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Pesquisa revela hábitos culturais online adquiridos na pandemia

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Pesquisa revela hábitos culturais online adquiridos na pandemia Site da Mostra de Cinema de São Paulo. Foto: Reprodução

A pesquisa “Hábitos culturais na web adquiridos na pandemia”, realizada pelo Itaú Cultural em parceria com o Datafolha, trouxe novos dados sobre o consumo de cultura dos brasileiros em meio às restrições impostas pelo coronavírus – relembre a matéria e a entrevista sobre o estudo anterior desenvolvido pelas instituições.

Os dados revelam que o consumo cultural online foi maior entre aqueles que participaram de atividades culturais presenciais nos 12 meses anteriores à pesquisa, realizada na primeira quinzena de setembro. Outros destaques da investigação são os percentuais de 67% dos entrevistados que percebem uma democratização do acesso a conteúdos culturais na web e de 56% que declararam terem desenvolvido mais interesse no consumo online de atividades culturais.

“Por um lado, ficou evidente como o mundo cultural acolheu virtualmente as pessoas neste momento tão difícil para todos e o quanto os brasileiros estão usufruindo de conteúdos culturais na web. Por outro, escancarou a desigualdade digital, que precisa ser vencida o mais rápido e amplamente possível”, analisa Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural – confira a entrevista a seguir.

Segundo o estudo, 7% dos brasileiros não têm acesso algum à internet. A desconexão é maior na região Norte, com 42% dos entrevistados declarando que não acessam ou acessam pouco a rede. Outra diferença diz respeito ao uso em cidades pequenas e nos grandes centros urbanos: 49% dos indivíduos das regiões metropolitanas afirmam estar sempre ou quase sempre conectados, ao passo que no interior o índice é de 41%.

A pesquisa aponta que 57% dos brasileiros passaram a usar mais a internet durante os meses de pandemia, 36% mantiveram o padrão de acesso e 7% reduziram suas atividades virtuais. O levantamento mostra ainda que 71% utilizam a web todos os dias, enquanto 29% nunca acessam ou o fazem de modo esporádico.

Realizado por telefone, o levantamento ouviu 1.521 indivíduos, de 16 a 65 anos, em todas as regiões do país, de 5 e 14 de setembro. A pesquisa tem margem de erro de 3%para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

Cultura no ambiente virtual

Entre os entrevistados que acessam a internet, 84% dizem ouvir música online, 73% declaram assistir filmes e séries e 60% informam que veem shows no ambiente virtual. A leitura de livros e ingresso em cursos livres aparece em 38% das respostas. Outras categorias do mundo digital em destaque são jogos eletrônicos (34%), webinars (32%), atividades infantis (28%), podcasts (26%), espetáculos de teatro (21%) e visitas a museus e exposições (17%). 

O estudo aponta ainda que a intenção de manter as atividades culturais virtuais após a pandemia cai ligeiramente em todos os grupos, com uma redução maior no que se refere a shows online (redução de 60% para 53%).

Comportamento presencial reflete-se no digital

O estudo Itaú Cultural/Datafolha aponta que o consumo de conteúdos culturais no ambiente digital está relacionado à participação em atividades presenciais nos 12 meses anteriores à pesquisa. Entre os que foram ao cinema nesse intervalo, por exemplo, 87% disseram que assistem filmes e séries na web (14% a mais do que os 73% da amostra geral que declararam fazê-lo virtualmente).

Um cenário semelhante pode ser observado em relação a shows: o consumo virtual da atividade entre quem frequentou apresentações musicais presenciais no período que precede o estudo é de 72%, o que corresponde a 12% a mais que o percentual da mostra geral (60%) que assistiu a shows online durante a pandemia. A diferença é maior ainda em relação a atividades infantis (42% contra 28% da mostra geral) e a museus e exposições (36% contra 17%).

Saúde mental, convívio, conhecimento

A investigação revela também a percepção de benefícios do consumo de cultura no ambiente online durante a pandemia. Para 58% dos entrevistados, a realização de atividades culturais na web resultou em melhora no convívio doméstico – especialmente para os indivíduos entre 45 e 65 anos (grupo no qual o índice chegou a 66%) e para aqueles com menor escolaridade (65%). Os benefícios no relacionamento em casa foram mais percebidos por homens (63%) do que pelas mulheres (54%).

Entre os entrevistados, 54% declararam que as atividades culturais digitais contribuíram para diminuir a sensação de solidão, 45% apontaram redução de estresse e da ansiedade e 44% informaram melhora na qualidade de vida de modo geral.

A pesquisa Itaú Cultural/Datafolha mostra também que 57% dos respondentes gostam de assistir a programas ao vivo que discutam arte e questões atuais. Vídeos gravados com dicas para produzir arte interessam a 48% dos entrevistados. Visitar exposições e museus online e acompanhar oficinas para crianças desperta o interesse de 47% das pessoas. Destaque também para aulas de dança gravadas (39%) e bate-papos sobre música (32%) e teatro (28%).

Confira a entrevista com Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.

Quais os principais aspectos de desigualdade digital observados pela pesquisa?

A pesquisa nos trouxe um dado importante que é o de 67% dos entrevistados apontarem que houve uma democratização do acesso ao conteúdo cultural nas redes. Mas ela também espelha o que já sabíamos e a pandemia reafirmou como um grito: a tremenda desigualdade social existente no Brasil. Por um lado, ficou evidente como o mundo cultural acolheu virtualmente as pessoas neste momento tão difícil para todos e o quanto os brasileiros estão usufruindo de conteúdos culturais na web. Por outro, escancarou a desigualdade digital, que precisa ser vencida o mais rápido e amplamente possível. Os dados concretos trazidos pela pesquisa são que 7% dos brasileiros entrevistados não tem acesso algum à internet, sendo a região Norte a que tem o maior índice de desconectados no país, 42% não acessam ou acessam pouco a web e seus conteúdos.

A pesquisa também aponta manifestações de maior interesse por atividades culturais a partir do contato virtual durante a pandemia. Como você interpreta esses dados?

Já se tornou comum dizer que o mundo não será o mesmo após a pandemia, mas é um fato. Alguns dados da pesquisa revelam uma mudança de hábitos no universo virtual. Veja que a programação cultural na web durante esse período impactou fortemente a vida das pessoas: para 58% dos entrevistados, melhorou o relacionamento com os outros moradores da casa; 54% declararam que essas atividades ajudaram a diminuir a sensação de solidão; e 45% apontaram redução do estresse e da ansiedade. Para 44% o consumo de cultura virtual na pandemia contribuiu para melhorar a qualidade de vida de forma geral. Percebemos, também, que existe a intenção de continuar a fazer essas atividades virtuais após a pandemia, mas as pessoas ainda preferem o modo presencial.

Para além do consumo de produtos culturais das mais diversas linguagens, a pesquisa também aponta o interesse por transmissões ao vivo com ênfases em formação e conhecimento. De que forma o meio cultural pode aproveitar essa tendência?

Este é um resultado muito interessante e corrobora a necessidade de a cultura brasileira saltar para um modelo calcado na formação, fomento e fruição. Vê-se que existe demanda para esse tipo de oferta e é importante verificar que a web pode ser um meio para ajudar a incrementar a formação dos brasileiros. Para isso, no entanto, como já disse, é preciso vencer também a desigualdade digital, o mais rápido e amplamente possível e oferecendo velocidade com qualidade.

Quais são as conclusões gerais da pesquisa? É possível apontar novas tendências das atividades culturais a partir das experiências digitais da pandemia?

O que vemos nesta pesquisa – e o Itaú Cultural já vinha detectando antes da pandemia e mais acentuadamente hoje – é que estamos evoluindo para uma oferta cultural híbrida. Ou seja, devemos oferecer atividades tanto online quanto presenciais, mas de uma forma em que cada uma se aproprie ainda mais desses suportes interagindo a partir das tecnologias disponíveis. É preciso tratar esses dois universos a partir de suas múltiplas oportunidades entendendo o novo espaço de atuação que se traduz, como falei, no hibridismo, mas com o uso expandido do campo computacional. Por exemplo, com a realidade aumentada, interação do público com o artista em tempo real, aprofundamento da democratização do acesso.

Por fim, deixando a pesquisa um pouco de lado, mas ainda abordando o assunto das atividades digitais, como o Itaú Cultural avalia as iniciativas da instituição durante a pandemia?

Nós já vínhamos oferecendo cada vez mais atividades online em paralelo às presenciais. A suspensão social apenas acelerou um pouco o processo. De um dia para o outro, passamos a trabalhar nossa programação, cursos, debates, palestras no modo online, e a resposta foi imediata. De janeiro a agosto deste ano, nosso crescimento de visitas online, em relação ao mesmo período de 2019, foi de 114%. Nossas mostras de cinema pela web, um total de 18 desde o início do ano até agora, nas quais exibimos 101 filmes, tiveram quase 145 mil plays. A programação para crianças, que soma 96 vídeos, ou quase oito mil horas de exibição, teve mais de 130 mil visualizações.

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