Relatos Selvagens
Sete de setembro na Avenida Paulista. Muitas pessoas chave da engrenagem da extrema direita por lá. Frederic Wassef, Nise Yamaguchi, Eduardo Bolsonaro, Marcos Pontes, todos fazendo campanha eleitoral. Chuva de fake news nos palanques, chuva de ataques ao Lula. Nenhuma proposta anunciada por nenhum candidato que foi ao microfone.
Na avenida, integralistas, monarquistas, armamentistas, fanáticos religiosos e até uma pequena roda de samba. Extrema direita organizada, mas cada um no seu quadrado, sem se misturar. Em comum entre eles, a pátria, a família, a liberdade, Deus. E o ódio ao STF.
Xandão que nos proteja.
Tia: Você é do Uol Lixo?
Eu: O quê?
Tia: Você é do Uol Lixo?
Eu: Não, eu tô cobrindo pra uma revista do sul.
Tia: Que bom, senão eu quebrava a tua câmera agora.
Tia 2: Por que você tá fotografando?
Eu: Porque é o meu trabalho.
Tia 2: Você tem a obrigação de fazer parecer que isso aqui tá lotado.
Eu: Mas tá lotado, de fato.
Tia 2: Graças a Deus.
Eu: Posso tirar uma foto do senhor e da sua família?
Tio: Sim, claro, por favor. Eliane, vem já pra cá!
Eliane: Tá muito cheio lá pra trás, moço?
Eu: Sim, muito lotado.
Tio: É isso que o pessoal do trio elétrico tá falando, não dá pra acreditar nas estatísticas. Se todo mundo que tá aqui vota no Bolsonaro, a gente ganha no primeiro turno.
Eu: 3, 2, 1, sorriam.
Um dos fotógrafos estava com um moleton preto com uma pequena estrela vermelha, da marca da roupa, no peito. Surge uma tia em fúria, gritando.
Tia: Comunista, tem comunista infiltrado, pega!
Ele: Não sou comunista, tô só aqui fazendo minhas fotos.
Tia: É comunista, sim, veio pra estragar a comemoração.
Ele: Eu não sou comunista, só vim fazer as minhas fotos.
Tia: Então tira esse casaco, senão tu vai tomar uma surra. E para de me fotografar!
Ele: Mas eu não tô te fotografando, tia.
Ele tentou mostrar as fotos que tinha feito, onde ela não aparecia, mas a tia não quis ver, continuou gritando que tinha um comunista infiltrado. Então alguns sujeitos se aproximam, reconhecem a marca do moletom, falam pra tia se acalmar, ela se afasta, sempre gritando, e eles aconselham: tira esse moletom, senão tu vai apanhar aqui.
Ele prontamente tirou o moletom, comprou um boné falsificado da CBF e continuou trabalhando.
Theo Tajes é fotógrafo e roteirista. Formado em Realização Audiovisual pela Unisinos, dirigiu curtas, vídeoclipes e atualmente finaliza seu primeiro longa-metragem.
