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Coudet e Equatorial, faces da modernidade

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Coudet e Equatorial, faces da modernidade Foto: Ricardo Duarte / Internacional

A modernidade se define pelo culto do novo. Obsessão pela novidade como símbolo de qualidade. Se é bom, é novo. Se é novo, é bom. Ideologia cega e satisfeita com a sua cegueira, vive da certeza de expressar o melhor. Concepção circular, afirma-se como o bom por ser moderno. Muitas são as faces dessa visão de mundo egocêntrica e incriticável. Toda crítica é vista como ressentimento, atraso, anacronismo ou coisa de velho. O neoliberalismo se vê como moderno, eternamente novo. Uma das suas faces se exprime assim: privatiza que melhora, pois privatizar é moderno, logo é novo e, portanto, bom. No futebol, os neotáticos apresentam como novo um conjunto de práticas como jogo posicional, ou algo remotamente parecido com isso, controle da bola, saidinha de três e um amplo vocabulário pernóstico para dizer o velho com palavras novas e com isso dominar o campo de vendas.

Eduardo Coudet é a Equatorial do futebol no Rio Grande do Sul. Até agora os resultados são pífios, os apagões constantes, as quedas impressionantes e as decepções gigantescas. Mas, paradoxalmente, o governo continua dizendo que o serviço melhorou. Assim como parte dos torcedores e dirigentes do Inter pensam sobre o trabalho de Coudet. A CEEE, empresa estatal, era o velho. A Equatorial, privada, é o novo. Treinadores brasileiros, como o retranqueiro Mano Menezes, eram o velho. O argentino Coudet, neotático, é bom por ser o novo. Coudet é bom treinador, como tantos outros, nem mais, nem menos. Na média. Mano Menezes teve um ano bom no Inter, foi vice-campeão brasileiro contra todas as expectativas, e muito mal no segundo ano, novamente contra todas as expectativas. Caiu pelos maus resultados e por ser velho. Precisava mesmo sair. Não era mais a solução. Coudet voltou com base no pensamento mágico da modernidade. Continua patinando, mas é novo.

A ideologia da novidade enfeitiça. O South Summit é novo, tem nome em inglês, louva a alta tecnologia, que simboliza o próprio novo, mesmo que alguém desmaie no local por falta de ar-condicionado. O novo tem poder de fetiche: chama bico como motorista de Uber de empreendedor. Chama ataque no futebol de último terço. Expressa um desejo de mudar tudo para parecer diferente. Torcedor de futebol, como se sabe, entende pouco de futebol quando se deixa dominar pela ideologia do novo. Pressionado pelos fracassos, defende-se com o espantalho da volta do velho: “Quer o quê, a volta do Mano?” ou “Bom era a velha CEEE, né?” O novo rebate toda crítica como elogio do velho, que nunca pode ser melhor ou mais eficiente, pois é velho.

Nada impede que Coudet venha ganhar muitos títulos. O Inter buscou reforços que não estavam inscritos no Gauchão e que não participaram do fiasco contra o Juventude. É possível que um dia a Equatorial venha prestar um bom serviço. As cobranças obrigam a melhorar. Seja como for, o novo permanecerá como o ápice do melhor. O etarismo ideológico não perdoa: só o novo é moderno. Portanto, só o novo é bom. Como poderia o não moderno ser melhor do que a novidade?

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