Arthur de Faria | Parêntese | Porto Alegre: uma biografia musical | Série As Origens

Arthur de Faria: Série As Origens, Parte III

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Arthur de Faria: Série As Origens, Parte III Balafon
O que se conhece da música de Porto Alegre na primeira metade do século XIX? Muito pouco. Sobre talentos individuais, há registros de um certo Inácio Músico, que se chamava Inácio José de Figueiras, morava no Alto da Bronze e tocava órgão nas missas do Padre Vira-Cambota (Padre Vira-Cambota?!?!), acompanhando muitas vezes o tenor Amândio. Ou então o Correia Músico, natural de Viamão, que tocava na Casa da Ópera. E a dupla Corneta e Quinca do Violão, que tocava onde deixassem. Quinca também tocava rabeca, e foi compositor de pelo menos uma valsa e uma contradança de grande popularidade – chamadas justamente Valsa do Quinca e Contradança do Quinca. Tem ainda o alferes José Victorino Pereira Coelho, vulgo Rascada, violonista e cantor de pioneiras modinhas e lundus porto-alegrenses (que espetacular achado seria encontrar algum registro delas!). Também ficou lembrança do instrumentista Peres, com imitava o David Bowie, com seu olho azul e outro pardo. E de João Batista Rabecão, que tocava contrabaixo – vulgo rabecão – nas missas (pra vocês verem como o troço já foi mais animado). A todas essas, também poucos registros dos negros escravizados e sua música. Nas imediações onde hoje é a rua Lima e Silva, havia o Candombe da Mãe Rita. Não, não era candomblé (ainda que Achylles Porto Alegre fale em candomblés na rua Avahy). Era candombe, mesmo nome do ritmo criado pelos negros de Montevidéu que hoje é a música uruguaia por excelência. Mas seria a mesma música? Se jamais saberemos, não custa imaginar que talvez sim.  O Candombe da Mãe Rita reunia nos domingos a tarde pretos roubados de variadas nações africanas, que ali misturavam suas diferentes músicas, tocadas com uma variedade de instrumentos de dar água na boca de qualquer percussionista. Além de tambores variados havia: sopapos – surdo gigante, tocado com a mão, típico do Rio Grande do Sul, revitalizado no final do século XX a partir do cantor, percussionista e compositor Giba-Giba;  canzás – nome que pode definir o atual ganzá (chocalho) ou um tipo de reco-reco; urucungos – o berimbau original, africano; e balafons – a mãe africana da marimba e do xilofone.  Ao som dessa festa de percussão, os negros cantavam e dançavam até o transe religioso. Nessa época, pelo menos, a polícia não se metia.   Na casa de Mãe Rita também se ensaiavam cocumbis – que até hoje resistem no litoral norte gaúcho sob o nome de quicumbis, autos religiosos de Natal que incorporam, em sincretismo religioso, as festas de Nossa Senhora do Rosário, protetora dos negros. Vinham o rei e a rainha à frente, a juíza do ramalhete logo atrás e, em seguida, toda uma linhagem aristocrática africana. Dançavam e sapateavam em frente à Igreja Matriz, cantando com guizos amarrados nas canelas. A cerimônia guarda parecença com os maçambiques que ainda resistem em Osório, também no litoral norte. Mas os cocumbis só existiram até o vigário José Inácio Pereira ser designado para a capital. O padre que virou nome de rua mandou acabar com essa pouca-vergonha na frente da Matriz. Como resposta, os negros construíram a sua própria igreja: a Igreja do Rosário, erguida em 10 anos de trabalho voluntário: negros escravizados trabalhavam à noite e negros alforriados de dia. Nada […]

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