Eleições 2022 | Reportagem

Vitórias de Leite e Lula em Porto Alegre enfraquecem extrema-direita para 2024, avaliam especialistas

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Vitórias de Leite e Lula em Porto Alegre enfraquecem extrema-direita para 2024, avaliam especialistas Foto: Mateus Raugust/PMPA

Resultados na Capital sugerem derrota para Melo, que apoiou as candidaturas bolsonaristas para o Planalto e o Piratini

O resultado do segundo turno das eleições em Porto Alegre sugere uma derrota política da extrema direita e do atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), que apoiava as candidaturas de Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni, que concorreram à presidência e ao Governo do Estado pelo PL, respectivamente. Na capital gaúcha, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve 53,50% dos votos, enquanto Eduardo Leite (PSDB) chegou a 68,98% dos votos para governador, o que deve frustrar a composição de chapas bolsonaristas para a prefeitura, segundo especialistas ouvidos pelo Matinal.

“Me parece que Melo perde completamente a possibilidade de se candidatar. Ele pode, mas perdeu muito. O MDB saiu muito dividido no Rio Grande do Sul: um grupo apoiou Lula e Leite, outro grupo apoiou Bolsonaro e Onyx. Foi assim também no PSDB, que tem poucos quadros para concorrer daqui a dois anos. São partidos que perderam completamente a sua identidade ideológica, partidos de centro que agora voltaram-se à centro-direita, o que é absolutamente respeitável, mas não é respeitável ser bolsonarista”, observou Céli Pinto, historiadora, cientista política e professora Emérita da UFRGS, lembrando do MDB como partido de tradição, sigla de figuras como Ulysses Guimarães.

Bruno Conceição, doutor em Ciência Política pela UFRGS, ressaltou a tendência de lideranças partidárias “se distanciarem dos perdedores” das eleições: “Isso ficou claro na queda de Dilma Rousseff em 2016. Houve uma debandada de lideranças de esquerda, e a força do PDT em prefeituras gaúchas e no Brasil atraiu muitos candidatos com potencial de voto e que, naquele momento, preferiram sair do PT para não se vincularem a narrativas de corrupção. Até se cogitou que o PT poderia desaparecer, que a direita iria tirar a esquerda do Brasil”. 

Segundo Conceição, a expressiva votação em Leite projeta uma inflexão do eleitorado conservador para o campo da centro-direita: “Em Porto Alegre, parlamentares vinculados ao bolsonarismo devem procurar siglas mais tradicionais. Leite conseguiu derrotar o bolsonarismo em uma região muito vinculada a ideias conservadoras. Muita gente vai começar a correr agora que Bolsonaro não está no poder e não funciona como âncora”, acredita o cientista político. 

De acordo com Céli Pinto, o comportamento de Melo na disputa de 2020, contra Manuela D’Ávila (PCdoB), teria consolidado o atual prefeito como quadro de extrema direita: “Não podemos esquecer das acusações que ele fez contra Manuela, lançando mão de fake news no nível de Damares Alves”, recordou. “Ele teve uma posição antidemocrática, e não há surpresa que tenha sido, até ontem, um defensor de Bolsonaro.” 

Ao bancar apoio, Melo abalou base de sustentação na Câmara

Neste ano, o prefeito foi um dos quadros do MDB gaúcho que apoiou Jair Bolsonaro e foi um dos líderes da adesão do diretório porto-alegrense à candidatura de Onyx, ainda que seu partido compusesse chapa com Gabriel Souza como vice de Leite. O racha interno lhe custou o apoio do PSDB, que tem uma das maiores bancadas na Câmara Municipal. 

Ainda no domingo, Melo reconheceu a “soberania das urnas” e cumprimentou os candidatos vitoriosos: “Que coloquemos interesses comuns acima de quaisquer bandeiras para avançar nas entregas à população”, tuitou. Na terça, disse ter ligado para Leite e Souza para parabenizá-los e reafirmar uma “postura de diálogo e construção”. 

Sem emitir opinião a respeito dos protestos antidemocráticos promovidos por apoiadores do presidente Bolsonaro nas ruas de Porto Alegre, Melo limitou-se a lamentar os ataques sofridos por jornalistas na cobertura dos atos. 

O vice-prefeito, Ricardo Gomes (PL), por sua vez, somente lamentou os resultados das eleições, sem parabenizar os vencedores: “Teremos que trabalhar muito para emendar o que foi feito ontem. A aliança do PT com a ‘terceira via’ venceu as eleições, e faz renascer a esquerda radical politicamente”, escreveu Gomes.

Novas lideranças de esquerda movimentam cenário para 2024

Sem governar Porto Alegre desde 2005, e aparentemente fora da disputa pela prefeitura até estas eleições, o PT teria se reabilitado com a campanha de Edegar Pretto para governador: “Fazia muito tempo que não aparecia uma figura jovem dentro do maior partido de esquerda do Rio Grande do Sul. Ele teve uma quantidade de votos e um comportamento eleitoral excelente. Ele começa pouco conhecido, com poucos votos, e consegue avançar em um estado conservador, que tendia a votar à direita nos últimos anos”, observou Céli Pinto, acrescentando que a vitória de Eduardo Leite se deveu também à “disciplina política” do eleitorado de Pretto, que somou 26,77% dos votos no primeiro turno.

Na live de apuração do segundo turno promovida pelo Matinal, Bruno Conceição sugeriu que uma chapa de esquerda se fortaleceria caso nomes como Manuela D’Ávila (PCdoB), Maria do Rosário (PT) e Luciana Genro (PSOL) dividissem o mesmo palanque: “Se elas estivessem dentro de um bloco, as chances de vitória seriam bem maiores. As candidatas mulheres têm mais visibilidade e poder de conquistar votos do que candidatos masculinos. Essas são figuras que têm visibilidade nacional e que circulam dentro de outras pautas e grupos sociais. Hoje é mais viável uma candidatura da Luciana Genro e da Manuela, como chefes de Executivo, do que uma candidatura do PT”, apontou.

Embora considere que a juventude dos movimentos minoritários não reunirá forças para disputar a Prefeitura em 2024, Céli Pinto celebra a eleição de bancadas femininas, negras e LGBTQIA+ como “o que aconteceu de mais importante” na corrida para o legislativo federal deste ano: “São movimentos radicais no bom sentido dessa palavra. Temos de retomar a ideia de radicalidade. São movimentos que enfrentam a desigualdade, o neoliberalismo, a falta de políticas públicas, os preconceitos no trabalho, que expõem a sua sexualidade”, afirmou a historiadora e cientista política, antes de completar: “Os partidos finalmente estão entendendo que homens brancos autoidentificados como heterossexuais não vão passar o resto da vida dominando o mundo”.

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