Capítulo LXXIII – Um milhão de melódicos melodiosos – ou: os anos de transição (Parte 19)
Geraldo Flach (Porto Alegre, 06/08/1945 – 03/01/2011) foi menino-prodígio. Com 16 anos era o titular do programa Um Piano em Destaque, na Rádio Difusora (só pra lembrar: num programa parecido – também um pianista sozinho tocando no estúdio – havia despontado, uma década antes, Norberto Baldauf, na Gaúcha).
A diferença dele para os tantos excelentes pianistas que já havia na cidade é que Geraldo seria o primeiro surgido depois do surgimento da bossa nova e do samba-jazz. Os outros cobras dessa turma eram todos mais velhos, e haviam se formado num mundo anterior a João Gilberto ou Zimbo Trio: gente muito talentosa como Baldauf (nascido em 1928), Breno Sauer (1929), Peixoto Primo (1933), Manfredo Fest (1936), Adão Pinheiro (1938) e tantos outros.
Como no caso de Baldauf e Fest, a formação de Geraldo era de piano clássico (estudou dos cinco aos 20 anos, por influência da mãe, que também tocava). Mas, como eles, acabou no popular.
* * *
Já falamos disso: o sonho dourado de todos os conjuntos melódicos de Porto Alegre era ter um vibrafone, com o seu respectivo vibrafonista. Pois foi justamente nesse instrumento, e não no piano, que, dois anos depois do programa na Difusora, Geraldo entrou nos palcos e bailes. Tinha 18 anos e foi contratado pelo badaladíssimo Renato e Seu Sexteto (o maior sexteto do mundo, que chegou a ter mais de uma dúzia de integrantes).
Como surgiu o convite?
Em 1963 o jovem e garboso rapaz ganhara o prêmio de Melhor Solista do I Festival de Jazz e Bossa Nova do Atlântico Sul, realizado na SAT (Sociedade Amigos de Tramandaí, cidade de veraneio do litoral norte do RS). O festival era organizado por – olha ele aí de novo! – Glênio Reis. E estrelado pela maior cantora do estado, uma Elis Regina de também 18 anos mas já com quatro discos lançados e prestes a ir embora para tentar a vida no Rio de Janeiro.
[Continua...]