Ensaios Fotográficos

Tánger

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Tánger
* No texto a seguir a grafia Tánger se refere ao livro de Carlos Villalba e Tânger à cidade no Marrocos. Antes de tudo, um livro. Tánger, do velho amigo argentino Carlos Villalba, é um segredo bem-guardado da literatura argentina contemporânea. Foi paixão à primeira lida (já foram inúmeras) tanto da minha conje Áurea Baptista quanto minha.  Partamos daqui. Pois. Desde que estivemos em Istambul pela primeira vez e nos apaixonamos perdidamente pela Turquia, passei a querer conhecer também alguma outra terra de cultura islâmica, e de preferência no norte da África. Durante algum tempo mirei na Tunísia. Mas aí Tánger, o livro, e a gente deu uma chegadinha pra ponta esquerda do mapa. O que agravou-se quando a Áurea (atriz e diretora), abduzida pelo texto do Villalba, decidiu que queria transformar aquele relato – em mais de um sentido impressionista – num espetáculo teatral.  Opa! Bom, aí a segunda atração emitida por Tânger em minha direção: os beats (e não só eles). Não fui exatamente um beatmaníaco, mas gosto dos caras e, convenhamos: Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Gregory Corso – e os Rolling Stones e Truman Capote e Tenesse Williams – alimentaram a mitologia da cidade em suas estadias esbornianas e haxixentas. O William Burroughs e o Paul Bowles viveram lá – e claro que eu estive no hotel onde foi escrito “Almoço Nu”. Também lá viveu o Ricardo Rey Rosa (tremendo guatemalteco acho que nunca traduzido no Brasil, amigão do Bowles e autor de contos maravilhosos e novelas como Severina, que o diretor Felipe Hirsch levou para o cinema com música deste servidor). Evidentemente a Tânger dos beats não existe mais. Nem a dos Stones e do Led Zeppelin. Nem mesmo a do Rey Rosa. E para o bem e para o mal. O “novo” rei, Mohamed VI, décimo oitavo da dinastia alauíta (que manda no Marrocos desde, uou!, 1666), foi coroado em 1999 e dedicou-se a modernizar o País, com foco no turismo e numa certa “ocidentalização”. Ou seja: nada de fumar haxixe no Café Hafa (que segue lá, só no chazinho), estradas impecáveis, e até leis que garantem direitos às mulheres de uma forma quase radical para o contexto dos países islâmicos.  Só que, na prática, não se muda uma cultura em duas décadas. Ainda que a popularidade do Mohamed (que tem fotos suas em absolutamente tudo que é lugar, parece que colocadas espontaneamente) seja tanta que resistiu à Primavera Árabe, a mesma que provocou revoluções profundas em outros países da região lá por 2011/2012, cês lembram. Isto dito, ainda assim é difícil. Principalmente pra quem viajou pro Marrocos com a Turquia na cabeça. Sim, o burro aqui achou que a cultura islâmica unificava civilizações tão diferentes. O que, na prática, e ao menos entre esses dois únicos exemplos que eu tenho, foi um erro crasso. Os turcos são turcos. Os marroquinos, em sua maioria são, na essência, árabes (os berberes, povos do deserto, são outra coisa, anterior aos árabes, espanhóis, portugueses, ingleses e franceses que […]

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