Projeto “Água Viva” reflete sobre lixo nas águas do Guaíba
O projeto Água Viva, idealizado pela multiartista Consuelo Vallandro, será apresentado neste domingo (4/6), às 18h, no Pórtico Central do Cais do Porto (Avenida Mauá, 1050). A iniciativa visa sensibilizar o público para a importância das águas do Guaíba e questões envolvendo a produção de lixo.
Viabilizado pelo edital de Eventos Descentralizados do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural (Fumproarte), da Secretaria Municipal de Cultura, o projetou reuniu, além de Vallandro e moradores da Ilha da Pintada, os artistas Bárbara Velasque, Fabrício Costa Castanhedo, Giórgia Santos, Naira Moura e Tutu Alcântara em um encontro com a comunidade da ilha na praça Salomão Pires – registrado em vídeo e fotografias –, realizado para que o público pudesse produzir imagens usando objetos coletados previamente nas águas do Guaíba.
No evento de domingo, intitulado Projeções, Vallandro projetará as imagens captadas na ilha e comentará o projeto ao lado de participantes e convidados, como o artista Ben Berardi, do Instituto Zoravia Bettiol, e representantes do Coletivo Cais Cultural Já.
Leia a entrevista com Consuelo Vallandro.
Como surgiu o projeto?
O Projeto Água Viva surgiu de um compromisso pessoal de vida que assumi há algum tempo. Sou devota das orixás das águas, Oxum e Yemanjá. Um dia, fui à beira de uma praia para deixar uma flor e olhei em volta… Caiu uma ficha. Naquele momento, percebi que o melhor presente que eu poderia ofertar seria justamente, em vez de dar flores, tirar o tanto de lixo que eu via em meio à areia. Passei a fazer isso sistematicamente toda vez que me encontro próxima à beira de um rio ou do mar – por vezes, levo sacos de lixo e fico catando.
Depois de um tempo, como trabalho com performance, tive a ideia de transformar esta ação em arte e de envolver mais pessoas. Daí surgiu a proposta de fazer um projeto para chamar artistas da comunidade ribeirinha de Porto Alegre para pensar e retratar lixo encontrado nas águas próximas de suas casas.
Onde exatamente foram realizadas as primeiras atividades?
Tivemos duas atividades que se interligaram: pela manhã saímos com o barco de um pescador local, o Jociel, ou Joci, como é chamado. Circulamos pela região de barco, passando pela Ilha da Pintada e pela Ilha da Casa da Pólvora, parando em algumas margens para coletar o material. A segunda foi a exposição de todo o material coletado na praça Salomão Pires, e um convite ao público presente para nos dar sugestões de imagens possíveis a serem construídas na hora com o lixo – que virou figurino e cenário para as cenas que construímos coletivamente.
Como foram as trocas com a comunidade da ilha?
Pude conviver e conversar com os moradores da Ilha da Pintada, que parece tão separada da cidade que costuma ser tratada por todo mundo como se fosse outro município. Percebi a dificuldade de transporte e o isolamento da comunidade. Ouvi histórias fantásticas dos mais velhos, que já viveram inúmeras enchentes e perderam tudo o que tinham, mas seguiram ali reconstruindo suas casas. Da parte dos artistas locais, foi bonito ouvir as histórias de quando eram crianças e nadavam e brincavam no Guaíba, algo que não podem fazer mais justamente por causa da poluição. Abrimos os olhos para muitas destas questões socioambientais.
Quais outras reflexões você destaca a partir dessas experiências?
O projeto tem a função de jogar na nossa cara o que tentamos esconder embaixo do tapete – o tapete sendo, nesse caso, o Guaíba. Coletamos objetos humanos de tudo quanto é tipo: brinquedos, lâmpadas, enfeites, garrafas, potes, embalagens, uma centena de calçados e até colchões e estofados. A questão é que precisamos lidar com o fato de que a expressão “jogar fora” nos traz uma ilusão conceitual de que existe um “fora”, quando habitamos todos um mesmo e único lugar: o planeta Terra. Precisamos entender que os nossos resíduos sempre estarão dentro do nosso ecossistema macro e que sempre algum ambiente será prejudicado por um descarte irresponsável, mesmo que de uma única garrafinha. Também há nessa proposta um deslocamento conceitual do que é lixo e do que é arte, através da experimentação do uso estético dos resíduos.
domingo, 04 a 04 de junho de 2023 | 18h00
Cais do Porto (Avenida Mauá, 1050)