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Arthur de Faria: Série As Origens – parte XXI

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Arthur de Faria: Série As Origens – parte XXI Foi na década de 1910 que começaram a aparecer no Brasil os primeiros ritmos americanos. Era a primeira entrada em massa da cultura norte-americana, que, a partir daí, a cada 30 anos alguns apocalípticos acreditam que vai dizimar nossa nacionalidade frágil. Para o amigo ter uma ideia da velocidade dessa primeira invasão, entre 1903 e 1914 foram gravados no Brasil apenas sete discos com música estadunidense. Nos 12 anos seguintes, entre 1915 e 1927, esse número sobe nada menos que 2.500%: 182 gravações! Dados do José Ramos Tinhorão, claro. Os ritmos mais populares eram o one-step e o charleston, logo seguidos pelo fox-trot e o ragtime. Depois os esquecidos shimmy, black-bottom e cake-walk. Todos, já nos anos de 1920, constando no repertório de qualquer encontro dançante que se prezasse. Era a primeira vez que, como diria muito depois Caetano Veloso, os americanos (referindo-se aos estadunidenses) se tornavam responsáveis por grande parte da alegria do mundo. Era uma febre de ritmos leves e eufóricos, que comemoravam o pós-Guerra sem nem sonhar com a Crise de 29. Como observa Humberto Franceschi em A Casa Edison e Seu Tempo: O pós-guerra trouxe outras formas de superação da crise com o aparecimento de modismos culturais. Observou-se um novo vigor no mercado. Os anos 20 produziram dinâmica acelerada nos processos de divulgação. Foi a época dos ritmos das Américas que, desde o tango argentino ao ragtime e ao fox-trot, invadiram a Europa e, de lá, partiram para o resto do mundo. (…) Toda a década de 20 foi povoada pelas jazz-bands sob forte influência de ritmos estrangeiros, particularmente norte-americanos. A primeira grande mudança foi na formação instrumental dos grupos de música popular. O gênero jazz não tinha dados as caras, mas a palavra “jazz” se tornaria rapidamente o substantivo que designaria um conjunto de instrumentistas formado por sopros e uma cozinha rítmica composta por bateria, banjo, violão e/ou piano, contrabaixo ou tuba. Em Porto Alegre, não levaria nem cinco anos pra coisa pegar fogo e os “jazz” reinarem absolutos, soterrando os formatos até então consagrados de banda ou regional. Eram as estrelas dos bailes e das festas. Nada era mais chique do que montar uma bandinha e chamá-la de … jazz. Tocavam de tudo: todos esses ritmos americanos aí de cima, maxixes, polcas, schottischs, habaneras. Na verdade, só não rolava era… jazz. * * * Tudo começara no mesmo 1923 em que Louis Armstrong gravava seu primeiro disco com a King Oliver´s Jazz Band, e apenas cinco anos depois da primeira gravação de jazz da história, da Original Dixieland Jass (sic) Band. A invasão começa quando o flautista Albino Rosa reúne uma turma de amigos músicos pra fundar um regional. O próprio termo regional, registre-se, era novidade, criado por grupos que tocavam também choro, mas estavam mergulhados na citada febre nordestina – daí o nome: regional. Inspirado no sucesso carnavalesco “Espia Só”, de (adivinhem?) Octavio Dutra, Albino batiza seu sexteto de Regional Espia Só. Além dele, tocando flauta, tinha Binga no violão, Veridiano Farias no […]

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Foi na década de 1910 que começaram a aparecer no Brasil os primeiros ritmos americanos. Era a primeira entrada em massa da cultura norte-americana, que, a partir daí, a cada 30 anos alguns apocalípticos acreditam que vai dizimar nossa nacionalidade frágil. Para o amigo ter uma ideia da velocidade dessa primeira invasão, entre 1903 e 1914 foram gravados no Brasil apenas sete discos com música estadunidense. Nos 12 anos seguintes, entre 1915 e 1927, esse número sobe nada menos que 2.500%: 182 gravações! Dados do José Ramos Tinhorão, claro. Os ritmos mais populares eram o one-step e o charleston, logo seguidos pelo fox-trot e o ragtime. Depois os esquecidos shimmy, black-bottom e cake-walk. Todos, já nos anos de 1920, constando no repertório de qualquer encontro dançante que se prezasse. Era a primeira vez que, como diria muito depois Caetano Veloso, os americanos (referindo-se aos estadunidenses) se tornavam responsáveis por grande parte da alegria do mundo. Era uma febre de ritmos leves e eufóricos, que comemoravam o pós-Guerra sem nem sonhar com a Crise de 29. Como observa Humberto Franceschi em A Casa Edison e Seu Tempo: O pós-guerra trouxe outras formas de superação da crise com o aparecimento de modismos culturais. Observou-se um novo vigor no mercado. Os anos 20 produziram dinâmica acelerada nos processos de divulgação. Foi a época dos ritmos das Américas que, desde o tango argentino ao ragtime e ao fox-trot, invadiram a Europa e, de lá, partiram para o resto do mundo. (…) Toda a década de 20 foi povoada pelas jazz-bands sob forte influência de ritmos estrangeiros, particularmente norte-americanos. A primeira grande mudança foi na formação instrumental dos grupos de música popular. O gênero jazz não tinha dados as caras, mas a palavra “jazz” se tornaria rapidamente o substantivo que designaria um conjunto de instrumentistas formado por sopros e uma cozinha rítmica composta por bateria, banjo, violão e/ou piano, contrabaixo ou tuba. Em Porto Alegre, não levaria nem cinco anos pra coisa pegar fogo e os “jazz” reinarem absolutos, soterrando os formatos até então consagrados de banda ou regional. Eram as estrelas dos bailes e das festas. Nada era mais chique do que montar uma bandinha e chamá-la de … jazz. Tocavam de tudo: todos esses ritmos americanos aí de cima, maxixes, polcas, schottischs, habaneras. Na verdade, só não rolava era… jazz. * * * Tudo começara no mesmo 1923 em que Louis Armstrong gravava seu primeiro disco com a King Oliver´s Jazz Band, e apenas cinco anos depois da primeira gravação de jazz da história, da Original Dixieland Jass (sic) Band. A invasão começa quando o flautista Albino Rosa reúne uma turma de amigos músicos pra fundar um regional. O próprio termo regional, registre-se, era novidade, criado por grupos que tocavam também choro, mas estavam mergulhados na citada febre nordestina – daí o nome: regional. Inspirado no sucesso carnavalesco “Espia Só”, de (adivinhem?) Octavio Dutra, Albino batiza seu sexteto de Regional Espia Só. Além dele, tocando flauta, tinha Binga no violão, Veridiano Farias no […]

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