Artes Visuais | Reportagens

Fundação Iberê receberá mostra individual de Eduardo Haesbaert

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Fundação Iberê receberá mostra individual de Eduardo Haesbaert Obra em produção de Eduardo Haesbaert. Foto: Cortesia do artista

A exposição que Eduardo Haesbaert prepara atualmente em seu ateliê completa um ciclo iniciado em 1989. Naquele ano, apresentado pelo amigo em comum Gelson Radaelli (1960-2020), Haesbaert fez um teste para se tornar assistente de Iberê Camargo (1914-1994). Trinta e um anos depois desse encontro, o artista está produzindo cerca de 20 trabalhos inéditos, que serão exibidos na Fundação Iberê, em mostra individual com inauguração prevista para 1º de maio. 

“Me criei ali, nesses 31 anos. Vi tudo acontecer. É uma retribuição, um presente poder expor na Fundação”, conta Haesbaert, que é coordenador do Ateliê de Gravura da Fundação Iberê. “Essa exposição acontece num momento em que meu trabalho está mais forte. Todo esse tempo, desde a prática no antigo ateliê do Iberê, convidando artistas, foi uma escola para mim”, reflete Haesbaert, que tem obras nos acervos do MARGS e do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS) e é representado pela Galeria Bolsa de Arte.

Nascido em 1968, em Faxinal do Soturno (RS), o artista iniciou seus estudos na Escola ASPES, em Santana do Livramento, em 1980. Mais tarde, de 1986 a 1989, especializou-se em gravura em metal no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, experiência fundamental para desenvolver a técnica com Iberê – que buscava o auxílio de um impressor – entre 1990 e 1994.

“Sempre usei muito material improvisado. Cheguei lá [no ateliê de Iberê], tinha prensa alemã, papel alemão, tinta francesa. Era um mel. Esse ateliê mexeu comigo”, relembra  Haesbaert. Do dia a dia com o mestre, o artista destaca a postura de Iberê de viver a arte como ofício – “era um homem vivendo da sua profissão” –, uma perspectiva que acompanha Haesbaert até hoje e que ele ressalta ao valorizar a experiência de ateliê e o fazer manual: “preciso disso, não conseguiria fazer de outra forma”.

Outra característica que Haesbaert destaca em sua atuação é o convívio com outros artistas, potência explorada ao máximo no programa Artista Convidado, que ele desenvolve na Fundação Iberê e que já recebeu mais de cem artistas de projeção nacional e internacional, com o objetivo de criar trabalhos inéditos.

Entre as lembranças marcantes do projeto, Haesbaert recorda as trocas com o artista carioca Waltercio Caldas, um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira, cujas obras têm como marca a leveza e a limpeza das formas – não exatamente as características mais associadas a um ateliê de gravura, o que inicialmente deixou Haesbaert um tanto apreensivo. “Preparo a matriz, uma régua, uma ponta de metal. Ele traça três, quatro retas. Fura o papel e passa uma linha. Faz um carimbinho, carimba em cima. Ficou perfeito”, recorda.

Uma trajetória em ateliê 

A imersão nas minúcias da gravura ao lado de nomes como Iberê e Waltercio proporcionou a matéria para as experimentações autorais de Haesbaert. Ele parte de princípios básicos da produção de gravuras para explorar o desenho e a pintura, utilizando pastel seco, pigmentos e tinta a óleo. Em suas obras, a própria superfície da tela ganha evidência: por vezes, revelando áreas brancas que foram protegidas por fitas durante a pintura; em outras, com o tecido rasurado, apresentando diferentes texturas.

Obra em produção de Eduardo Haesbaert. Foto: Cortesia do artista

Além de usar as mãos para esfregar carvão em pó sobre a tela, Haesbaert também utiliza o corpo inteiro como ferramenta em alguns trabalhos. “Fico negro com o carbono. Às vezes coloco um colchão no ateliê e abro o papel de rolo. Sem roupa mesmo. O ruim é tirar o pigmento do corpo depois. Uma batalha”, diverte-se.

Eduardo Haesbaert em seu ateliê. Foto: Marta Biavaschi

Não à toa, a cor preta ganha evidência nas obras de Haesbaert. Em texto curatorial para a exposição Negro de Fumo (2015), apresentada pela Galeria Bolsa de Arte, o artista visual e ensaísta Nuno Ramos aponta: “é sempre a sombra, como uma matéria semi-sólida esparramando-se por tudo, que protagoniza sua obra. Parece estar tanto nas coisas como no intervalo entre elas, fazendo com que troquem de lugar para revelar uma origem (e uma espessura) comum”. “Há uma tranquila obscuridade aqui, de um artista acostumado ao tráfico minucioso e diário com os materiais e seus efeitos”, completa Ramos.

Ateliê de Eduardo Haesbaert. Foto: Cortesia do artista

“Uma Babel que explodiu”

Na exposição (ainda sem título) a ser realizada em maio, além de obras que evocam paisagens urbanas arruinadas – “uma Babel que explodiu”, nas palavras do artista –, Haesbaert também pretende apresentar monotipias e uma homenagem a Gelson Radaelli. 

“Era um cara agregador, que ajudou muita gente das artes, do cinema, do teatro. Um grande amigo”, conta Haesbaert, que em dezembro publicou um depoimento em GZH sobre sua relação de longa data com o pintor, falecido no mês passado.

Em meio a tantas camadas de trocas com outros artistas e experimentações a partir da gravura, Haesbaert resume o que poderá ser visto na Fundação Iberê elencando, de forma sucinta, os elementos fundamentais de seu ofício: “papel, pigmento, tela, minha mão e meu pensamento”.

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