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Arthur de Faria: série As Origens, Parte VI

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Arthur de Faria: série As Origens, Parte VI Chegamos a 1890, quando a capital gaúcha da agora República conta com 50 mil almas – 42.115, segundo o censo de 1888.  Enquanto isso, uma região da cidade ia concentrando de tal forma a população negra que foi batizada de Colônia Africana. Ficava entre os atuais bairros Rio Branco e Bom Fim. Como no resto do país, a vida dos negros não melhorara magicamente com a abolição. Aboliu-se, na verdade, o chicote. Mas as condições seguiam desumanas para os muitos que continuavam trabalhando para senhores brancos, praticamente sem remuneração, em troca de pouco mais que casa e comida. E também, quando isso acontece, em 1888, instigada pelo pessoal do Partenon Literário a cidade havia alforriado quase todos seus 5.790 escravos. Quando entrou em vigor a Lei Áurea, em Porto Alegre apenas 58 pessoas ainda pertenciam a outras. Claro que não havia sido meramente altruísta o gesto geral. Muitos dos libertos tinham de seguir trabalhando de graça por até cinco anos para pagar sua carta de alforria. Já outros senhores libertavam seus negros para deixar de pagar impostos sobre a “propriedade” – mas continuavam, na prática, a escravizar seus “funcionários”. A Colônia viraria ponto turístico, como bem descreveria com indisfarçável deleite Achylles Porto Alegre:  (…) o Beco do Poço, o do Jacques e a Rua da Floresta eram sítios de eleição para o batuque. Nos dias de folia, já de longe se ouviam a melopeia monótona do canto africano e o som cavo de seu originalíssimo tambor. (…) O batuque prosseguia pelo dia e pela noite adentro (…) e os garrafões de cachaça se sucediam uns aos outros. Não havia, porém, algazarra. O africano não grita. Era a melopeia, em coro, e ao som compassado do tambor. (…) Havia também os batuques ao ar livre. (…) Um dos mais populares era o do Campo do Bom Fim, em frente à capelinha então em construção. Cada domingo que Deus dava era certo um batuque ali, e o interessante é que muita gente se abalava da cidade para ir ver a dança dos negros. * * * Fecha-se o século com duas grandes novidades: Cinema!  Dia cinco de novembro de 1896, num salão do número 349 da Rua da Praia, Porto Alegre recebe mais uma invenção do inquieto Thomas Edison: o Scinomotograf.  Por um conto de réis por cabeça, o empresário paulista Francisco de Paola Xavier mostrava à cidade pela primeira vez o milagre das imagens em movimento. Foram projetados numa tela improvisada os filmes Danse Serpentine e o primeiro filme da história, filmado apenas um ano antes: L’Arrivée d’un Train em Gare de La Ciotat (A Chegada de Um Trem na Estação), ambos dos irmãos Lumiére, mais Bois de Bologne, de George Méliès. Os três, juntos, não chegam a três minutos de projeção. Mas ninguém reclamou e a atração ficou em cartaz por algum tempo. Sem falar que, ao contrário do que acontecera em Paris, pouquíssimo tempo antes, ninguém saíra correndo quando o trem se aproximou. Apenas três dias depois, e a poucos metros de distância (no número 230) nasce a concorrência cinematográfica na cidade: o francês Georges Renouleau, fotógrafo radicado em Porto Alegre, passa […]

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Chegamos a 1890, quando a capital gaúcha da agora República conta com 50 mil almas – 42.115, segundo o censo de 1888.  Enquanto isso, uma região da cidade ia concentrando de tal forma a população negra que foi batizada de Colônia Africana. Ficava entre os atuais bairros Rio Branco e Bom Fim. Como no resto do país, a vida dos negros não melhorara magicamente com a abolição. Aboliu-se, na verdade, o chicote. Mas as condições seguiam desumanas para os muitos que continuavam trabalhando para senhores brancos, praticamente sem remuneração, em troca de pouco mais que casa e comida. E também, quando isso acontece, em 1888, instigada pelo pessoal do Partenon Literário a cidade havia alforriado quase todos seus 5.790 escravos. Quando entrou em vigor a Lei Áurea, em Porto Alegre apenas 58 pessoas ainda pertenciam a outras. Claro que não havia sido meramente altruísta o gesto geral. Muitos dos libertos tinham de seguir trabalhando de graça por até cinco anos para pagar sua carta de alforria. Já outros senhores libertavam seus negros para deixar de pagar impostos sobre a “propriedade” – mas continuavam, na prática, a escravizar seus “funcionários”. A Colônia viraria ponto turístico, como bem descreveria com indisfarçável deleite Achylles Porto Alegre:  (…) o Beco do Poço, o do Jacques e a Rua da Floresta eram sítios de eleição para o batuque. Nos dias de folia, já de longe se ouviam a melopeia monótona do canto africano e o som cavo de seu originalíssimo tambor. (…) O batuque prosseguia pelo dia e pela noite adentro (…) e os garrafões de cachaça se sucediam uns aos outros. Não havia, porém, algazarra. O africano não grita. Era a melopeia, em coro, e ao som compassado do tambor. (…) Havia também os batuques ao ar livre. (…) Um dos mais populares era o do Campo do Bom Fim, em frente à capelinha então em construção. Cada domingo que Deus dava era certo um batuque ali, e o interessante é que muita gente se abalava da cidade para ir ver a dança dos negros. * * * Fecha-se o século com duas grandes novidades: Cinema!  Dia cinco de novembro de 1896, num salão do número 349 da Rua da Praia, Porto Alegre recebe mais uma invenção do inquieto Thomas Edison: o Scinomotograf.  Por um conto de réis por cabeça, o empresário paulista Francisco de Paola Xavier mostrava à cidade pela primeira vez o milagre das imagens em movimento. Foram projetados numa tela improvisada os filmes Danse Serpentine e o primeiro filme da história, filmado apenas um ano antes: L’Arrivée d’un Train em Gare de La Ciotat (A Chegada de Um Trem na Estação), ambos dos irmãos Lumiére, mais Bois de Bologne, de George Méliès. Os três, juntos, não chegam a três minutos de projeção. Mas ninguém reclamou e a atração ficou em cartaz por algum tempo. Sem falar que, ao contrário do que acontecera em Paris, pouquíssimo tempo antes, ninguém saíra correndo quando o trem se aproximou. Apenas três dias depois, e a poucos metros de distância (no número 230) nasce a concorrência cinematográfica na cidade: o francês Georges Renouleau, fotógrafo radicado em Porto Alegre, passa […]

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