FestFoto 2023: José Diniz exibe “Pau-Brazil”
O Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre – FestFoto 2023 ocupa dois andares da Fundação Iberê até 20 de agosto, reunindo mais de 200 trabalhos. A exposição tem entre seus destaques a mostra individual Pau-Brazil, do artista fluminense José Diniz, que apresenta 53 obras entre fotografias, vídeos, monotipias, colagens e livros de artista.
O interesse de Diniz pela temática do pau-brasil foi se consolidando ao longo de mais de uma década, entre leituras do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, e pesquisas sobre a exploração da costa brasileira durante os processos de colonização.
“Na pandemia, retomei esses trabalhos. Caminhando pelo meu bairro [Camboinhas, em Niterói (RJ)], fui descobrindo exemplares de pau-brasil em calçadas e praças. Comecei a acompanhar a floração e o crescimento das árvores e fui a campo para encontrar árvores nativas de pau-brasil”, recorda o fotógrafo, destacando incursões em Búzios (RJ), Cabo Frio (RJ) e no Parque Nacional do Pau Brasil, em Porto Seguro (BA).
Diniz dedica especial atenção aos pigmentos que se originam a partir do cozimento da serragem do pau-brasil – viabilizada junto a produtores que manejam a espécie de modo sustentável. A depender do material das panelas utilizadas, as cores resultantes variam entre tonalidades mais claras ou escuras, um efeito da interação da brasilina – substância corante do pau-brasil – com diferentes índices de pH dos elementos envolvidos na cocção.
O método utilizado por Diniz é inspirado em receitas de tinturaria do século 16 estudadas pelo artista, que utiliza sobretudo papel para os tingimentos, mais tarde digitalizados para contornar o acelerado desbotamento dos pigmentos. “As cores obtidas – púrpura, carmim, alaranjado – ligam-se metaforicamente ao poder instituído. Historicamente, remetem aos trajes da nobreza e da classe eclesiásticas em suas vestimentas. Simbolicamente, remontam ao sangue, à paixão, ao fogo, ao desejo”, observa a curadora Márcia Mello.
As tonalidades ora compõem monotipias e paletas, ora dialogam com fotografias e outros materiais – como na série Jornal do Brasil, na qual o artista intervém em edições do periódico que abordam temas como a exploração de seres humanos e recursos naturais ao longo da história do país. “Quando falamos ‘Brasil’, muitas vezes não nos damos conta do quanto esse processo custou para os povos originários e os negros escravizados”, afirma Diniz, destacando também o desmatamento dos biomas nacionais como um dos elementos que motivam sua produção.
As temáticas do extrativismo e dos símbolos nacionais ganham evidência na obra Bandeira Ibirapitanga – nome tupi-guarani do pau-brasil –, com seus tons de amarelo e vermelho e composição que evidencia a ênfase gráfica e geométrica de diversos trabalhos do artista.
Hoje com 68 anos, Diniz começou a fotografar ainda criança, incentivado pelo avô, um dos fundadores da Sociedade Fluminense de Fotografia. Ao lado do pai, artista plástico e professor de geometria, seguiu experimentando com diferentes técnicas e materiais. Desde os 35 anos, também se dedica ao design gráfico, após estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. “Nunca mais saí de lá”, conta o artista, que no ano passado atravessou o Atlântico para exibir Bois Brésil em Saint-Ouen, nos arredores de Paris, na França, levando seus trabalhos e reflexões para um dos principais destinos da exploração do pau-brasil.
—