Cor e forma ao imaterial
Segundo estado mais branco do Brasil, o Rio Grande do Sul é também aquele com mais espaços dedicados a religiões de matriz africana.
Quando soube desses dados do IBGE, Mirian Fichtner ficou perplexa com a invisibilidade do tema na cultura gaúcha, conforme conta na apresentação do livro Cavalo de Santo – religiões afro-gaúchas, publicado em 2011 e hoje esgotado.
Os números inusitados foram a motivação para a fotógrafa mergulhar no tema entre 2006 e 2010. Foram cem terreiros estudados, mais de 30 casas visitadas e 13 documentadas na publicação impressa. Em abril, a Parêntese publicou uma seleção dessas imagens para marcar o lançamento do documentário homônimo inspirado no livro e dirigido pelo jornalista e produtor cultural Carlos Caramez e por Fichtner, que seguiu pesquisando o tema por um período total de 10 anos. O filme foi finalizado pela Cubo Filmes e teve apoio da Lei Aldir Blanc (leia aqui a resenha escrita por Luís Augusto Fischer).
Ainda na apresentação do livro, a fotógrafa conta ter encontrado um povo orgulhoso de sua fé e cultura. “Gente guerreira, incansável no trabalho diário de materializar rituais, preparar oferendas, festas, atender pessoas essa cultura ancestral viva. De curiosa e encantada pela estética da cultura imaterial, passei a cúmplice”.
Novas fotos foram acrescentadas neste ensaio em junho, a propósito do lançamento da edição especial da Parêntese Porto Negro.
Texto: Marcela Donini
Mirian Fichtner nasceu em Porto Alegre, mas é carioca de coração. Formou-se em jornalismo pela PUCRS e trabalhou nos principais jornais e revistas do Brasil. Ganhou mais de 15 prêmios nacionais e internacionais. Além de Cavalo de Santo, selecionado pela Revista ZUM como um dos 10 fotolivros mais relevantes sobre a cultura afro-brasileira, publicou também A vida que corre nos ônibus (2011) e Rio – um olhar viajante (2015).