Juremir Machado da Silva

Sobre Pedro Weingärtner

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Sobre Pedro Weingärtner

Sábado de manhã, calor sufocante, Casa da Memória Unimed Federação/RS, uma conversa, na fresca do ar-condicionado, sobre o pintor Pedro Weingärtner (1853-1929), cuja exposição, 45 quadros, continua aberta à visitação (Santa Terezinha, 263) até 26 de fevereiro de 2024. Longe do pampa, perto da cidade. O médico e escritor Nilson May fez a abertura com o brilho de sempre.

Nilson May | Foto: Cristiane Von Appen

O curador José Francisco Alves encarregou-se da mediação. Marco Aurélio Biermann Pinto, mestre em Letras, e Luciana de Oliveira, doutora em história da arte, palestraram sobre a vida e a obra do grande pintor gaúcho, que viveu 36 anos em Roma, tendo sido bolsista do imperador D. Pedro II na Europa. A manhã passou rápido com tanta história saborosa. Na plateia, Gilberto Schwartsmann e sua esposa Leonor, Ana Maria de Sousa, diretora da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, e gente da arte, da cultura, das boas palestras matinais sem pressa.

Mediador e palestrantes | Foto: Cristiane Von Appen

Marco Aurélio contou a história de quadros de Weingärtner roubados da pinacoteca da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul por certo Benedito Luís Rodrigues. Uma das pinturas chegaria a ser vendida pelo larápio e exposta na vitrine da Casa das Molduras, na Rua da Praia, enquanto era procurada. Lembra o delicioso conto de Edgar Allan Poe, A carta roubada, que estava em cima da lareira, à vista de todos. Luciana de Oliveira apresentou a crítica, publicada no jornal A Federação, de Arthur Toscano, a uma pintura de Weingärtner, O rodeio, tema rural, cena de lida campeira feita a distância.

Considerado um pinto detalhista, verista, Weingärtner foi objeto de uma crítica no contrapé: tudo no seu rodeio seria falso, sem movimento, alheio à verdade de uma prática tradicional da campanha gaúcha (leia o artigo da historiadora sobre essa crítica).

Weingärtner não teria o conhecimento da vida cotidiana de um gaúcho para fazer um quadro capaz de “fotografar” a realidade. Curiosamente, eu, que cresci na campanha, em Palomas e na Florentina, tropeando com meu pai, fico nostálgico diante dos quadros de Weingärtner, inclusive desse “rodeio” inverossímil para um olhar técnico de campeiro ou de crítico. Para mim é como se o pintor tivesse imobilizado uma dessas imagens congeladas em nossas lembranças, onde nada mais se move e detalhes se perdem por falta de precisão da memória. Fico pensando em dias de geada com a paisagem cristalizada. Ou em manhã de verão com o calor brotando dos pastos até só permanecer uma pasmaceira. Minhas lembranças são assim. Nem tudo nelas é confiável. Um detalhe põe tudo a perder. Mesmo assim, são tão fortes que me emocionam às vezes. Cenas como a desse rodeio de Weingärtner exercem sobre mim esse mesmo fascínio. A crítica de Toscano, porém, tem um sabor estupendo, o da boa polêmica, do ataque frontal.

Tambor tribal (Dibuk na Livraria Clareira)

Com Gilberto Schartsmann | Foto: Sérgio Martins

     

Tem livraria nova na cidade, a Clareira (Henrique Dias, 111), no coração do velho Bom Fim. A ousadia é do Flávio Ilha. Já no segundo dia, casa cheia no lançamento de Dibuk (Sulina), livro de contos judaicos de Gilberto Schartsmann. Fiz uma entrevista diante do público com o autor do livro, cujos personagens são o próprio Bom Fim, suas ruas, recantos e gente que existiu ou ainda existiu, parte fantasia, parte realidade: Dona Sofia, uma espécie de comissária de romance policial que investiga a morte do rabino; Dona Rivka, a judia idosa que praticava psicanálise sem o saber, enquadrando um dia a comunidade com uma deixa sobre dibuk, “o diabo dos judeus”: “Não tem diabo nenhum. É tudo dentro da cabeça de vocês”; a polaca Mime, que dirigia um bordel e praticava curas milagrosas; o noivo argentino, que iludiu uma família inteira fazendo crer que se casaria com a feinha Rebeca, e fugiu com o dinheiro obtido em empréstimos pelo pai da moça; o padre a judia que podem ter se apaixonado ou atuado juntos para esconder perseguidos da ditadura, etc. Uma galeria verossímil, engraçada, viva, pulsante, como nas boas história do famoso humor judaico.

Parêntese da semana

Edição mensal: “Acabou?!” Luísa Kiefer explica:

“– Tu não tá vendo o filme?
– Tô vendo. O quê que tem ele?
– Se tu tá escrevendo uma mensagem, não tá vendo o filme.
– Tô vendo, sim. Era só uma coisa meio urgente, tive que responder.
– Então agora pode largar o celular.
– Já vou, é que me marcaram num stories de trabalho. Deu, pronto, desligado.
– O filme acabou.
– Como assim acabou?
– É, enquanto tu escrevia mensagens e via stories, o filme acabou.
– O que aconteceu no final? Peraí.
– O que houve?
– Nada, só outra mensagem aqui, mas é rapidinho.
– E agora, acabou?
– Acabou o quê?”

O virtual vai engolir o presencial? Não temos mais tempo para ver o filme ou jogo por estamos ocupado respondendo mensagens?

Frase do Noites

“O virtual não se opõe ao real, mas ao futuro dos casamentos.”

Imagens e imaginários

No Pensando Bem, que vai ao ar todo sábado na FM Cultura, 107,7, numa parceria da Cubo Play, Matinal e revista Parêntese, com apoio da Adufrgs, Nando Gross e eu conversamos com o músico, jornalista e escritor Arthur de Faria, biógrafo de Elis e de Lupicínio Rodrigues.

Escuta essa

A melhor do Lupi: Esses moços. Nem Schopenhauer faria melhor.

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