Porto Alegre terá “pior dia” nesta quinta, projeta prefeitura
Vento no quadrante sul deve represar água do Guaíba, elevando risco de enchentes. Capital abriu 150 vagas de abrigos para atender desalojados, mas há 85 mil pessoas em áreas de risco
A prefeitura de Porto Alegre alerta que esta quinta-feira é o dia com maior risco para a população da cidade em decorrência das chuvas intensas. Nesta quarta-feira, o prefeito Sebastião Melo (MDB) fez um apelo para que moradores de áreas de risco, como aquelas sujeitas a inundações e deslizamentos, deixem suas casas. Levantamento do município aponta 142 áreas de risco na cidade, totalizando 85 mil pessoas.
Até a tarde desta quarta-feira, a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) havia disponibilizado três espaços para acolher os necessitados – mas eles somavam apenas 150 vagas. Os abrigos são igrejas situadas na Ilha da Pintada e em Belém Novo, além de uma associação do bairro Ponta Grossa. À tarde, o abrigo de Belém Novo já era ocupado por 48 indígenas que moram nas proximidades. O Demhab informou que ofereceria apoio a famílias que moram em áreas vulneráveis do Morro da Cruz.
É o caso de Mariane da Silva, que vive com o marido e as duas filhas pequenas em uma casa na região. O terreno onde a residência foi construída apresentou sinais de instabilidade após o excesso de chuvas desta quarta-feira. A família precisa de um lugar seguro para ficar até que pare de chover.
“Não podemos deixar as coisas que estão aqui dentro. Há um buraco se abrindo no chão, a terra vai afundando. Tem um barranco atrás da casa, o vizinho colocou uns pneus para estabilizar, mas não está adiantando. A nossa casa pode ir junto”, relatou à Matinal. À noite, ela deixará as filhas aos cuidados da avó, e diz que ficará em casa, acordada.
A moradora ligou para a Defesa Civil no começo da tarde, às 14h50min, e foi informada de que já havia uma equipe na região, observando a possibilidade de deslizamento de encostas. Como os profissionais não chegaram até as 16h30, telefonou novamente. Até o fechamento desta reportagem, não havia recebido retorno.
Na Rua Dona Firmina existe um grande barranco. “Há anos vem se falando que o solo tem se movido”, relata Nira Martins Pereira, vice-presidente da ONG Coletivo Autônomo Morro da Cruz. Hoje, pedras grandes rolaram para a parte mais baixa do terreno. Trata-se de uma das vias principais da comunidade, onde passa uma linha de ônibus, e em cima do barranco há algumas casas.
Segundo a Defesa Civil, foram atendidas 28 ocorrências nesta quarta-feira. Os chamados foram registrados nos bairros São José, Jardim Carvalho, Restinga, Morro Santana, Lomba do Pinheiro, Partenon, Rubem Berta, Ponta Grossa e Lami. As áreas próximas ao Guaíba permanecem em monitoramento.
Água do Guaíba deve subir mais
A prefeitura está preocupada com a ação de um ciclone extratropical. Ventos de quadrante sul tendem a conter o escoamento da água do Guaíba para a Lagoa dos Patos. Como o lago já está elevado e segue recebendo um enorme afluxo de água dos rios Jacuí, Caí, Gravataí e Sinos, teme-se que possa haver transbordamentos. “Isso é um fato relevante. Há alagamentos nas várias bacias hidrográficas de Porto Alegre, apesar das casas de bomba estarem funcionando. Muitos arroios transbordaram e outros podem transbordar”, afirmou o prefeito, que pediu que as pessoas evitem sair de casa nesta quinta. No entanto, não foi feita nenhuma recomendação oficial nesse sentido e não houve suspensão de atividades e serviços.
Ontem, o Guaíba estava subindo cerca de um centímetro por hora. À tarde, no Cais Mauá, foi atingida a cota de 2,40 metros – 15 centímetros abaixo da cota de alerta e 60 centímetros abaixo da cota de inundação. O principal foco de atenção eram as ilhas, onde há zonas populosas. Pela manhã, a Ilha da Pintada entrou em alerta, o que ocorre quando o nível do Guaíba atinge 2 metros – ele chegou a 2,08 no local de medição. Com 2,20 metros há inundação na ilha. Em 2015, a prefeitura chegou a fechar as comportas do Muro da Mauá, quando a elevação do Guaíba chegou a 2,83 metros.
Dia de muita chuva e de transtornos na Capital
Nesta quarta-feira, Porto Alegre teve precipitação contínua durante a maior parte do dia, com momentos de chuva forte. Até o meio-dia, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o acumulado em 24 horas era de 84 milímetros na estação do Belém Novo e de 63 milímetros na do Jardim Botânico. A média histórica de chuva em setembro, na Capital, é de 147,8 mm, segundo o Inmet.
Em consequência, houve transbordamento de arroios e alagamento em vários pontos da cidade, com transtornos principalmente para o trânsito. Na Avenida Voluntários da Pátria, a água subiu tanto que um homem precisou sair de seu carro pelo teto solar, situação dramática registrada em vídeo. Em Ipanema, o Arroio Capivara transbordou e alagou a Avenida Tramandaí. Na praia de Ipanema, na mesma altura, a água chegou a subir no calçadão. Moradores reclamam de pedidos não atendidos para a desobstrução dos bueiros e o desassoreamento do arroio.
O excesso de chuvas causou também o fechamento de oito unidades de saúde, a maior parte localizada na zona sul (Ilha da Pintada, Farrapos, Laranjeiras, Lami, Belém Novo, Paulo Viaro, Ponta Grossa e Jardim das Palmeiras). Seis escolas do município tiveram as aulas suspensas: EMEI Pica-Pau, EMEF Prof. Larry José Ribeiro, EMEI Ponta Grossa, Escola Comunitária Anjo das Flores, Esc. Com. Abrace e Esc. Com. Nª Sra. Aparecida.