Mão visível: pão, água, bicicleta, tramway
Água como cortesia é tradição na França | Foto: Acervo pessoal
Cada lugar com suas tradições. Na França, em qualquer restaurante, a garrafa de água da torneira chega junto com o cardápio à mesa do cliente. Em Montpellier, claro, não é diferente. O cestinho de pão gratuito vem com o prato pedido. Pode-se, inclusive, pedir mais pão. Não tenho notícias de infecções intestinais por causa da água. Porto Alegre pode fazer isso?
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A França, segundo reportagem do jornal Le Monde, enfrenta dois problemas importantes no momento: inflação alta (em torno de 5% ao ano) e baixa na qualidade da educação em nível fundamental e médio. O sinal de alerta já dado por especialistas em educação. Resta encontrar as medidas adequadas para virar o jogo. Quanto à disparada dos preços, o governo recorreu a uma lei da 1963 para permitir a venda subsidiada de combustíveis, o que significa não repassar para o consumidor as altas sucessivas do mercado internacional. Enfim, não é só no Brasil…
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A partir de 21 de dezembro de 2023, Montpellier terá transporte público (ônibus e tramway) gratuito para todos os seus habitantes. A medida busca diminuir a poluição, desestimular o uso cotidiano de carros particulares e favorecer a circulação das pessoas. O ponto central é a melhoria da qualidade do ar. O prefeito de Montpellier, Michaël Delafosse (Partido Socialista), comemora: “A gratuidade total dos transportes públicos é uma medida ecológica e social que favorecerá o poder de compra dos nossos cidadãos […] Queremos privilegiar a qualidade de vida, a cultura, esportes, nossas paisagens”. Na praça da Comédia, um relógio faz a contagem regressiva dos dias para a grande virada no transporte público.
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A bicicleta está em alta em Montpellier. A cidade anda transformada num grande canteiro de obras para ampliar linhas de tramway e abrir novas ciclovias. Em dois anos, o uso da bicicleta cresceu 14%. Os cofres públicos oferecem ajuda de 500 euros para quem quiser comprar bicicleta elétrica nova, 200 euros para uma usada. Estima-se que 40 mil pessoas serão beneficiadas até o final do ano. A população não perde tempo. Montpellier, com seus mais de 300 dias de sol por ano, pertinho do Mediterrâneo, é uma cidade universitária pulsante e cada vez mais destino de aposentados que querem fugir do cinza do norte do país.
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A França anda preocupada com o déficit de moradia. A grande Montpellier (Montpellier Metrópole) decidiu investir 100 milhões de euros num plano de urgência para a casa própria. O alojamento social terá uma injeção de recursos na ordem dos 20 milhões de euro. A ideia é facilitar o acesso à propriedade residencial com preços à altura das possibilidades de cada um. Se as autoridades locais se acham bem nas fotos, a população quer mais e melhor. O transporte público gratuito é uma grande aposta. Não será possível recuar. Foram feitos estudos detalhados de viabilidade.
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Outro ponto destacado pela administração local é a triagem do lixo. Entende-se que triar é dever do cidadão e não tem conversa. O lixo seco é recolhido em contêineres específicos; vidros em outro; plástico também vai separado. Conversar com amigos sobre triagem de lixo leva à seguinte resposta: “Quem não separa o lixo, contribui para a poluição”. A ideia que não para de se difundir é de uma simplicidade impactante: “A cidade é a casa de todos. Cada um precisa dar a sua contribuição para a vida comum”.
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Um dos mitos sobre a França diz respeito ao tamanho das porções da comida nos restaurantes. Há quem garanta que elas são mínimas. Em verdade, salvo talvez nos muito chiques, elas não têm nada de pequenas. Vejam.
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Montpelier continua a ser uma cidade de mediatecas, onde as pessoas podem ver ou pegar filmes, CDs, DVDs, música e livros. Embora a procura tenha caído um pouco em função do streaming, a frequentação continua alta, como na grande Mediateca Emile Zola, onde trabalha meu velho amigo Olivier Cathus. Há quem vá diariamente ver filmes em cabinas reservadas para isso.
Há filmes disponíveis para uma vida toda.
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Educação sexual é coisa séria na França. Não é algo para ser escondido de adolescentes.
Esses países “comunistas”, mesmo quando governados por liberais, são terríveis. Insistem que o Estado deve estar a serviço de todos.
Eles ainda têm muito a desaprender com o Brasil.
