Porto Alegre: uma biografia musical

Capítulo LXXIX – Um milhão de melódicos melodiosos – ou: os anos de transição (Parte 25)

Change Size Text
Capítulo LXXIX – Um milhão de melódicos melodiosos – ou: os anos de transição (Parte 25) Com a cantora Érica Norimar, no final dos anos 1960, em Porto Alegre
Lupicínio Moraes Rodrigues, o Mutinho (Porto Alegre, 4/2/1941), começou a tocar aos 15 anos da idade, na boate Vogue, na Avenida Farrapos. Mas como, menor de idade e tal? Bom, é que a boate era do seu tio, Lupicínio Rodrigues.  Em 2017 ele lembrava bem dos presentes de Lupi, como contou para o jornal O Globo: Ele me deu minha primeira bateria, meu primeiro emprego e minha primeira mulher. Foi ali que o pianista Adão Pinheiro viu o garoto e se encantou. O ano era 1957, e Adão leva o guri pra tocar com ele primeiro na rádio Itaí e, em 1960, no badalado Conjunto Flamboyant. Que havia sido fundado no ano anterior, tinha um grande baterista, Sumerval Baraldo, mas que era meio old school, e a onda agora era a especialidade de Mutinho: a bossa nova. Mutinho no Flamboyant Já com ele nas baquetas e vassourinhas, o Flamboyant ganha o segundo lugar no primeiro Festival Nacional de Conjuntos. E, graças a isso, é convidado a gravar seu único disco, pela Continental: O que se dança às margens do Guaíba, lançado em 1961. Nele, já havia uma canção de Mutinho, que começava a revelar seu talento de compositor no samba Moreninha.  A partir daí, e ao longo dos anos 1960 Mutinho foi se tornando um dos mais badalados bateristas da cena dos conjuntos melódicos. Mas não só dessa cena, como bem lembrava o músico Telmo Kothlar em 2005: A turma do Mamão, Celso Marques, Mutinho, Poli (do baixo), Bigode (Wladimir Lattuada), Cidinho, Nenê, era mais chegada a tocar jazz (cool, progressivo, ou mesmo free jazz – nunca swing jazz, bepob, west coast, etc), eles gostavam era de entortar.   Paralelo aos bailes e ao jazz, Mutinho também fazia parte da turma do violonista e compositor Ivaldo Roque e do compositor João Palmeiro, que se dedicava com afinco à bossa nova em terras gaúchas, reunindo-se em locais como o Clube de Cultura, que havia sido fundado pela ala mais progressista da comunidade judaica do bairro do Bom Fim.  João e Mutinho se tornam uma frutífera e eclética dupla de compositores. Até o carnaval de 1969 eles ajudaram a escola de samba Praiana a ganhar, com o Samba da Borges. Sim, os desfiles de Carnaval eram então na avenida Borges de Medeiros. Em 22 de maio de 1963 acontece, no chiquérrimo Cotillon Club, o “lançamento da dança da bossa em Porto Alegre”, no show Pequena História da Bossa Nova, que tinha como atrações Luiz Henrique e Conjunto, João Palmeiro, Mutinho e a muito jovem Elis Regina. A mesma Elis, já estrela local, que gravaria em seu terceiro LP – Ellis Regina, de 1963 – Tristeza de Carnaval, uma bossa de Mutinho e Bidú. Até o final da década terão ido embora de Porto Alegre Elis, Sergio Mamão (multi-instrumentista), Nenê (acordeonista e baterista), Cidinho (pianista) e Mutinho. Nenê, por exemplo, se tornou um dos maiores bateristas do Brasil, tocando em espetáculos como Falso Brilhante, de Elis, e em grupos como a Academia de Danças, de Egberto Gismonti. E […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.