Música | Notas

“América do Sol” é o terceiro ato do novo disco do BaianaSystem

Change Size Text
“América do Sol” é o terceiro ato do novo disco do BaianaSystem Arte: Cartaxo/Divulgação

Como já havia sido sinalizado nos atos anteriores, América do Sol é um mergulho nas cores, na alegria, na luta, na identidade e nas conexões que unem a América Latina e nos trazem um sentimento de pertencimento a este território tão potente e grandioso.

Com participações de Bule-Bule, Rapadura, Carolaine e da chilena Claudia Manzo, América do Sol avança para o interior do Brasil e segue pelas infinitas fronteiras dos povos que formam este bloco continental ligados pela ancestralidade, pela força, pela música e por sua conexão com a natureza, a Terra Mãe. Uma viagem afrolatina com ecos de reggae, de samba, de salsa, de ijexá e tudo mais que os tambores, sopros, cordas e cantos que regem nossa história permitem.

O ato abre com a faixa Corneteiro Luís, uma “guajira” que conta a história do corneteiro Luís Lopes e sua incrível participação na batalha de Pirajá, fundamental para entender a independência da Bahia, e consequentemente do Brasil. O arranjo de sopro mais uma vez fica a cargo do Maestro Ubiratan Marques, que também toca piano acústico e estabelece um diálogo com o músico chileno Pablo Reyes, que faz sua participação no “Três” cubano, instrumento que traz grande identidade e um brilho especial para a música.

Em seguida ouvimos já na abertura o canto dos índios Suruís de Rondônia, num sample extraído do disco Paiter Merewá, gentilmente cedido pela cantora e pesquisadora Marlui Miranda. Junto a esse canto ouvimos o som da flauta do músico baiano Rodrigo Sestrem, que dão o tom da Dança de Airumã, um ijexá com cores de bandolim, piano e percussão, e um coro de vozes muito marcante feito pelas cantoras Ângela Lopo e Tita Alves.

Seguimos agora para um samba-reggae construído a partir da percussão orgânica e eletrônica, numa história guiada por Carolaine, cantora e poetisa de Salvador, nascida e criada no bairro do Pero Vaz. Iniciou escrevendo poesias e música de maneira autodidata até entrar para orquestra Neojibá, onde aprendeu contrabaixo acústico e teoria musical, participando da orquestra infantil da Neojibá e a partir daí desenvolveu seu estilo mesclando com suas influências de música brasileira, reggae e soul. A faixa, que tem a produção e mixagem do antigo parceiro Dudu Marote, tem também a participação do músico e ator Bukassa Kabengele, belga de origem congolesa que traz uma guitarra fincada em suas origens e grande influência da juju music.

O ato agora mergulha ainda mais profundamente na América Latina com a faixa instrumental Pachamama, uma espécie de reza que traz a primeira participação no álbum da artista chilena Claudia Manzo, que toca um instrumento chamado “Cuatro”, tradicional na Colômbia e Venezuela, além de compor e recitar os versos que dão título a faixa. Claudia fala sobre a nossa grande Mãe, a Terra, e a ligação dos povos ancestrais com seu lugar de origem.

Seguimos com os versos, e agora com o canto, de Claudia Manzo, que traz toda sua força para uma canção de resistência e esperança chamada Capucha. Capucha é o nome em espanhol para o capuz que é usado pelos revolucionários da América Latina em muitas de suas manifestações. Claudia compôs os versos e melodia dessa música para uma base (riddim) que foi usada para a canção do primeiro ato, Chapéu Panamá, explorando a estética dos soundsystems de usar uma base para outras versões e interpretações dando um novo sentido.

Das veias da América Latina seguimos caminhando e cantando pelo interior do Brasil para encontrar com os versos do Mestre Bule-Bule, que abre os caminhos do sertão com a faixa OXE. Carregada de bandolins, charango (instrumento sul-americano da família do alaúde) e berimbau, nossa caminhada chega a Fortaleza (Ceará) para incorporar a rima rápida e certeira do MC Rapadura, que traz de maneira renovada a tradição secular dos repentistas e trovadores nordestinos. Três linhas de rima desenham um caminho que cruza gerações pelo canto falado.

Essa tradição certamente tem em Bule-Bule uma de suas maiores referências e talvez um dos nomes mais conhecidos quando se trata de rima, reza, cordel e sabedoria popular. Em Vixe, ele segue dando mais uma aula sobre o sertão e seus personagens numa viagem desértica ao som da guitarra baiana, bandolim e guitarra.

E pra fechar o ato, um retorno a faixa Reza Forte, que abriu o primeiro ato, numa versão “charanga do futuro” chamada Reza Frevo, com a participação especial de Thiago França, que trouxe seus muitos instrumentos e todo seu talento para fechar essa viagem musical pela América do Sol.

Escute América do Sol aqui.

RELACIONADAS
PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?