nesta semana.

“Não temos como sair de casa para escola nem para o trabalho, creche, mercado. Ficamos dentro de casa, temos crianças que não podem brincar na rua por conta do esgoto, que tem animais mortos, exala mau cheiro. Também estamos preocupados com a dengue que está matando, e há, sim, muitas garrafas e potes que acumulam larvas”, conta.

A rua na qual Francine vive tem dois acessos – um demandaria cruzar o valão, e em outro há mato e buracos provocados pela erosão, consequência da chuva. “O acesso para carro e caminhão no momento está impossível. Eu tenho carro e deixo muito longe da minha casa, pois não tem como passar”, afirmou à Matinal, na tarde de quinta-feira.

“É deslizamento de barranco, casa se enchendo de água…”

O Morro da Cruz, também na zona leste, sofre com os deslizamentos por conta de suas características de relevo. “A gente ficou a quarta-feira em função”, conta a moradora Nira Martins Pereira. “É deslizamento de barranco, casa se enchendo de água, barranco caindo em cima de residências, árvores que tombam.”

A Defesa Civil, para ela, não consegue dar conta de tantos chamados. De acordo com Nira, houve uma visita ainda na quarta, mas os chamados desta quinta não haviam sido atendidos até o final da tarde desta quinta-feira (2). “Ficaram de voltar e ainda não vieram, pois houve um caso de uma casa que ficou com o alicerce exposto, e a terra atingiu outra residência, de uma altura de uns oito metros”, conta.

Nira diz que não há alerta de deslizamentos na região. “No ano passado a gente trouxe a Defesa Civil, fizeram uma ação conjunta com o Departamento Municipal de Habitação (Demhab) e eles não disseram que era para desocupar a área, não ofereceram aluguel social. Só dizem que é área de risco, mas as pessoas moram ali há dez ou 20 anos. Precisamos de um plano de ação que não há”, protesta.

“É assustador”

Na região das ilhas, geralmente a primeira a sofrer os efeitos da subida do Guaíba, moradores vêm organizando alternativas de saída desde a quarta-feira. “Umas foram para a casa de parentes, outras para abrigos, e outras ficaram às margens da BR-116, em locais que a água ainda não atingiu. É assustador”, relata a líder comunitária Sandra Noeli Ferreira, da Ilha do Pavão.

A reportagem conversou com Sandra às 16h da quinta. Ela havia, às 13h, feito fotos do alagamento pelo bairro Arquipélago – três horas depois, contou que o cenário já era muito pior. A água segue a subir: “Acredito que os acessos estarão cortados com a região das ilhas em breve. Mesmo depois da ponte, em outros bairros baixos, como o São Geraldo e o Humaitá, também há enchentes”, alerta. Ela diz que a população foi avisada pela Defesa Civil da subida das águas, mas que algumas pessoas resistem à advertência e ficam nas áreas de risco.

Porto Alegre tem mais de 84 mil pessoas vivendo em áreas de risco

A população das áreas de risco na cidade quase duplicou ao longo de dez anos recentes. Em 2013 eram 44,4 mil em locais apontados como de alto ou muito alto perigo. Conforme mostrou a Matinal, uma pesquisa realizada pela prefeitura aponta 84,4 mil pessoas nessas regiões. “O plano está feito, bem entregue. Agora vamos nos debruçar sobre ele. Dentro dos (setores de) muito alto risco, quais são as primeiras (famílias) que vamos atacar (o problema)”, disse o prefeito Sebastião Melo (MDB), na época.  

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