Bel_Medula lança “Semente”
Nesta sexta-feira (11/6), a multiartista Isabel Nogueira lança nas plataformas digitais o novo trabalho do projeto solo Bel_Medula. Com 12 faixas, Semente apresenta as investigações da cantora e compositora em torno da voz como instrumento a partir de procedimentos da música experimental. “A ideia é poder construir diferentes camadas com a voz, mas não necessariamente formando uma harmonia, e sim texturas. Busco timbres e escolho como vou gravar e manipular os vocais”, conta.
Com capa assinada por Alfamor – relembre a entrevista com a artista polimorfa –, Semente começou a ser produzido em fevereiro de 2020, ainda com encontros presenciais. Desde então, ao longo da pandemia, gravações individuais foram realizadas por Bel_Medula e seus parceiros no álbum: Bruno Vargas (baixo), João Pedro Cé (guitarra), Lucas Giorgetta (bateria), Luciano Zanatta (sax, guitarra, baixo, sintetizadores, samplers e percussão eletrônica) e Pedro Nogueira (guitarra).
“Gosto de pensar a composição, a edição, a gravação, a mixagem e a masterização como partes do processo criativo. Muitas vezes as pessoas não conhecem mulheres que trabalham com essas questões mais técnicas. Acho importante marcar essa presença”, conta a pelotense Bel_Medula, que concilia a atuação como artista e produtora musical com a docência no curso de Música da UFRGS, onde coordena o grupo de pesquisa “Sônicas: gênero, corpo e música”.
“Se vamos numa universidade e vemos que a grande maioria de compositores, intérpretes, arranjadores, instrumentistas, produtores é de homens, como as mulheres vão dizer que podem pertencer àquele lugar?”, indaga a artista, que é doutora em musicologia pela Universidade Autônoma de Madri e foi mentora da Residência Concha, em 2019, entre outras iniciativas voltadas à presença das mulheres no meio musical.
As reflexões sobre gênero também fazem parte das composições de Semente, como em Dona Quixota. Com arranjos de saxofone, a música aborda padrões de comportamento impostos às mulheres. O clipe da faixa, assim como os demais vídeos do álbum, é fruto da parceria de Bel_Medula com Rieg Rodig, artista americano radicado em João Pessoa (PB).
Já em Os Ouvidos Têm Parede, a temática da escuta ganha evidência, na visão de Bel_Medula, “uma espécie de caminho guiado que exige uma abertura dos sentidos e uma disponibilidade para se deixar levar”.
Enquanto outros artistas evitam definir suas obras, Bel_Medula gosta de explorar as constelações de palavras que conceituam sua produção artística. “Tenho pensado em chamar de canção-eletrônica-experimental, sem muita convicção ainda, porque às vezes crio mantras, sem a estética da canção. Talvez pudesse dizer que é canção-mântrica-eletrônica-experimental, mas fica enorme”, diverte-se.