Arthur de Faria | Parêntese | Porto Alegre: uma biografia musical | Série As Origens

Arthur de Faria: série As Origens, Parte II

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Arthur de Faria: série As Origens, Parte II Por Arthur de Faria Os açorianos são até hoje um povo pacato, cordial e festeiro. Achylles “História Popular” Porto Alegre, da História Popular de Porto Alegre (de novo ele) cita um tal Acurcio Ramos e o que ele conta no livro Notícia do Archipelago dos Açores: Amam a música, a dança, as representações teatrais, as reuniões de máscaras, as loucuras do carnaval, as cavalhadas, as corridas de touros e as festas do Espírito Santo, as mais populares e gerais do arquipélago. Tudo isso e ainda aquela farta produção de filhos! Bom. O que dançavam? A chamarrita (no Rio Grande do Sul chamada de chimarrita) e o pezinho, por exemplo. Também é bom explicar o que eram as cavalhadas: alegóricas lutas entre mouros e cristãos, eram peças de resistência do folclore ibérico que teriam, no futuro, adeptos como Bento Gonçalves, Davi Canabarro e o Marechal Osório. Dois exemplos do folclore açoriano: Balho Do Espirito Santo (folclore açoriano, s/data) – Grupo da Ilha Verde, 1994 Chamarrita (folclore açoriano da Ilha Terceira, s/data) – Grupo Belaurora, 1994 O rico folclore açoriano foi peça-chave na formação do que seria a música gaúcha e porto-alegrense. Duzentos e setenta anos depois de chegarem às margens do Guaíba, esses cantos e danças seguem fazendo parte tanto do folclore das ilhas quanto do repertório dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) espalhados pelo mundo. Cantos e danças cuja origem se perdem na mais profunda Idade Média europeia. E aí vão se somando os elementos. Da música dos indígenas, massacrada ou ignorada como os próprios, não restou nada. Mas no mesmo 1794 em que começa a exportação do trigo local e se torna obrigatório o calçamento na frente das casas, é inaugurado o primeiro teatro da cidade. A Casa da Commédia era pouco mais que um comprido barracão de pau a pique, mas contava com 36 camarotes e uma plateia para mais de 300 espectadores – mais ou menos o mesmo tamanho do futuro Theatro São Pedro. Mas não vingou. O pessoal gostava mesmo era das funções ao ar livre, que aconteciam aos domingos e feriados. Era montado um tablado entre os dois principais largos da cidade. E ali, conta o historiador Athos Damasceno, trupes ocasionais de instrumentistas e funâmbulos (equilibristas/malabaristas) ofereciam ao povo o variado programa de suas habilidades e proezas. Em 1803 (há quem fale em 1797), a Casa da Commédia muda de nome e estado de espírito. Chama-se agora Casa da Ópera, e é a primeira responsável por inocular na população o vírus do canto lírico, que viraria epidemia meio século depois. Mas em pouco tempo ela também fecha suas portas. Mozart já tinha morrido, a corte portuguesa estava às vésperas de se mandar pro Brasil e, desde a segunda invasão espanhola ao Rio Grande do Sul, em 1773, a futura Porto Alegre era cercada de muros (de taipa), como as cidades medievais. O único portão era guardado por soldados e, depois de certa hora, ninguém entrava nem saía. Pra completar o quadro de pseudo-burgo, tambores rufavam […]

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Por Arthur de Faria Os açorianos são até hoje um povo pacato, cordial e festeiro. Achylles “História Popular” Porto Alegre, da História Popular de Porto Alegre (de novo ele) cita um tal Acurcio Ramos e o que ele conta no livro Notícia do Archipelago dos Açores: Amam a música, a dança, as representações teatrais, as reuniões de máscaras, as loucuras do carnaval, as cavalhadas, as corridas de touros e as festas do Espírito Santo, as mais populares e gerais do arquipélago. Tudo isso e ainda aquela farta produção de filhos! Bom. O que dançavam? A chamarrita (no Rio Grande do Sul chamada de chimarrita) e o pezinho, por exemplo. Também é bom explicar o que eram as cavalhadas: alegóricas lutas entre mouros e cristãos, eram peças de resistência do folclore ibérico que teriam, no futuro, adeptos como Bento Gonçalves, Davi Canabarro e o Marechal Osório. Dois exemplos do folclore açoriano: Balho Do Espirito Santo (folclore açoriano, s/data) – Grupo da Ilha Verde, 1994 Chamarrita (folclore açoriano da Ilha Terceira, s/data) – Grupo Belaurora, 1994 O rico folclore açoriano foi peça-chave na formação do que seria a música gaúcha e porto-alegrense. Duzentos e setenta anos depois de chegarem às margens do Guaíba, esses cantos e danças seguem fazendo parte tanto do folclore das ilhas quanto do repertório dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) espalhados pelo mundo. Cantos e danças cuja origem se perdem na mais profunda Idade Média europeia. E aí vão se somando os elementos. Da música dos indígenas, massacrada ou ignorada como os próprios, não restou nada. Mas no mesmo 1794 em que começa a exportação do trigo local e se torna obrigatório o calçamento na frente das casas, é inaugurado o primeiro teatro da cidade. A Casa da Commédia era pouco mais que um comprido barracão de pau a pique, mas contava com 36 camarotes e uma plateia para mais de 300 espectadores – mais ou menos o mesmo tamanho do futuro Theatro São Pedro. Mas não vingou. O pessoal gostava mesmo era das funções ao ar livre, que aconteciam aos domingos e feriados. Era montado um tablado entre os dois principais largos da cidade. E ali, conta o historiador Athos Damasceno, trupes ocasionais de instrumentistas e funâmbulos (equilibristas/malabaristas) ofereciam ao povo o variado programa de suas habilidades e proezas. Em 1803 (há quem fale em 1797), a Casa da Commédia muda de nome e estado de espírito. Chama-se agora Casa da Ópera, e é a primeira responsável por inocular na população o vírus do canto lírico, que viraria epidemia meio século depois. Mas em pouco tempo ela também fecha suas portas. Mozart já tinha morrido, a corte portuguesa estava às vésperas de se mandar pro Brasil e, desde a segunda invasão espanhola ao Rio Grande do Sul, em 1773, a futura Porto Alegre era cercada de muros (de taipa), como as cidades medievais. O único portão era guardado por soldados e, depois de certa hora, ninguém entrava nem saía. Pra completar o quadro de pseudo-burgo, tambores rufavam […]

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