Ói Nóis Aqui Traveiz estreia espetáculo de rua “Ubu Tropical” na Redenção
A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz estreia seu novo espetáculo, Ubu Tropical, neste domingo (3/3), às 17h, no Parque da Redenção, próximo ao Monumento ao Expedicionário – acesso gratuito. A montagem tem como cerne o personagem Pai Ubu, criado por Alfred Jarry (1873-1907), e apresenta um diálogo entre a obra do dramaturgo francês e o contexto político brasileiro.
“O espetáculo é fruto de uma pesquisa que começa em 2021, na pandemia, e gera um seminário e dois processos criativos: a [intervenção cênica] Parada Ubuesca e o documentário Ubu Tropical. A montagem para teatro de rua é a quarta ação dessa investigação”, conta Tânia Farias, atuadora da Ói Nóis, destacando o tropicalismo e o modernismo brasileiro como referências que atravessam a concepção da montagem.
Na peça, em meio a um coro de bufões, o personagem Pai Ubu, incitado por Mãe Ubu, assassina o rei da Polônia e coroa a si mesmo para cometer uma série de atrocidades. Farias conta que a obra basilar do espetáculo é Ubu na Colina, pesquisada junto a outros textos de Jarry, como Ubu Rei, Ubu Cornudo e Ubu Acorrentado. “Jarry foi um grande percursor de todas as vanguardas do século 20 – surrealismo, dadaísmo, teatro absurdo – e da própria ideia de grotesco. Também nos chamou atenção a trajetória de Jarry, que se transformou em personagem da própria experiência estética e política e, ao final da vida, assinava como Ubu”, explica Farias.
“Nosso objeto era sobretudo a personagem, num momento em que a gente estava na pandemia, no governo do inelegível [Jair Bolsonaro]. Pai Ubu é o retrato do que o Brasil e vários países vivem com o avanço da extrema direita, com personagens grotescos que, um belo dia, saem do esgoto para vociferar coisas velhas, atrasadas, quase medievais”, afirma Farias.
“Buscamos retratar um pouco do que a gente estava vivendo, compreendendo que aquilo estava ligado também a ciclos da história que nos levam de novo, sem meias-palavras, a essa espécie de buraco”, completa a atriz. Também em diálogo com o contexto brasileiro, os bufões da peça entram em cena com figurino que remete à enxurrada do desastre ambiental de Mariana (MG), ocorrido em 2015.
Fruto de um processo pedagógico que envolveu 12 atuadores residentes, a montagem de Ubu Tropical faz parte do Projeto Arte Pública – Criação e Formação, uma realização da Fundação Nacional das Artes (Funarte) e do Ministério da Cultura, com recursos da emenda parlamentar da deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL).
O espetáculo reúne os atuadores Rafael Torres (Pai Ubu) e Helen Sierra (Mãe Ubu), além de Alex Pantera, Daniel Steil, Ellen Hiromi, Eugênio Barboza, Fabrício Miranda, Gengiscan, Jules Bemfica, Kayzee Fashola, Keter Velho, Lucas Gheller, Márcio Leandro, Marta Haas, Milena Moreira e Roberto Corbo – com Clélio Cardoso, Paulo Flores e Tânia Farias na técnica e contrarregragem.
Em março, mês em que completa 46 anos, a Ói Nóis Aqui Traveiz vai encenar o espetáculo Violeta Parra – Uma Atuadora na inauguração do Anfiteatro Violeta Parra, na escola do MST em Viamão. Em abril, dando continuidade às celebrações, o grupo planeja apresentar um espetáculo musical em homenagem ao músico e ator Zé da Terreira (1945 – 2023).
Ainda neste ano, o coletivo pretende resolver questões burocráticas e dar início à reforma de um espaço cedido pela Prefeitura de Porto Alegre, via Termo de Permissão de Uso (TPU), para se tornar a nova sede do grupo, na Travessa Carmem, 95, no bairro Floresta. Outro plano da tribo para 2024 é a inauguração do Museu da Cena Ói Nóis Aqui Traveiz em um espaço na zona sul da capital ocupado pela Associação dos Amigos da Terreira da Tribo por meio de edital do governo do estado.
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“Ubu Tropical”, da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
Quando: 3 de março, às 17h
Onde: Parque da Redenção, próximo ao Monumento ao Expedicionário (bairro Farroupilha – Porto Alegre)
Entrada gratuita
domingo, 03 a 03 de março de 2024 | 17h00
Parque da Redenção