Arthur de Faria | Parêntese | Porto Alegre: uma biografia musical | Série As Origens

Arthur de Faria: série As Origens, Parte XVI

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Arthur de Faria: série As Origens, Parte XVI
Imagens: acervo pessoal de Arthur de Faria Pensou que eu já tinha dito tudo que precisava sobre o Octavio Dutra? Pensou errado! Quando, em 1927, a Rádio Gaúcha começou suas transmissões, nada mais natural que chamar para ser seu diretor musical o músico mais popular da cidade: Octavio seguiria na função até 1934, inclusive dirigindo a orquestra da rádio. E deixaria saudade nos colegas, como o radioator Pery Borges, que redigiu e leu uma emocionada radio-chronica do dia do seu falecimento: 1910… altas horas… Junho friorento… Rua da Margem (atual João Alfredo, bairro da Cidade Baixa), iluminada ainda por lampeõezinhos de kerosene… silencio de repouso e de morte… de repente, junto ao humbral de uma janella modesta, os dedos mágicos do artista acordavam os sons apaixonados de uma canção de amor e a voz do Lauro ou do Zeca, dois trovadores do bando de Octavio, acordava o silencio somnolento da rua, num poema de ternura. (…) Octavio tinha o sangue azul do reinado bohemio nas veias musicaes. Na segunda metade dos anos 1920, sua bola estava tão cheia que ele peita uma pequena ousadia (que repetiria em outras oportunidades e teatros, como o São Pedro): num Grandioso Festival do Clube Carnavalesco Os Batutas, dia 28 de julho de 1926 no Theatro Apollo, o encerramento de 10 números musicais escritos e ensaiados por Octavio era com uma adaptação sua da Protofonia do Guarany, de Carlos Gomes, para uma orquestra que incluía violões, bandolins e cavaquinhos. No programa que se iniciava com  um deslumbrante film em sete longas partes, intitulado A Marca de Giz, a Phantasia d’O Guarany, pela primeira vez executada por orchestra carnavalesca como a d’Os Batutas.  E no anúncio do jornal:  O Guarany nunca foi executado por orchestra desse gênero (violões e cavaquinhos etc). Mesmo Radamés Gnattali, sempre lembrado como pioneiro na fusão entre grupo regional e orquestra, só teria a mesma ideia quando estava na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 1943 – quase 20 anos depois. E quando a febre das jazz bands chegou, bem nessa época, o pessoal não se fez de rogado em homenageá-lo. Como se chama a pioneira na cidade? Jazz Espia Só (que nasceu como Regional Espia Só e depois que mudou a instrumentação virou Jazz Band). Homenagens não faltaram quando, com apenas 52 anos, Octavio Dutra, já doente não se sabe exatamente de quê – uma cruel enfermidade que há annos o atormentava – deixou incompleta sua última música. Era dia 9 de julho do mesmo 1937 que levava Noel Rosa e trazia o Estado Novo, e Octavio estava naqueles dias ensaiando com o Regional do Piratini uma nova versão de seu arranjo d’O Guarany.  Morreu consagrado, incensado, mas, em termos monetários, no máximo remediado. Nunca teve dinheiro, por exemplo, para comprar uma casa própria. Não deixou quase nada para sua mulher e sua única filha, Diotavina, a Dedê (o casal teve ainda outra menina, Octalita, que morreu com apenas dois anos de idade). Uma multidão acorreu a seu enterro. Está lá, em seu necrológio na Folha da Tarde:  Duvidamos que exista em Porto Alegre pessoa que desconheça a vida do músico que acaba de desapparecer.  Ao […]

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