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Arthur de Faria: Série As Origens, Parte XIII — Octavio Dutra, o violão de estimação da cidade

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Arthur de Faria: Série As Origens, Parte XIII — Octavio Dutra, o violão de estimação da cidade
Octavio Dutra foi o cara na música de Porto Alegre das primeiras décadas do século XX. Quando morreu, em 1937, seu nome era conhecido nacionalmente, e sua figura ocupava um lugar tão central na cena musical da sua cidade como possivelmente jamais outro artista, em qualquer época, ocupou: tudo e todos passavam por ele. Mas claro: morreu pobre. Vamos do começo. Seu pai, Miguel Antônio Dutra, era um homem rico, dono de muitas terras, magistrado e poeta, cultor do beletrismo. Nascido o menino no dia três de dezembro de 1884, seu pai poderia até sonhar em ter um rebento com jeito para a música. Mas jamais imaginaria que ele teria de viver disso. Só que antes do guri crescer, o magistrado já tinha perdido toda sua fortuna na política. Sim, naqueles tempos positivistas, a política era onde o pessoal perdia dinheiro. E aí foi aquela reviravolta no seio de uma família tão tradicional quanto era possível ser numa cidade de pouco mais de 100 anos. Mas bem pior do que ter de trabalhar duro para viver mal, foi o que o tempo e seus desvãos fizeram com o filho do Miguel: exceto por uma rua no bairro porto-alegrense de Santa Teresa, o nome de Octavio Dutra foi gradativamente esquecido até quase ninguém mais lembrar dele. Nos 50 anos seguintes à sua morte, houve apenas uma iniciativa em sua memória: a Orquestra Brasileira Octavio Dutra (mais tarde rebatizada de Orquestra Filarmônica Popular de Porto Alegre — OFIPPA). Fundada em 1961 por Voltaire Dutra Paes (Porto Alegre, 1926-1990), o grupo reunia mais de 50 músicos, muitos deles parentes do mestre. Tocavam só Octavio Dutra, em novos arranjos escritos por Voltaire, num clima octaviano: aos tradicionais naipes de cordas, madeiras e metais se somavam saxofones, ritmistas, seis bandolins, sete violões e outros dois violões de sete cordas. Ninguém ganhava nada — e havia muitos músicos profissionais ali —, mas a música era tão boa que, mesmo assim, a OFIPPA durou mais de 10 anos. Já nas décadas de 1970 e 80 só um que outro chorão e professor de música, como Ayrton do Bandolim ou Luiz Machado, lembrava algum choro ou valsa de Octavio e o ensinava a seus alunos. Nada mais. No terceiro milênio é que, surpreendentemente, o nome de Octavio voltou à roda, e grande parte do mérito é de dois pesquisadores gaúchos: o também músico Hardy Vedana, que escreveu a biografia Octavio Dutra na história da música de Porto Alegre, baseada no álbum de recortes de Dutra, guardado pela família. E Márcio de Souza, professor da Universidade Federal de Pelotas e violonista, que fez sobre Octávio seu doutorado em história, gravou suas músicas e editou em 2016 o songbook Espia Só — As músicas de Octavio Dutra. Com base no trabalho de ambos, mais a pesquisa deste humilde servidor, Saturnino Rocha dirigiu o documentário Espia Só, produzido por Carlos Peralta, lançado em 2012. * * * Octavio Dutra foi um dos primeiros porto-alegrenses a garantir seu sustento somente com a música. Isso significava — e, para a maioria dos músicos da cidade significa até hoje — conciliar uma imensa amplitude de interesses e necessidades: professor de […]

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