Dica de leitura

Ao farol, Virginia Woolf

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Ao farol, Virginia Woolf

Concluí há pouco, de fato, a primeira leitura do ano novo – iniciada e finalizada em janeiro. Ao farol, de Virginia Woolf, é um bom romance, realmente um bom livro, diria. A narrativa, resumindo de forma muito sintética, revela a vida da família Ramsay, as tensões entre seus membros, filhos, empregados e alguns amigos, sobretudo com o patriarca Ramsay. Entre outros assuntos, a autora trará para o universo narrado a ameaça da guerra e as relações de gênero da época. O livro situa-se entre as obras Mrs. Dalloway (1927) e As ondas (1931).

Divido em três partes, que na última corresponderá a um salto no tempo, o enredo, em boa medida, se desenrola sob a ótica da Sra. Ramsay, que me fez lembrar de Clarissa Dalloway, certa agitação ansiosa no espírito. O romance, no entanto, é narrado em terceira pessoa. Virginia se vale da polifonia para nos dar acesso aos pensamentos, anseios e voz dos distintos personagens. Acompanhamos a narrativa como se caminhássemos ao lado deles, sob a pele. De natureza densamente subjetiva, pouca, muito pouca, ação ocorre no romance, aliás, a ação é justamente essa, o universo subjetivo das personagens, do narrador e da autora. Somos convidados a embarcar em longos e inesgotáveis fluxos de consciência. Porém, lá pela terceira parte, que julgo a melhor, o leitor está um tanto cansado e nos últimos trinta metros leva uma surra de chatice e não acha mais posição confortável para finalizar a leitura. Acabei lendo-o em pé e em voz alta no meio da sala. Ainda assim, um bom livro. A chatice faz parte da obra, até do estilo da escrita da autora e isso não o torna ruim, nem Virginia uma autora desagradável de quem devemos correr longe como o Bolsonaro corre da justiça. Penso que ela nos pede ou convida a entrar no romance, de outro modo, menos apressado e mais cuidadoso, como quem se prepara para mergulhos mais fundos em águas geladas.

Dica: Leiam com a cabeça ligada. Piscou ou foi olhar notificação no celular, volta três casinhas no tabuleiro.


Marcelo Martins da Silva é escritor, professor de Português e percussionista (repinique) no carnaval. Lançou “A matéria inacabada das coisas”, poesia, pela editora Diadorim. 

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