Ensaios Fotográficos

Plano de fuga

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Plano de fuga

Fugi com a Liana para Buenos Aires após o primeiro turno das eleições. De ônibus, porque o valor das passagens aéreas não cabiam no bolso. Onze da noite, próximo à Caçapava do Sul, o ônibus estragou. O motorista conseguiu levá-lo até um posto de gasolina, onde ficamos por quatro horas. Um passageiro argentino que voltava para casa e vestia uma jaqueta estampada com o Homer Simpson nos alertou que na semana anterior, quando veio para Porto Alegre, o ônibus também estragara na estrada. Entre os passageiros, havia ainda uma jornalista que ia para cobrir uma feira de games, um rapaz que ia para assistir à final do campeonato argentino entre Boca e Independiente, uma húngara que estava no Brasil exercendo serviços voluntários e queria conhecer Buenos Aires e outra moça que ia para assistir ao show de uma banda de punk-rock alemã. Após duas horas parados no posto, o motorista nos avisou que o próprio dono da empresa estava trazendo outro ônibus para seguirmos viagem. Achei estranho, pouco provável, mas ele confirmou com ironia e seguiu relatando suas péssimas condições trabalhistas. 

Finalmente, três da madrugada, chegou o novo ônibus para fazer a troca. E de fato, era o dono da empresa, trazendo junto um mecânico. Transferimos as bagagens e a viagem prosseguiu. Após vinte e sete horas – num trajeto que se faz em vinte –, chegamos ao Terminal de Retiro. Um senhor que viajava na poltrona ao lado nos ofereceu ajuda para encontrarmos o guichê do serviço de remis. No caminho, disse que ia visitar o irmão e que ele o esperava com um DV Catena para o jantar. Pegamos o carro até o AirBnB na rua Jorge Luis Borges, em Pallermo Soho. Após deixar as malas, saímos para comprar aquele vinho e comemorar. Mas já era passado das dez da noite, período em que os mercados não vendem mais bebida alcoólica. 

Nos dias seguintes, acometidos por uma virose gripal contraída no ônibus – que não era Covid, embora muito intensa – reencontramos Buenos Aires: a cidade que escolhemos para morar se acontecesse o pior no segundo turno das eleições.

O ensaio fotográfico aqui reunido, feito com o celular, é um registro desses dias em outubro de 2022. Focado na rotina das pessoas, como se já fossemos moradores da cidade.




















Flávio Wild, designer gráfico, fotógrafo e artista visual

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