Arthur de Faria | Porto Alegre: uma biografia musical

Dante Santoro, o Canário Rio-Grandense (Parte II)

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Dante Santoro, o Canário Rio-Grandense (Parte II) Dante Santoro Dante Santoro gravou muito, com muitas formações diferentes. E, mesmo sendo prolífico compositor, permaneceu a vida inteira fiel a seu primeiro mestre, Octavio Dutra, levando à cera, a cada tanto, músicas do sujeito que o “degenerou” da música erudita para a popular.   Foi assim desde a estreia. Seu primeiro disco, um 78 rpm gravado em 1934 para a gigante RCA Victor, reunia duas valsas octavianas: Saudades do Jango e Beatriz. O Regional de Dante Santoro ainda não existia, e o trio que o acompanha é da pesada: Luperce Miranda no bandolim, mais Manoel Lima e Tute nos violões terçando ornamentos. No mesmo ano, novo disco com o mesmo time e mais uma de Octavio (Nilva), junto à sua estreia como compositor, na quase homônima Hilva.  No ano seguinte, mais quatro discos, sempre para a RCA. Oito valsas e choros – sete deles, composições próprias -, acompanhadas pelo Conjunto Regional Victor. Lindezas como a lírica valsa valsa Gilka ou os choros Não Tem Pra Ti ou Esquecimento. Este último, escrito aos 19 anos, originalmente se chamava Chorinho Gostoso, e tem uma versão que funde à perfeição choro e música de câmara, escrita para uma formação das mais inusitadas: flauta, violino tocado no colo, em pizzicato, cello e contrabaixo. O manuscrito se encontra com a família, mas você pode ouvir uma gravação feita deste arranjo nos anos 1990, num disco produzido por este servidor: As Origens, da série Música de Porto Alegre.  (Quase todos os discos de Dante são escutáveis no site Discografia Brasileira, do Instituto Moreira Salles; já essa gravação de 1993 está em uma das páginas chamadas A Música de Porto Alegre, de Arthur de Faria, no Soundcloud).  Em 1937 são vários discos. Entre eles, um dos que são assinados por Dante Santoro e Seu Conjunto incorpora ao grupo um acordeonista – coisa rara nesse momento. Acaso ou não, soa deveras gaúcho, com uma rancheira (no selo consta: “valsa”) chamada Dores D´Alma (José Bittencourt) num lado e o chotes (no selo: “choro”) É Logo Ali, de Dante, do outro.  Até o começo dos anos 1950 ele lançaria discos com regularidade, às vezes vários num mesmo ano. E ainda que compusesse basicamente temas instrumentais, faria sucesso com algumas canções saídas de sua pena, letradas por parceiros como o irmão Godofredo Santoro ou a poetisa paraense Scylla Gusmão. Canções estas gravadas, entre outros, pelos quatro mais famosos intérpretes masculinos da primeira metade do século XX: Vicente Celestino, Orlando Silva, Sílvio Caldas e Francisco Alves. Como o grande hit Vidas Maltraçadas, escrito em 1943 sob encomenda de um dos principais autores de radionovelas da Rádio Nacional, Giuseppe Ghiarone. Com letra de Scylla, ela viria a ser o maior sucesso do Dante compositor.   Outra parceria com Giuseppe Ghiarone, esta com letra do dramaturgo, é o tema da radionovela Lamento Árabe. O melhor – e possivelmente o único – bolero oriental da história da música brasileira:   PartiuNa caravana da ilusãoQuem tem o ouro do sultãoPra comprar o seu amorFugiu!A tribo inteira entristeceu,Todo o deserto escureceu,O céu de Alá chorou de dor! Da virada da nova década são alguns de seus melhores registros. De 1949 é a versão para […]

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Dante Santoro Dante Santoro gravou muito, com muitas formações diferentes. E, mesmo sendo prolífico compositor, permaneceu a vida inteira fiel a seu primeiro mestre, Octavio Dutra, levando à cera, a cada tanto, músicas do sujeito que o “degenerou” da música erudita para a popular.   Foi assim desde a estreia. Seu primeiro disco, um 78 rpm gravado em 1934 para a gigante RCA Victor, reunia duas valsas octavianas: Saudades do Jango e Beatriz. O Regional de Dante Santoro ainda não existia, e o trio que o acompanha é da pesada: Luperce Miranda no bandolim, mais Manoel Lima e Tute nos violões terçando ornamentos. No mesmo ano, novo disco com o mesmo time e mais uma de Octavio (Nilva), junto à sua estreia como compositor, na quase homônima Hilva.  No ano seguinte, mais quatro discos, sempre para a RCA. Oito valsas e choros – sete deles, composições próprias -, acompanhadas pelo Conjunto Regional Victor. Lindezas como a lírica valsa valsa Gilka ou os choros Não Tem Pra Ti ou Esquecimento. Este último, escrito aos 19 anos, originalmente se chamava Chorinho Gostoso, e tem uma versão que funde à perfeição choro e música de câmara, escrita para uma formação das mais inusitadas: flauta, violino tocado no colo, em pizzicato, cello e contrabaixo. O manuscrito se encontra com a família, mas você pode ouvir uma gravação feita deste arranjo nos anos 1990, num disco produzido por este servidor: As Origens, da série Música de Porto Alegre.  (Quase todos os discos de Dante são escutáveis no site Discografia Brasileira, do Instituto Moreira Salles; já essa gravação de 1993 está em uma das páginas chamadas A Música de Porto Alegre, de Arthur de Faria, no Soundcloud).  Em 1937 são vários discos. Entre eles, um dos que são assinados por Dante Santoro e Seu Conjunto incorpora ao grupo um acordeonista – coisa rara nesse momento. Acaso ou não, soa deveras gaúcho, com uma rancheira (no selo consta: “valsa”) chamada Dores D´Alma (José Bittencourt) num lado e o chotes (no selo: “choro”) É Logo Ali, de Dante, do outro.  Até o começo dos anos 1950 ele lançaria discos com regularidade, às vezes vários num mesmo ano. E ainda que compusesse basicamente temas instrumentais, faria sucesso com algumas canções saídas de sua pena, letradas por parceiros como o irmão Godofredo Santoro ou a poetisa paraense Scylla Gusmão. Canções estas gravadas, entre outros, pelos quatro mais famosos intérpretes masculinos da primeira metade do século XX: Vicente Celestino, Orlando Silva, Sílvio Caldas e Francisco Alves. Como o grande hit Vidas Maltraçadas, escrito em 1943 sob encomenda de um dos principais autores de radionovelas da Rádio Nacional, Giuseppe Ghiarone. Com letra de Scylla, ela viria a ser o maior sucesso do Dante compositor.   Outra parceria com Giuseppe Ghiarone, esta com letra do dramaturgo, é o tema da radionovela Lamento Árabe. O melhor – e possivelmente o único – bolero oriental da história da música brasileira:   PartiuNa caravana da ilusãoQuem tem o ouro do sultãoPra comprar o seu amorFugiu!A tribo inteira entristeceu,Todo o deserto escureceu,O céu de Alá chorou de dor! Da virada da nova década são alguns de seus melhores registros. De 1949 é a versão para […]

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