Juremir Machado da Silva

Cem anos da última guerra civil gaúcha

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Cem anos da última guerra civil gaúcha

Em 1923, por um desentendimento sobre a interpretação de um artigo da Constituição estadual de 1891, os gaúchos encontraram-se novamente nos campos de batalha. Era isso e mais do que isso. A oposição estava cansada das reeleições de Borges de Medeiros e do controle do poder pelos Republicanos. A fraude na contagem dos votos era moeda corrente. A leitura divergente do texto constitucional foi pretexto para um acerto de contas. Era chegada a hora de virar a página e começar um novo tempo, o que exigiria um pouco mais de sangue nas coxilhas e de homens degolados de parte a parte.

A imprensa brasileira interessou-se fortemente pelo conflito, que estranhamente contou com a neutralidade do governo federal, como se não se tratasse de uma unidade da federação em luta armada, mas de um território independente a ser respeitado na sua decisão de resolver seus conflitos pelos meios militares. Neste livro, resultado das pesquisas dos integrantes do Grupo de Tecnologias do Imaginário (GTI), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e registrado no CNPq, visita-se o cenário da última guerra civil gaúcha a partir das coberturas dos jornais O Estado de S. Paulo, Correio da Manhã RJ) e Correio Paulistano. Mas também com base na literatura de Erico Verissimo e na repercussão do acontecimento nos Estados Unidos da América. O que se vê? O que surge desses olhares diferentes e distanciados geograficamente? Que imaginário transparece?

O leitor encontrará um universo rico em contradições, pontuado de notícias falsas e de pendor para o trágico. Em certo sentido, de modo complexo, todos tinham um pouco de razão e obviamente muito de desrazão. A oposição entendia que para ser reeleito o presidente do Estado deveria ter 75 % dos votos de todos os inscritos, de todo o eleitorado, mesmo dos que não tivessem ido votar. A situação entendia que se deveria considerar apenas os votos depositados nas urnas. Pegar em armas, em todo caso, parecia tão natural quanto discursar numa tribuna parlamentar ou publicar um artigo num jornal. Buscou-se aqui o olhar de fora e o olhar da ficção como forma de trazer para o presente outras narrativas sobre o passado. Quis-se, contudo, privilegiar também o olhar de um jornal do interior do rs, a Gazeta de Alegrete, onde os confrontos aconteceram. O que aquela época nos diz sobre nós?

(Apresentação do livro “Cem anos da Revolução de 1923: história, mídia, cultura”, organizado por Álvaro Nunes Larangeira e Juremir Machado da Silva, publicado pela editora Sulina, com sessão de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre neste sábado, 11 de novembro, às 19 horas).

Trecho

“Por que não afirmar de modo taxativo: a Revolução de 1923, última guerra civil do Rio Grande do Sul, foi um erro. Um erro de interpretação. Borges de Medeiros, presidente da Estado e chefe do Partido Republicano Rio-Grandense (prr), concorreu a um terceiro mandato consecutivo, o quinto em sua longa carreira de herdeiro de Júlio de Castilhos, o artífice da república positivista gaúcha. O artigo nono da Constituição estadual de 14 de julho de 1891 estabelecia que a reeleição só poderia acontecer com o “sufrágio de três quartas partes do eleitorado”. O artigo 43 da Constituição Federal de 1891 fixava que “o Presidente exercerá o cargo por quatro anos, não podendo ser reeleito para o período presidencial imediato”.

Cardápio completo

Apresentação – Álvaro Nunes Larangeira e Juremir Machado da Silva

Revolução de 1923: sangue e ruínas em jornal – Juremir Machado da Silva

A Revolução de 1923 nas páginas do Correio da Manhã (RJ) – Álvaro Nunes Larangeira

A repercussão da Revolução de 1923 nos Estados Unidos:a cobertura das revistas Time e Current History – Larissa Caldeira de Fraga

Percepções do jornal Correio Paulistano sobre a Revolução de 1923 – Pâmela Chiorotti Becker

1923: o imaginário da revoluçãona literatura de Erico Verissimo – Taíla Lopes Quadros

Gazeta de Alegrete: a eleição de 1922 111 – Beatriz Dornelles

Posfácio – Marcos Juliano Borges de Azevedo

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