Arthur de Faria | Porto Alegre: uma biografia musical

Radamés Gnattali (e Alexandre Gnattali e Chiquinho do Acordeom e Edu da Gaita…)

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Radamés Gnattali (e Alexandre Gnattali e Chiquinho do Acordeom e Edu da Gaita…) Radar é água alta, É fonte que nunca seca, É cachoeira de amor, É chorão rei de peteca. O Radar é concertista, compositor, pianista, orquestrador, maestrão. E, mais que tudo, é amigo, Navega junto contigo, É conta de doação. Ajuda a todo mundo E mais ajudou a mim. Alô, Radar, eu te ligo, Vamos tomar um chopinho. Aqui fala o Tom Jobim. Tom Jobim, claro. Quem ouviu jamais esquece. Você deve lembrar. A suave cama orquestral que, em 1937, ergue seus lençóis para receber um samba. Pela primeira vez flauta, clarinete, violinos, violoncelo, contrabaixo, piano e uma sutil bateria sendo utilizados na gravação de um gênero até então só acompanhado pelos chamados conjuntos regionais. Sob e sobre essas cobertas, a maviosa voz do jovem Orlando Silva deita e rola em Juramento Falso. Do outro lado do 78rpm, a valsa (gênero já acostumado a orquestras) Lábios Que Beijei. Meio obscuro pra você? Bom. Então  o tcham-tcham-tcham, tcham-tcham-tchã…-TCHAM! tcham-tcham-tcham, tcham-tcham-tchã…-TCHAM! que introduz Aquarela do Brasil, o cartão de visitas nacional desde 1940. Pegou essa? Mais fácil, né?  Vamos então pro exemplo três: o revolucionário tratamento camerístico, que soa bossa-nova 12 anos antes da Bossa-nova e faz Dick Farney derramar todo o mel de sua voz no samba-canção Copacabana, cercado por oito violinos, duas violas, cello, oboé, piano, violão, contrabaixo, percussão e bateria tocada com escovinhas. Em 1946. Mas trabalhemos com a possibilidade do amigo aí não ser lá muito afeito à música anterior ao advento do LP. Então… …exemplo quatro: a gloriosa bandinha pontuada por uma tuba que ilustra a marcha-rancho meio anos 1920 Rancho da Goiabada, cantada por João Bosco em 1976 (e João chamaria Radamés novamente nos discos Bandalhismo e Gagabirô). Nada disso tem registro na memória do amigo leitor? Então para de ler esse negócio e vai ouvir uns discos. (…) Voltou? Então vamo lá. Radamés bebê O autor de todas essas revolucionárias façanhas do arranjo nacional é o mesmo. Batizado com o épico nome de Radamés Gnattali, foi brilhante não só como arranjador – ainda que os tenha escrito para, creia, mais de 10 mil músicas, tão diferentes quanto Pirata da Perna de Pau (com Nuno Roland), Asa Branca (Luiz Gonzaga), General da Banda (Blecaute), Vida de Bailarina (Ângela Maria), Tema dos Deuses (Milton Nascimento) e Autonomia (Cartola). Esse mesmo sujeito foi brilhante em todas as outras áreas em que atuou. E foram muitas: pianista, maestro, band-leader, compositor erudito e popular. Não por acaso, ganhou no final da longa vida o apelido de Radar. Era mesmo um radar. Um radar que apontou, captou e sinalizou o que de melhor se fez em música brasileira ao longo de mais de 60 anos. E também um emissor de sinais, captados por várias gerações de músicos. Gente como dois dos maiores violonistas que o país já viu: Garoto, nos anos 1950, e Rafael Rabello, nos 1980.  Ou então, nosso maior compositor popular, Tom Jobim. Curiosamente, quando ainda morava em Porto Alegre, Radamés chegou a musicar poemas de Jorge Jobim, o pai de Tom, que […]

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Radar é água alta, É fonte que nunca seca, É cachoeira de amor, É chorão rei de peteca. O Radar é concertista, compositor, pianista, orquestrador, maestrão. E, mais que tudo, é amigo, Navega junto contigo, É conta de doação. Ajuda a todo mundo E mais ajudou a mim. Alô, Radar, eu te ligo, Vamos tomar um chopinho. Aqui fala o Tom Jobim. Tom Jobim, claro. Quem ouviu jamais esquece. Você deve lembrar. A suave cama orquestral que, em 1937, ergue seus lençóis para receber um samba. Pela primeira vez flauta, clarinete, violinos, violoncelo, contrabaixo, piano e uma sutil bateria sendo utilizados na gravação de um gênero até então só acompanhado pelos chamados conjuntos regionais. Sob e sobre essas cobertas, a maviosa voz do jovem Orlando Silva deita e rola em Juramento Falso. Do outro lado do 78rpm, a valsa (gênero já acostumado a orquestras) Lábios Que Beijei. Meio obscuro pra você? Bom. Então  o tcham-tcham-tcham, tcham-tcham-tchã…-TCHAM! tcham-tcham-tcham, tcham-tcham-tchã…-TCHAM! que introduz Aquarela do Brasil, o cartão de visitas nacional desde 1940. Pegou essa? Mais fácil, né?  Vamos então pro exemplo três: o revolucionário tratamento camerístico, que soa bossa-nova 12 anos antes da Bossa-nova e faz Dick Farney derramar todo o mel de sua voz no samba-canção Copacabana, cercado por oito violinos, duas violas, cello, oboé, piano, violão, contrabaixo, percussão e bateria tocada com escovinhas. Em 1946. Mas trabalhemos com a possibilidade do amigo aí não ser lá muito afeito à música anterior ao advento do LP. Então… …exemplo quatro: a gloriosa bandinha pontuada por uma tuba que ilustra a marcha-rancho meio anos 1920 Rancho da Goiabada, cantada por João Bosco em 1976 (e João chamaria Radamés novamente nos discos Bandalhismo e Gagabirô). Nada disso tem registro na memória do amigo leitor? Então para de ler esse negócio e vai ouvir uns discos. (…) Voltou? Então vamo lá. Radamés bebê O autor de todas essas revolucionárias façanhas do arranjo nacional é o mesmo. Batizado com o épico nome de Radamés Gnattali, foi brilhante não só como arranjador – ainda que os tenha escrito para, creia, mais de 10 mil músicas, tão diferentes quanto Pirata da Perna de Pau (com Nuno Roland), Asa Branca (Luiz Gonzaga), General da Banda (Blecaute), Vida de Bailarina (Ângela Maria), Tema dos Deuses (Milton Nascimento) e Autonomia (Cartola). Esse mesmo sujeito foi brilhante em todas as outras áreas em que atuou. E foram muitas: pianista, maestro, band-leader, compositor erudito e popular. Não por acaso, ganhou no final da longa vida o apelido de Radar. Era mesmo um radar. Um radar que apontou, captou e sinalizou o que de melhor se fez em música brasileira ao longo de mais de 60 anos. E também um emissor de sinais, captados por várias gerações de músicos. Gente como dois dos maiores violonistas que o país já viu: Garoto, nos anos 1950, e Rafael Rabello, nos 1980.  Ou então, nosso maior compositor popular, Tom Jobim. Curiosamente, quando ainda morava em Porto Alegre, Radamés chegou a musicar poemas de Jorge Jobim, o pai de Tom, que […]

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