Arthur de Faria | Parêntese | Porto Alegre: uma biografia musical | Série As Origens

Arthur de Faria: série As Origens, Parte I

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Arthur de Faria: série As Origens, Parte I Nós fomos “descobertos” 250 anos depois da Bahia. Temos as mesmas características luso-brasileiras e africanas, mas de épocas diferentes e com outras misturas de povos europeus e da fronteira castelhana que eles não têm. As raízes deles são muito mais antigas e predomina a questão da colonização escravagista. Para nós aqui as guerras foram mais marcantes. Havia muita morte, muita luta e muito luto. Não éramos tão dados à música, bailes e festas, porque dos nossos 250 anos, 100 foram de guerra. Isso precisa ser analisado antropologicamente para se verificar as razões do comportamento da comunidade, as ideias políticas, a cultura e tudo mais. (Paixão Côrtes, folclorista) Antes de tudo, os povos originários. Cidades brasileiras como Salvador e Rio de Janeiro existiam há mais de dois séculos quando, em 1732, os moradores das ocas de palha à beira do Guaíba viram chegar os primeiros sesmeiros nos então chamados campos de Viamão – região que ia do estuário até o litoral Norte do Estado, incluindo o que hoje é Porto Alegre. Não vinham pra povoar, e, sim, pra reinar absolutos – com direitos de vida e morte sobre essas populações que já viviam na região. Tinham para si intermináveis campos, e sediaram-se em fazendas onde criariam gado. Eram três: Dionísio Rodrigues Mendes, Sebastião Francisco Chaves e Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcelos. Nenhum tinha a sede de suas terras onde hoje é a capital gaúcha. Mas parte das fazendas de todos passava por ali. A primeira povoação no Continente de São Pedro surgiria cinco anos depois: Vila de Rio Grande, com seu respectivo forte. Seria a sede da província até 1763, quando as eternas guerras contra os castelhanos perdem o lugarejo para os invasores da Banda Oriental. E perde feio: quase todo o território do que hoje é o Rio Grande do Sul fica todo sob o poder dos espanhóis. O remédio é transferir o comando para outra cidadezinha, Viamão. Pois é entre uma coisa e outra, em novembro de 1752, que começa a nossa história. 1752 = Ontem. E nem se precisa de padrões europeus, africanos ou asiáticos. Mesmo se a gente pensa na história das Américas, Porto Alegre é uma cidade recentíssima. Benjamin Franklin provava que a luz era um fenômeno elétrico, Minas Gerais estava em pleno ciclo do ouro e até poetas tinha, e n-a-d-a havia ali onde é hoje a cidade. Nada além do ancoradouro que ficava nos fundos das terras de Jerônimo de Ornellas. Onde, neste ano da graça de 1752, desembarca uma tropa de oitenta paulistas comandados por Cristóvão Pereira de Abreu. Quer dizer: naaaaaaada, não. Afinal, eles chegam e dão de cara com um amontoado de gente instalado de forma precária e improvisada e, ainda por cima, irritando o dono da sesmaria. Jerônimo queria criar gado e não sustentar o que, para ele, era pouco mais do que uma praga de carrapatos. Já tinha que se livrar dos indígenas e agora isso? Efetivamente, Ornellas não fez nada por aqueles 52 paulistas, oito negros escravizados […]

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Nós fomos “descobertos” 250 anos depois da Bahia. Temos as mesmas características luso-brasileiras e africanas, mas de épocas diferentes e com outras misturas de povos europeus e da fronteira castelhana que eles não têm. As raízes deles são muito mais antigas e predomina a questão da colonização escravagista. Para nós aqui as guerras foram mais marcantes. Havia muita morte, muita luta e muito luto. Não éramos tão dados à música, bailes e festas, porque dos nossos 250 anos, 100 foram de guerra. Isso precisa ser analisado antropologicamente para se verificar as razões do comportamento da comunidade, as ideias políticas, a cultura e tudo mais. (Paixão Côrtes, folclorista) Antes de tudo, os povos originários. Cidades brasileiras como Salvador e Rio de Janeiro existiam há mais de dois séculos quando, em 1732, os moradores das ocas de palha à beira do Guaíba viram chegar os primeiros sesmeiros nos então chamados campos de Viamão – região que ia do estuário até o litoral Norte do Estado, incluindo o que hoje é Porto Alegre. Não vinham pra povoar, e, sim, pra reinar absolutos – com direitos de vida e morte sobre essas populações que já viviam na região. Tinham para si intermináveis campos, e sediaram-se em fazendas onde criariam gado. Eram três: Dionísio Rodrigues Mendes, Sebastião Francisco Chaves e Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcelos. Nenhum tinha a sede de suas terras onde hoje é a capital gaúcha. Mas parte das fazendas de todos passava por ali. A primeira povoação no Continente de São Pedro surgiria cinco anos depois: Vila de Rio Grande, com seu respectivo forte. Seria a sede da província até 1763, quando as eternas guerras contra os castelhanos perdem o lugarejo para os invasores da Banda Oriental. E perde feio: quase todo o território do que hoje é o Rio Grande do Sul fica todo sob o poder dos espanhóis. O remédio é transferir o comando para outra cidadezinha, Viamão. Pois é entre uma coisa e outra, em novembro de 1752, que começa a nossa história. 1752 = Ontem. E nem se precisa de padrões europeus, africanos ou asiáticos. Mesmo se a gente pensa na história das Américas, Porto Alegre é uma cidade recentíssima. Benjamin Franklin provava que a luz era um fenômeno elétrico, Minas Gerais estava em pleno ciclo do ouro e até poetas tinha, e n-a-d-a havia ali onde é hoje a cidade. Nada além do ancoradouro que ficava nos fundos das terras de Jerônimo de Ornellas. Onde, neste ano da graça de 1752, desembarca uma tropa de oitenta paulistas comandados por Cristóvão Pereira de Abreu. Quer dizer: naaaaaaada, não. Afinal, eles chegam e dão de cara com um amontoado de gente instalado de forma precária e improvisada e, ainda por cima, irritando o dono da sesmaria. Jerônimo queria criar gado e não sustentar o que, para ele, era pouco mais do que uma praga de carrapatos. Já tinha que se livrar dos indígenas e agora isso? Efetivamente, Ornellas não fez nada por aqueles 52 paulistas, oito negros escravizados […]

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