Arthur de Faria | Porto Alegre: uma biografia musical

Paulo Coelho, o rival de si mesmo – Capítulo XXVI

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Paulo Coelho, o rival de si mesmo – Capítulo XXVI Paulo Coelho (ao piano) ao lado de Carmen Miranda nos anos 1930. Foto: acervo A Canto
Toda cidade – principalmente as mais periféricas em relação às decisões da indústria cultural – tem essas figuras mais lembradas pela lenda do que por registros concretos do que fizeram. Porto Alegre tem várias dessas. Na música, uma das maiores é a do pianista e compositor Paulo Coelho. Nascido dia 11 de fevereiro de 1910, no então bucólico Alto da Bronze (parte alta do centro histórico de Porto Alegre), Paulo de Almeida Coelho teve uma iniciação musical sólida, como outros gênios da sua geração: Radamés Gnattali (nascido em 1906) e Dante Santoro (1904). O pai de Paulo, Luís Machado Coelho, era professor de violoncelo. A mãe, Dona Aspásia, dava aulas de piano. E seu padrinho de batismo e primeiro professor era o já então respeitado compositor erudito José Araújo Vianna – de quem, aliás, herdaria o piano de estimação. O menino começara a dedilhar as teclas aos cinco anos. E divertia os amigos músicos de seus pais decifrando, nota a nota, qualquer acorde que se tocasse no piano. Mesmo que fosse um mero deixar cair de mãos sobre o teclado. Muitas lendas são contadas sobre esse período de formação. Lendas cujo fundo de “verdade” está em algum lugar entre o realmente acontecido e o delírio. Mas valem ser lembradas. Em seu livro de memórias Rua da Praia o multitalentoso Nilo Ruschel enumera umas tantas. Como a de que, aos cinco anos, Paulo teria sido levado por Araújo Vianna até a Casa Mariante (importante loja de música e editora de então), para que mostrasse seus dotes ao maior pianista num raio de milhares de quilômetros: o concertista mineiro internacional Guilherme Fontainha, então radicado na cidade, diretor do Conservatório de Música de Música de Porto Alegre, mestre e guru de Radamés Gnattali. O menino teria tocado um minueto trocando o tom da música na hora, já que o piano de sua casa tinha uma afinação diferente e era o tom que ele tinha na cabeça. Daí ter sido encaminhado imediatamente para estudar com o mestre. O que é facilmente comprovado é sua entrada no Conservatório (futuro Instituto de Artes da UFRGS): aos nove anos, em 1919. Tá lá no livro de matrícula. E como lembra a pesquisadora Julia Simões, que frequentou os arquivos do Conservatório, a matrícula foi feita por indicação da diretoria, “leia-se: pelo Fontainha”. Detalhe do livro de matrícula: indicação de Paulo Coelho feita pela diretoria Honrando a fama da sua geração, foi mais um de seus geniozinhos precoces: com nove anos compôs a primeira valsa. Aos 15 já estava formado em piano, com diploma de honra ao mérito. Só que, aos 15, Paulo já não era mais um menino: desde o ano anterior, assumira o posto de homem da casa. Seu pai morrera, e ele mal conseguira terminar o conservatório, compensando com o excesso de talento o que tinha de faltas às aulas para trabalhar. Guardou o diploma na gaveta, mudou-se com a família para a casa de uma tia e teve de se virar para ajudar nas contas. […]

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