As nuvens de escuta do FestFoto POA 2021
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Em formato totalmente online pelo segundo ano consecutivo, o Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre (FestFoto POA) chega a sua 14ª edição. O tema do evento em 2021, Fotografia e Silêncio – Nuvens de Escuta, alude ao calar imposto pelo isolamento social e às potencialidades de troca e atenção que ganharam contornos imagéticos durante a pandemia.
“Para a edição de 2020, estávamos trabalhando com a ideia de emergências – jamais pensamos que seria um vírus – do que não era dito, das populações alijadas e dos combates sociais da América Latina. Processos negligenciados há anos que a pandemia também colocou em evidência. A fotografia acompanha esses movimentos. Ao recortar, juntar e construir uma narrativa visual sobre o que estamos vivendo, é possível enxergar relações”, afirma Sinara Sandri, idealizadora do festival ao lado do fotógrafo Carlos Carvalho.
Na edição de 2021 do festival, questões como a violência contra as mulheres e a necessidade de se construir novas relações com o entorno se destacam nos trabalhos selecionados – dessa vez, atravessados pelas circunstâncias da pandemia. Ao todo, 20 videoexposições – com produções fotográficas e multimídia – serão apresentados no site do FestFoto POA a partir de sexta-feira (23/4), às 18h30, quando acontece a abertura oficial do evento.
Na sequência, às 19h, o primeiro painel do evento discute a fotografia modernista brasileira, tendo como convidada a curadora do Departamento de Fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), Sarah Meister. Gratuitas e online, as atividades do FestFoto se concentram entre os dias 23 e 29 de abril com painéis temáticos e apresentações dos trabalhos selecionados para a mostra Fotograma Livre. Até o final de maio, o festival ainda realiza leituras de portfólio e um takeover de suas redes sociais por artistas estrangeiros – confira a programação completa no final da matéria.
Narrativas de silêncio e escuta
O FestFoto POA 2021 consagrou Onde os Sonhos se Escondem, de Thiago Guimarães Azevedo (Belém/PA), como trabalho vencedor na categoria Portfólio. Nas 10 imagens da série, o fotógrafo reflete sobre o real e o imaginado no universo amazônico, com fotografias obtidas na Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá e na Ilha de Marajó, no Pará.
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Na categoria Multimídia, a paulistana radicada na Itália Madame Pagu venceu com a série 3 x 4, na qual reflete sobre a violência contra as mulheres, agravada no contexto da pandemia.
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O projeto coletivo obs-cu-ra, concebido por Bruno Alencastro, porto-alegrense radicado no Rio de Janeiro, também integra as videoexposições do FestFoto POA 2021. O fotógrafo utilizou a estrutura física de seu apartamento para criar uma câmera escura – técnica fundamental da fotografia pela qual a luz de um ambiente é projetada, através de um orifício, no interior de um espaço sem iluminação.
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Há mais de uma década, FestFoto dá visibilidade a fotógrafos e coloca Porto Alegre no circuito internacional da fotografia
O FestFoto POA nasceu em 2007 com o objetivo de ser um espaço de reflexão e visibilidade, situando Porto Alegre no mapa-múndi de eventos dedicados à fotografia. “Quando lançamos o festival, respondemos a um debate que já existia em Porto Alegre – a ideia de um evento específico de fotografia. Tínhamos [Carlos Carvalho e Sinara Sandri] nos mudado para a cidade há pouco tempo e nos demos conta de que as pessoas estavam num impasse e não conseguiam ‘botar o bloco na rua’. Buscamos um perfil viável que pudesse ser realizado rapidamente”, recorda Carvalho.
“Vínhamos de uma experiencia com a produção da exposição da coleção Pirelli/MASP de fotografia no MARGS, em 2005, quando percebemos mais nitidamente a potência da fotografia gaúcha e o papel dela no contexto nacional. Havia confiança de que estávamos em um local que tinha o que dizer, faltava o formato”, completa o coidealizador.
Sandri e Carvalho ressaltam que o formato de projeções fotográficas – no lugar de exposições com fotografias impressas –, característica do FestFoto POA ao longo de sua trajetória, tem inspiração em encontros de fotojornalistas de Rio de Janeiro e São Paulo durante a ditadura militar.
“Projetar era uma forma de mostrar o que não era publicado. Esses profissionais se organizavam e faziam isso circular. É visceral fotografar e querer que essa informação circule”, destaca Sandri. Com o passar do tempo e a popularização da captação digital de imagens, o formato de projeções do festival passou a integrar projetos fotográficos que utilizam o vídeo como linguagem – como é o caso de 3 x 4, da fotógrafa Madame Pagu.
Para além da visibilidade conferida a fotógrafos e da contribuição para a economia criativa local, o FestFoto POA busca estimular novos olhares. “O objetivo de um fotógrafo pode ser expor no MoMA, mas o vizinho pode querer simplesmente estar mais atento à cidade. À medida que se tem uma oportunidade de contato do público com esse circuito, a fotografia é um convite para as pessoas verem o cotidiano de forma mais lúdica, um estímulo a ter uma relação mais sensível com a realidade”, afirma Sandri.
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Confira a programação do FestFoto POA 2021. As transmissões acontecem pelo canal do festival no YouTube. Mais informações no site do evento.
23 de abril (sexta-feira)
18h30 – Abertura | Apresentação das videoexposições Fotograma Livre 2021 e do canal FestFoto no YouTube
19h – Painel Fotografia Modernista Brasileira | Palestra de Sarah Meister, curadora no Departamento de Fotografia do MoMA, com mediação de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Sales – painel com tradução para o português
Com curadoria de Sarah Meister, o MoMA inaugura em maio a exposição Fotoclubismo: Fotografia Modernista Brasileira, 1946–1964, primeira mostra de fotografia modernista brasileira fora do Brasil. A exposição terá como foco as realizações criativas do Foto Cine Clube Bandeirante de São Paulo, grupo de fotógrafos amadores aclamado no Brasil, mas desconhecido do público europeu e norte-americano.
24 de abril (sábado)
16h – Painel A Pandemia na América Latina | Live com o coletivo de fotojornalismo CovidLatam
Em 2020, em um esforço para testemunhar a pandemia à medida que ela se espalhava pelo continente, nove mulheres e nove homens ao redor da América Latina se reuniram para formar um novo coletivo: o COVID-Latam. Em 14 países, do México à Argentina, elas e eles relataram o que viram ao seu redor, e, em alguns casos, dentro de suas próprias casas. Destes registros o fotolivro RED FLAG nasceu como resultado do prêmio obtido pelo coletivo no concurso FotoEvidence/WorldPressPhoto.
17h30 – Apresentação Fotograma Livre 2021 | Pandemia, confinamento e violência
Trabalhos e artistas finalistas:
3 x 4, Madame Pagu
Caça às Palavras, Márcia Charnizon
A Dor da Pandemia, Sonia Do Couto Corrêa
Nenhum Dia Será Igual ao Outro, Igor Moura
25 de abril (domingo)
16h – Apresentação Fotograma Livre 2021 | Paisagens de memória
Trabalhos e artistas finalistas:
Journey to the Lowlands, Valeria Sacchetti
ARCHÈO, Tommaso Vitiello
Onde os Sonhos se Escondem, Thiago Guimarães Azevedo
17h30 – Painel Festival Imaginária e o Fotolivro no Brasil | Participação de José Fujocka e Luciana Molisani da editora Lovely House e apresentação de Jogo De Paciência, com Ana Sabiá (Fotograma Livre 2021 e premiado no Festival Imaginária), e de O choro Pode Durar uma Noite, Mas a Alegria Vem pela Manhã, de Erick Peres
Realizado em março de 2021, o Imaginária deu um panorama da produção de livros de fotografia no Brasil. José Fujocka e Luciana Molisani, da Editora Lovely House, falam sobre a feira e sobre os artistas premiados Ana Sabiá e Erick Peres, que também integram o painel.
26 de abril (segunda-feira)
18h – Painel Fotografia, Solidariedade e Pandemia | Participação de integrantes das galerias solidárias 150 Fotos pela Bahia, Fotos Pró Rio (RJ), 20×20 Galeria Solidária de Fotografia (SP) e POA150FOTOS (RS)
Desde o início da pandemia, inúmeras galerias solidárias arrecadaram fundos, através da venda de fotografias, para ajudar iniciativas sociais em apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade. Representantes das iniciativas POA150FOTOS, 150 Fotos Pela Bahia, Fotos Pró Rio (RJ) e 20×20 Galeria Solidária (SP) contam suas experiências na realização dos projetos. A presidente da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil, Isabel Gouvêa, participa da conversa para o lançamento do selo RPCFB – Foto contra a Fome, apoiando a criação de galerias solidárias para venda de fotos durante a pandemia.
19h30 – Apresentação Fotograma Livre 2021 | Fotografia e Silêncio
Trabalhos e artistas finalistas:
Voz do Silêncio, Nathalie Bohm
Arredores, Ulla Czekus
Quebrada, Helena Siemsen Giestas
Guardiões, Mateus Morbeck
27 de abril (terça-feira)
18h – Painel: Processos criativos compartilhados e pandemia | Participação de Bruno Alencastro e autores do obs-cu-ra (Fotograma Livre 2021)
Discute o processo de produção de obs-cu-ra (finalista do Fotograma Livre 2021), com Bruno Alencastro, Caroline Muller e Pedro Rocha. O trabalho feito durante a pandemia por um coletivo de autores foi realizado a partir da proposta do Bruno. Eles montaram uma câmara escura em casa, recuperando uma antiga técnica. No FestFoto POA, eles falam da atualização de um saber-fazer antigo da fotografia e a produção da fotografia em rede a partir do isolamento.
19h30 – Apresentação Fotograma Livre 2021 | Mutações urbanas
Trabalhos e artistas finalistas:
Nemo Non Videt, Mateus Morbeck
Urbe, José Roberto Bassul
Placebo, Flavio Edreira
28 de abril (quarta-feira)
18h – Painel Fluxus Fungus | Participação de Tuane Eggers e Rochele Zandavali
O fungo era a coisa mais temida nas lentes e na película do filme porque o seu ataque produzia interferências que eram entendidas como deterioração da superfície e estrago na imagem. As pesquisadoras aceitam a interferência e produzem a partir daí. A ideia central é a contaminação como eixo do processo criativo compartilhado entre humanos e não humanos.
19h30 – Apresentação Fotograma Livre 2021 | Arquivos | Contaminações
Trabalhos e artistas finalistas:
Diário de Memórias, Fernanda Chemale
Mulheres em Rosa e Azul, Renata Saad
Atravessamento e Constelação, Laura Aidar
Emerge, Marina Guitti
29 de abril (quinta-feira)
18h – Painel Cavalo de Santo | Participação da fotógrafa Mirian Fichtner
Fichtner apresenta o documentário longa-metragem Cavalo de Santo. O filme é baseado no livro homônimo que resulta de dez anos de pesquisas feito nos terreiros gaúchos e retrata o universo religioso afro-brasileiro no Rio Grande do Sul.