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Músicos gaúchos têm turnês europeias frustradas por coronavírus

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Músicos gaúchos têm turnês europeias frustradas por coronavírus

por Gustavo Brigatti

Cartazes anunciando shows de grandes nomes do sertanejo, alguns deles com datas já esgotadas. Num luminoso de parada de ônibus, a cantora Anitta é destaque de festival. E o que não falta é publicidade do Rock in Rio. Poderia ser qualquer cidade do Brasil, mas é Lisboa, parada obrigatória para qualquer artista brasileiro de passagem pelo continente europeu – ou era, até a chegada do coronavírus.

Na rota da pandemia mundial, Portugal está em estado de alerta máximo. Na semana passada, o governo português proibiu eventos em recintos fechados com capacidade para mais de mil pessoas e ao ar livre para mais de 5 mil pessoas, além de suspender o funcionamento de discotecas e bares que tenham pistas de dança. Mas mesmo antes do direcionamento oficial, festivais, exposições, temporadas de teatro, shows, mostras e feiras previstas para acontecer entre março e junho vinham sendo canceladas ou postergadas para o segundo semestre.

Como era de se esperar, a derrubada do circuito cultural atingiu toda a cadeia produtiva, atrapalhando planos e bagunçando agendas – muitas vezes sem previsão de retomada. Morando há um ano em Lisboa e com seu primeiro disco solo previsto para sair no dia 20 de março, o músico gaúcho Rodolfo Krieger, ex-Cachorro Grande, já não sabe como vai trabalhar o lançamento.

“O show de lançamento aqui em Lisboa vai ser adiado e as negociações da turnê estão em suspenso até todos sabermos como vai ser”, lamenta. “Pretendo fazer algo na internet tocando as músicas ao vivo aqui de casa logo, logo.”

Em compasso de espera também está o produtor Thiago Piccoli, que tinha planos de levar o cantor Rubel em julho para um festival em Portugal. “Talvez tenhamos que repensar essa viagem”, diz ele, que já precisou cancelar o show que faria com a banda Fresno no dia 14 de março, em Lisboa.

A pandemia atrapalhou também os planos da turnê da Chimarruts, que começaria por Lisboa no dia 1 de abril e seguiria para Dublin, Londres, Barcelona e Madri. Organizada pelo produtor gaúcho Edu Santos, da Loop Discos, a tour foi cancelada logo que as primeiras informações sobre restrições de eventos começaram a surgir.

MERCADO AQUECIDO

A paralisação do setor cultural em Portugal por conta do coronavírus é grave não apenas por se tratar da porta de entrada para artistas brasileiros na Europa. Com uma comunidade brasileira que ultrapassa (em números oficiais) as 150 mil pessoas, o país nunca foi tão receptivo para os brazucas.

Piccoli, que há dez anos faz espetáculos de artistas brasileiros no Exterior, é um dos que atesta a crescente demanda em Portugal. “O mercado melhorou bastante nos últimos quatro anos, as casas de shows se abriram mais também, e percebemos mais contato de brasileiros em Portugal pedindo shows”, conta ele.

Na conta do produtor estão shows de Combo Cordeiro, Rubel, Kassin e Duda Beat no país, sempre com casa cheia – alguns com mais de uma sessão esgotada. “No caso do Rubel, foram shows para mais de mil pessoas. A Duda Beat deveria voltar este ano para uma casa maior também”.

Desde 2017, Edu Santos acompanhava satisfeito o crescimento da cena brasileira em Portugal, trabalhando artistas do seu selo, como a banda de folk Gelpi e a cantora Bibiana Petek. Morando em Lisboa desde junho do ano passado, começou a fazer shows também de outros artistas, alguns com excelentes resultados. “Fiz com o Flávio Passos, da Central de Bandas, o Tributo Tim Maia (projeto encabeçado pelo vocalista da Ultramen, Tonho Crocco) logo que cheguei e foi incrível, sold out total”.

CONTABILIZANDO PREJUÍZO

O impacto econômico do coronavírus em Portugal ainda é incerto, mas o governo português avalia, inspirado nos cenários da China e da Itália, perdas em torno de 4 bilhões de euros mensais. O prejuízo específico para a área cultural ainda não pode ser contabilizado, mas espera-se que, ainda nesta semana, o Ministério da Cultura anuncie medidas para apoiar o setor.

“Toda a indústria do entretenimento vai sofrer muito neste momento, os governos da Europa estão muito cautelosos”, avalia Edu. “Mas a chegada do verão aqui talvez ajude, porque é quando começam os festivais. Portugal tem 311 festivais e a maioria deles acontece entre junho e setembro”.

Piccoli também espera que a situação se defina o mais breve possível, mas ressalta que é preciso cautela e cooperação. “É importante que os produtores de eventos se conscientizem e ajudem na prevenção cancelando seus eventos. Sabemos que o prejuízo e a frustração é grande, mas é uma forma de sermos solidários com a situação para que se resolva rápido e possamos voltar a trabalhar logo”, pontua.

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