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Arthur de Faria: série As Origens, Parte VII — Os Geraldos ou… Os gaúchos que levaram o maxixe a Paris

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Arthur de Faria: série As Origens, Parte VII — Os Geraldos ou… Os gaúchos que levaram o maxixe a Paris O século XIX já estava passando os créditos quando, na capital federal, os cariocas travavam conhecimento com um multi-artista negro gaúcho de apenas 22 anos: ele atuava, dançava, cantava cançonetas e se chamava Geraldo Magalhães. Tinha nascido em São Gabriel, 320 km a oeste de Porto Alegre (metade sul do Estado), dia 31 de maio de 1878. Não dá pra deixar barato essa informação: sabe lá o que é nascer negro na pequena São Gabriel, em 1878, e querer fazer carreira cantando e dançando no Rio de Janeiro?!? Dá pra imaginar a possibilidade estatística disso se concretizar!?! Mas Geraldo tinha iguais porcentagens de bossa, manha e vontade. Armado com esses atributos, somados a sua sempre citada elegância, arrasou no Salon Paris, em plena rua do Ouvidor. Era metade da dupla que havia fundado, Os Geraldos, e que então se completava com a castelhana Margarita. A partir da entrada do século, os dois se transferem para as casas de chope e cafés-cantantes da Lapa e da Praça Tiradentes – como o Ao Chopp Grande -, além de teatros como o Moulin Rouge e o Maison Moderne. O clima era do vaudeville reinante de então.  Em 1905 (há quem fale em 1907), Geraldo – que também ganhava uns trocados como serenatista, contratado para cantar às janelas das amadas alheias – troca de parceira, numa venda casada de cama & palco. No lugar de Margarita, a também negra e gaúcha Antonina “Nina” Teixeira:  porto-alegrense nascida por volta de 1880 (e que morreu possivelmente na década de 1940, no Rio). Os Geraldos eletrizariam as plateias cariocas, em duetos picantes e muito teatrais, dançando maxixes plenos de sacanagem e cantando cançonetas e lundus cheios de duplo sentido. A bem da verdade, as vezes de um sentido só: aquele mesmo. Ou vocês acham que foi o funk carioca que inventou a canção de putaria? O sucesso cresceu tanto que, empolgados, um belo dia eles levam seu show para a rua, em pleno Passeio Público, Largo da Lapa. Ainda que fosse região da alta prostituição, embelezada pelas “francesas” do Alcazar Lírico, as apresentações da dupla causaram tanto delírio quanto escândalo. Coisas da Belle Époque tropical. Um momento jamais repetido, quando as pessoas compravam, levavam pra casa e ouviam nos seus gramofones canções que seriam impensáveis nos moralistas e moralizantes anos da Era Vargas. Um belo exemplo do repertório da dupla era a singela marcha Vassourinha, de Felipe Duarte e Luiz Figueira, cuja letra dizia: Ela:Sempre, sempre em movimentoSempre, sempre em movimentoVassourinha varre o chãoEle:E o Abano faz o ventoE o Abano faz o ventoPara acender o fogãoEla:Tu és de palha e tens pauTu és de palha e tens pauQue outro dia mesmo viEle:Ora Deus ela é bem mauOra Deus ela é bem mauTomá-lo tu pra tiRica VassouraAi quando serás minha?Ela:Queres de AbanoPassar a varredor?Os dois:Varre, varre querida VassourinhaAbana, abana meu AbanadorOu então o singelo diálogo registrado em O Coronel Velho Conquistador, quando Nina reclama:Eu pensei que o senhor tivesse uma espada maior! Um homem tão grande, com uma espadinha de criança?!?!? Lançam muitos discos. Entre 1902 – quando a Casa […]

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O século XIX já estava passando os créditos quando, na capital federal, os cariocas travavam conhecimento com um multi-artista negro gaúcho de apenas 22 anos: ele atuava, dançava, cantava cançonetas e se chamava Geraldo Magalhães. Tinha nascido em São Gabriel, 320 km a oeste de Porto Alegre (metade sul do Estado), dia 31 de maio de 1878. Não dá pra deixar barato essa informação: sabe lá o que é nascer negro na pequena São Gabriel, em 1878, e querer fazer carreira cantando e dançando no Rio de Janeiro?!? Dá pra imaginar a possibilidade estatística disso se concretizar!?! Mas Geraldo tinha iguais porcentagens de bossa, manha e vontade. Armado com esses atributos, somados a sua sempre citada elegância, arrasou no Salon Paris, em plena rua do Ouvidor. Era metade da dupla que havia fundado, Os Geraldos, e que então se completava com a castelhana Margarita. A partir da entrada do século, os dois se transferem para as casas de chope e cafés-cantantes da Lapa e da Praça Tiradentes – como o Ao Chopp Grande -, além de teatros como o Moulin Rouge e o Maison Moderne. O clima era do vaudeville reinante de então.  Em 1905 (há quem fale em 1907), Geraldo – que também ganhava uns trocados como serenatista, contratado para cantar às janelas das amadas alheias – troca de parceira, numa venda casada de cama & palco. No lugar de Margarita, a também negra e gaúcha Antonina “Nina” Teixeira:  porto-alegrense nascida por volta de 1880 (e que morreu possivelmente na década de 1940, no Rio). Os Geraldos eletrizariam as plateias cariocas, em duetos picantes e muito teatrais, dançando maxixes plenos de sacanagem e cantando cançonetas e lundus cheios de duplo sentido. A bem da verdade, as vezes de um sentido só: aquele mesmo. Ou vocês acham que foi o funk carioca que inventou a canção de putaria? O sucesso cresceu tanto que, empolgados, um belo dia eles levam seu show para a rua, em pleno Passeio Público, Largo da Lapa. Ainda que fosse região da alta prostituição, embelezada pelas “francesas” do Alcazar Lírico, as apresentações da dupla causaram tanto delírio quanto escândalo. Coisas da Belle Époque tropical. Um momento jamais repetido, quando as pessoas compravam, levavam pra casa e ouviam nos seus gramofones canções que seriam impensáveis nos moralistas e moralizantes anos da Era Vargas. Um belo exemplo do repertório da dupla era a singela marcha Vassourinha, de Felipe Duarte e Luiz Figueira, cuja letra dizia: Ela:Sempre, sempre em movimentoSempre, sempre em movimentoVassourinha varre o chãoEle:E o Abano faz o ventoE o Abano faz o ventoPara acender o fogãoEla:Tu és de palha e tens pauTu és de palha e tens pauQue outro dia mesmo viEle:Ora Deus ela é bem mauOra Deus ela é bem mauTomá-lo tu pra tiRica VassouraAi quando serás minha?Ela:Queres de AbanoPassar a varredor?Os dois:Varre, varre querida VassourinhaAbana, abana meu AbanadorOu então o singelo diálogo registrado em O Coronel Velho Conquistador, quando Nina reclama:Eu pensei que o senhor tivesse uma espada maior! Um homem tão grande, com uma espadinha de criança?!?!? Lançam muitos discos. Entre 1902 – quando a Casa […]

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